Diz o senso comum que o iOS é um sistema operacional mais amigável à privacidade do usuário do que o Android — e, considerando as evidências coletadas ao longo dos anos e as novidades introduzidas no iOS 14.5, parece que esse é um daqueles raros casos em que o senso comum está de fato correto.
Pois recentemente, uma pesquisa do Trinity College [PDF] chegou para pintar este cenário com números: o estudo, liderado pelo professor de ciências da computação Douglas Leith, indicou que a quantidade de dados dos usuários coletada pelo Google no Android é cerca de 20x superior em relação às informações coletadas pela Apple dos seus usuários no iOS.
A pesquisa levou em conta dados coletados pelas empresas nos apps nativos dos sistemas, nas navegações dos usuários e também nos momentos em que os smartphones estão inativos. Segundo os pesquisadores, a Apple coleta dados de três apps ou elementos do iOS: Siri, Safari e iCloud. Já o Google abocanha informações de muito mais fontes: Chrome, Google Docs, Safetyhub, Google Messenger, a busca e até mesmo o relógio — mesmo se o usuário não estiver logado em uma conta da empresa.
Colocando a diferença em números, o Android envia, em média, cerca de 1MB de dados de cada usuário ao Google a cada 12 horas; enquanto isso, o iOS envia cerca de 52KB aos servidores da Apple no mesmo período. Considerando todo o universo de smartphones nos Estados Unidos, o Google coleta cerca de 1,3TB de dados a cada 12 horas, enquanto a Apple coleta cerca de 5,8GB.
O Google, entretanto, discordou da metodologia da pesquisa, afirmando que o envio de informações dos usuários às fabricantes é essencial para o funcionamento de qualquer sistema operacional e não deveria ser usado como métrica de privacidade. Ao 9to5Mac, a gigante enviou o seguinte comunicado:
Nós identificamos falhas na metodologia da pesquisa para medir volume de dados e discordamos das conclusões do estudo, de que o Android compartilharia 20 vezes mais dados que um iPhone. De acordo com a nossa pesquisa, essas conclusões estão erradas em uma ordem de magnitude, e nós compartilhamos nossas preocupações com os pesquisadores antes da publicação.
A pesquisa descreve basicamente como smartphones funcionam. Carros modernos enviam dados básicos sobre componentes do veículo, seu status de segurança e agendamentos de revisões às montadoras, e os smartphones funcionam de forma bem semelhante. O estudo detalha essas comunicações, que ajudam a certificar que o iOS ou o Android estejam atualizados, que os seus serviços estejam funcionando normalmente e que os aparelhos estejam seguros e rodando de forma eficiente.
Uma outra questão deve ser considerada: além das informações enviadas às fabricantes dos smartphones, usuários também têm que se preocupar (talvez mais ainda) com os dados que são compartilhados com apps de terceiros — afinal de contas, é neles que mora o “filé” do tráfego de informações pessoais (sensíveis, inclusive) e as ameaças de privacidade. E, nesse sentido, o iOS tem dado passos muito mais contundentes para evitar o compartilhamento excessivo de dados.