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Até onde vai a estupidez humana? Brigas internas poderão sabotar app do New York Times no iPad [atualizado]

Por que acessar um site gratuito, se eu posso pagar US$30/mês?

Quando você acha que a ignorância dos “homens de negócios” chegou ao limite, aparece uma história e prova que a desgraça está apenas começando. Veja o caso dos jornais: quem ainda lê esses artefatos de papel que mancham os dedos e, depois de um tempo, acabam forrando gaiolas de passarinho? Vou reformular a pergunta: quem paga para ter notícias impressas, quando qualquer computador ligado à internet pode fornecer os mesmos textos (ou outros de conteúdo similar) de graça?

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Por que acessar um site gratuito, se eu posso pagar US$30/mês?

Os figurões do The New York Times, provavelmente achando que a desgraça das mídias impressas ainda é pouca, estão prontos para jogar uma pá de cal em cima de um modelo de negócios retrógrado e cobrar algo por volta de US$20–30/mês pelo acesso ao jornal no app para iPad demonstrado na keynote “Latest Creation”. Vou repetir: US$30 para ter acesso ao conteúdo do jornal, sendo que os gastos com impressão e transporte são nulos e o mesmíssimo conteúdo permanecerá gratuito no site oficial até pelo menos 2011.

Essa ideia maravilhosa teria vindo dos fósseis mentais no departamento de circulação do jornal, que imaginam, num acesso de brilhantismo, que um preço hediondo desses será o bastante para proteger as assinaturas convencionais. Tipo, a mesma coisa que o governo faz, sobretaxando qualquer produto importado para favorecer a indústria nacional — e a nossa produção de equipamentos com tecnologia de ponta tá aí pra provar o quanto isso dá certo e como a sonegação não é praticada, pois os brasileiros compram tudo Made in Brazil.

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Provando que ainda há vida inteligente no NYT, o pessoal do departamento de operações digitais sugere que o custo seja de “apenas” US$10/mês, além de não querer que o povo da circulação impressa tenha controle sobre o marketing e preços do produto (como faz com a edição do Kindle). Isso ainda é meio burro, pois o site (que pode ser acessado no Mobile Safari) é gratuito — mas por que não repetir a estratégia de sucesso da Wolfram? Mas ok, considerando que o app será uma versão turbinada do site, US$100/ano parece uma excelente pedida — eles vão dar desconto para assinatura anual, não vão? Digo, eles pensam, né?

O debate entre os executivos que se reuniram com Steve Jobs e sua cartola foi grande, tendo ido até o mais alto escalão do jornal, a ponto de o presidente Scott Heekin-Canedy demonstrar predileção por uma das iniciativas. Adivinha qual ele apoia! Pelo que dizem, é a cobrança de US$20–30/mês — eu espero que seja mentira, pois ainda tenho fé na superioridade da razão sobre a ganância.

Meu recado é: as pessoas não querem mais se sujar com tinta e ver informação ancorada à mesa de centro. Ter um jornal no iPad pode ser uma coisa tão fantástica para leitores e anunciantes que fica difícil entender como as pessoas mais interessadas no sucesso de um produto podem querer sabotá-lo de maneira tão draconiana. Uma edição impressa em 2010 vai ter sempre os mesmos anúncios e vai começar a cheirar mal e criar mofo depois de um tempo. Uma edição digital vai poder ser acessada infinitas vezes e ter sempre os anúncios mais recentes de seus clientes — sem falar que ela será “eternamente jovem”, as imagens não vão desbotar ou borrar e as pessoas estarão com ela o tempo todo. Tem o que pensar, agora que estamos no “futuro”, no século XXI?

Mas pra que criar uma coisa nova, emocionante e dinâmica? Pra que investir nas novas gerações de leitores, estimulando-os a comprar/ler jornais? Pra que dar uma cara nova a um produto que está preso numa espiral da morte, se podemos simplesmente cobrar o preço mais alto possível e fazer de conta que estamos trabalhando duro para sustentar uma mídia que está com os dias contados? Pra que usar um modelo de negócios novo, numa economia que passa por crise em cima de crise? Por que aprender com o passado e com os erros da indústria da música, se podemos fazer o equivalente a tentar continuar vendendo CDs enquanto as pessoas pirateiam faixas via torrents até abarrotarem seus HDs com canções que nunca ouvem?

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Pra que usar a razão, se a ganância é mais divertida?

And that, as they say, is that.

[via Gawker]

Atualização

Acho que não deixei meu ponto de vista claro o bastante. Apesar de acreditar que muitos produtos digitais podem (e deveriam) ser gratuitos, não estou dizendo que o NYT deve, obrigatoriamente, distribuir seu conteúdo de forma gratuita, sustentando-se apenas com a renda oriunda de anúncios. Meu ponto de vista é de que não faz sentido o preço de um jornal impresso ser o mesmo do de uma edição digital, tendo em vista que esta:

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  1. Não pode ser revendida, repassada ou reutilizada, por conta de DRM;
  2. Não tem custos de reprodução e entrega por parte do jornal, e
  3. Pode ser multiplicada infinitamente, reduzindo a margem de lucro para atingir uma quantidade maior de leitores.

O jornal deve cobrar por uma assinatura? Evidentemente que sim! Agora, o jornal deve cobrar por uma assinatura digital o mesmo que por uma convencional, sendo que é o mesmo conteúdo distribuído por um meio muito mais barato? Minha resposta é “não”. E mais: faz sentido cobrar por um conteúdo que é publicado gratuitamente na internet? Eu não acho inteligente ou honesto: o conteúdo pago deve ter qualquer coisa que justifique o investimento do consumidor, seja a ausência de anúncio ou os recursos extras, como ocorre com software.

Espero ter esclarecido esses pontos.

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