por Rodrigo Muchinelli Ramos, da MBE
A primeira implementação de um servidor, a gente nunca esquece. Eu era analista de suporte júnior e, junto de dois sêniores, virei um final de semana para instalar um Xserve G4 e um Xserve RAID para servir arquivos e impressão. Depois de algumas poucas semanas, foi decidido que o Xserve não ia mais gerenciar fila de impressão, pois eram constantes os travamentos durante o processamento de múltiplos trabalhos…
O ano era 2002 e o Mac OS X Server, conhecido na época pelo codinome Jaguar, estava na versão 10.2. A versão para dez clientes custava US$500 e a ilimitada, US$1.000.
Nove anos depois, a Apple lançou o OS X Server 10.7 Lion, que é vendido via download pela Mac App Store por menos de US$80.
Instalação
E tudo começa aqui…
Uma da grandes novidades do OS X Lion é a maneira através da qual ele é distribuído e instalado. O processo é simples e inusitado, e o Lion Server agora nada mais é que um pacote adicional que deve ser comprado e baixado separadamente. A pegadinha é que, mesmo após o download do OS X Lion Server, ainda é obrigatória uma conexão com a internet durante o processo de instalação, quando os demais componentes são baixados e instalados automaticamente.
O download, felizmente não demora muito.
Após o download, o processo de instalação ocorre automaticamente e em seguida é revelada a nova ferramenta de administração do OS X Lion Server, o Server.app. E é aí que começam os problemas…
Server.app
O Server.app é tão simples, mas tão simples, que chega a assustar! Daí você começa a se dar conta de que faltam configurações de serviços básicos como DNS, Open Directory e DHCP. Além disso, os serviços que existem possuem ajustes simplórios e botões ON/OFF, lembrando o painel de preferências do Time Machine. A primeira parte do problema pode ser resolvida baixando o Server Admin Tools — que, sabe-se lá por qual motivo, não é instalado no processo inicial.
Para contornar a exagerada frugalidade do Server.app, o jeito é partir para o Terminal e configurar serviços como PPTP, ajustes avançados de ACLs e do próprio Apache via linha de comando.
Server Admin; onde estão os outros serviços?!
ACLs só ordenam canonicamente! Aonde foi parar o Permissions Inspector?!
Novidades
A maior novidade do Lion Server é o Profile Manager, que gerencia de forma centralizada perfis de configuração — tanto para o OS X Lion quanto para dispositivos que rodam iOS. A implementação é simples e elegante, e a facilidade de configuração do MDM é impressionante! Em questão de minutos o serviço está ativo com o APNS devidamente configurado, sem a obrigatoriedade de uma conta de desenvolvedor da Apple.
Interface web do Profile Manager
O Profile Manager não possui todos os recursos de outras ferramentas de MDM disponíveis no mercado, mas atende perfeitamente ao que se propõe sem custar milhares de dólares e, principalmente, sem a complexidade de implementação comum aos demais produtos.
Para gerenciar versões anteriores ao OS X Lion, entram em cena o bom e velho Workgroup Manager e as políticas MCX.
Agora, o protocolo WebDAV saiu da obscuridade e faz parte dos protocolos de compartilhamento de arquivos, visando à comunicação com iPhones e iPads.
O Xsan, sistema de arquivos SAN de alta performance da Apple, foi incluído de graça no Lion Server. Pena que o excelente Final Cut Server não teve o mesmo destino…
Por fim, destaco a facilidade de trocar o hostname e endereço IP no Lion Server direto na GUI. Pode parecer trivial, mas quem já precisou alterar o nome ou o IP de um Mac OS X Server com changeip
ou scutil
sabe do que estou falando.
Nova GUI para trocar endereço IP e hostname; funciona muito bem!
Limitações e conclusões
Muito cuidado ao fazer upgrade do Snow Leopard Server para o Lion Server! É preciso entender muito bem os riscos e avaliar cuidadosamente o custo/benefício de uma migração desse porte. Posso garantir que o processo não é tão transparente como era na época da transição do Leopard para o Snow Leopard. Serviços como VPN, web e FTP tendem a não migrar da forma esperada ou simplesmente parar de funcionar!
A falta de documentação mais extensa sobre o novo sistema se torna um agravante. Só para ilustrar, a documentação do Snow Leopard Server era composta por 31 PDFs somado mais de 2.400 páginas. No Lion, esse número cai para menos de 600 páginas.
No Leopard Server, a Apple introduziu recursos sofisticados e a possibilidade de administradores de rede novatos na plataforma poderem gerenciar servidores sem maiores problemas, mas ao mesmo tempo administradores experientes continuavam a usar as ferramentas avançadas de gestão. No Snow Leopard Server, a Apple foi além e aprimorou brilhantemente esse conceito.
Wiki Server 3
Agora, no Lion Server, a Apple ficou perdida no meio do caminho.
A sensação é que não deu tempo de finalizar o Lion Server da forma pretendida. Fica a impressão de ser um produto ainda em desenvolvimento, que no decorrer dos updates será refinado. Alguma semelhança com o Final Cut Pro X, hein?
Em suma, quem tem Snow Leopard Server em produção, deixe-o como está — não há motivo para uma migração imediata. O Snow é extremamente robusto e ainda terá vida longa em muitas empresas.
Quem quiser usufruir dos novos recursos e/ou não pode esperar mais para migrar, faça com cautela e, se possível, teste-o ao máximo em um ambiente controlado antes de colocá-lo em produção.