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Resenha: o iPad poderá ser o seu próximo computador. Ou não…

Colaborou: Breno Masi

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Depois que um de nossos colaboradores conseguiu obter um iPad logo no dia do seu lançamento nos Estados Unidos, não demorou muito para nós nos reunirmos em São Paulo a fim de elaborar uma resenha sobre ele para o MacMagazine. Enquanto passei um bom tempo analisando o produto, acho que consegui compreender os motivos pelos quais muita gente se impressionou ao ter contato com ele, além de analisar o que a tablet pode oferecer para as pessoas visando substituir, em determinadas situações, um laptop ou smartphone.

Por fora, a tablet da Apple não diz muito além do que é possível encontrar em um iPhone ou iPod touch — e com razão, porque o verdadeiro fator de destaque dela é o seu software, partindo desde o sistema operacional até os primeiros milhares de apps que já podem ser encontrados na App Store. Trata-se de uma combinação com potencial para expandir as capacidades de um smartphone como o da própria Maçã, mas em um formato mais portátil que o de um MacBook, mas podendo habilitar as mesmas funções básicas de comunicação e entretenimento digital.

Ao ser chamado para ver o iPad pela primeira vez, não fui com a expectativa de achá-lo revolucionário, mas sim com a curiosidade de terminar de usá-lo e perguntar a mim mesmo: “Quais tarefas do meu dia-a-dia podem se tornar mais produtivas com ele?” Isso não inclui apenas o uso de planilhas ou slides, mas também outras coisas que nós, usuários, temos costume de fazer em termos profissionais e domésticos, incluindo a diversão. Para isso, o que você lerá nos próximos parágrafos é uma análise do que a Apple colocou nesse novo pacote de hardware e software, com o objetivo de chamar nossa atenção para ele.

Navegando pela internet

Abrir o Safari no iPad para navegar por vários sites traz à tona diversas opiniões diferentes, que podem gerar diferentes conclusões dependendo de que tipos de conteúdo você está habituado a ver na internet. Para muitos portais, blogs e sites de notícias, o dispositivo pode ser muito legal para leitura e visualização de imagens, pois a sua tela de alta qualidade e maior resolução em relação à de um iPhone realmente torna essa tarefa interessante.

Nem todos os sites da web podem ser visualizados na tablet no seu tamanho padrão — a tela do dispositivo possui um máximo de 1024 pixels de largura, e há muitos sites que ultrapassam esse valor. Por causa disso, em algumas situações eu me senti um pouco frustrado ao ter que centrar a visualização do gadget a um pedaço da página — algo que, na teoria, não precisaria ser feito fora de um smartphone. Mas mudei de opinião algumas vezes, quando encarei alguns portais de notícias que colocam o texto principal em uma coluna bem grande ao centro.

O que eu sugiro aqui é que sites sejam visualizados no modo paisagem, o que diminui a necessidade de você aplicar toques duplos e pinch-to-zoom para focar atenção em certas áreas de um site nas dimensões originais. Para isso, a Apple mandou bem ao incluir uma função de travar a orientação do conteúdo na tela, que pode ser habilitada por meio de um alternador acima dos botões de volume.

Logo ao usar o iPad para navegar na internet, já notei que digitar nele com um teclado virtual é bem interessante. Eu tenho os dedos grandes, as teclas virtuais assumem um tamanho um pouco maior do que as do meu MacBook (e, é claro, _bem_ maior que as do teclado de um iPod touch), o que chegou a reduzir minha tendência a errar palavras. Só leva um tempo até você esquecer do teclado numérico e do meio antigo de fazer pontuações (podem rir: eu fiquei tentando achar essas teclas como se fosse no meu Mac :-P), mas isso não influencia muito na hora de digitar endereços ou fazer buscas.

Vídeo em HTML5 até funciona bem no iPad, mas muitos sites ainda estão presos ao Flash Player

Em outros aspectos, porém, o Safari para o iPad poderia ter ficado menos iPhone-like numa tela de maior resolução. Você pode colocar sua barra de favoritos abaixo dos controles de navegação, mas, se for muito habituado ao uso de abas num browser desktop, o conceito de “múltiplas páginas” que a Apple impôs ao aplicativo não vai agradar muito — sem falar em outras coisinhas pequenas, como navegar pelo histórico através do botão voltar do Safari. Mas isso não é nada que seja difícil de se habituar ao ter um iPad em mãos, no dia-a-dia.

Comunicação e agenda

São poucos os casos em que email, contatos e agenda não convergem ao se usar o iPad. Com o advento das contas Exchange, Gmail e MobileMe, configurar esses dados adequadamente no dispositivo é fácil e rápido como no iPhone ou no Mac OS X Snow Leopard, exigindo apenas a digitação do nome de usuário e senha. Caso você precise configurar outra conta de email além dessas, isso requer passos extras, mas nada muito complicado — entretanto, sincronizar contatos e compromissos poderá depender do uso do seu Mac com a tablet conectada ao iTunes.

Ler emails na tablet é interessante porque você fica bem concentrado no conteúdo das mensagens, independentemente de estar no modo retrato — que coloca toda a mensagem ao seu alcance, com um popover adicional para mostrar os demais emails na mesma pasta — ou no modo paisagem — que coloca a mensagem inteira à sua disposição, com a lista de emails de uma pasta à esquerda. Assim como no caso do Safari, leitura e visualização de imagens são duas tarefas que combinam muito bem com o Mail no iPad.

Agora, quando a coisa muda para compor emails, eu encarei dois problemas no iPad. O primeiro refere-se a encontrar uma boa posição para digitar — algo que não vale apenas para digitar mensagens longas no Mail, mas também para notas e outros textos longos em qualquer app. Se você não colocar a tablet em algum tipo de keyboard dock, stand ou algo do gênero, é difícil achar uma posição ergonômica para digitar por um longo tempo — colocar no colo não é negócio, já aviso! Daí o motivo pelo qual vários guided tours da tablet mostram gente digitando com os pés para cima.

O segundo problema tem relação com o próprio ato de digitar e afeta usuários em alguns idiomas, mas vamos nos referir apenas ao Português do Brasil nesse caso. Simplesmente não há um corretor ortográfico para o nosso idioma! :-/ Aliás, a lista de idiomas suportados para correção de ortografia ou gramática na tablet é bem pequena — taí o motivo de ela não estar disponível no Brasil, pelo jeito.

Por outro lado, os usuários possuem acesso a diversos tipos de opções para customizar teclados em qualquer idioma, conforme já relatamos no site há algum tempo. Elas são bem úteis e abrangem a escolha de layouts virtuais e físicos de teclado, que o atenderão dependendo de como for usar a tablet — teclados físicos, por exemplo, podem ser usados via Bluetooth.

Indo além do Mail, o iPad oferece belas soluções para usufruirmos de contatos e calendários com maior produtividade. No caso do aplicativo Contatos (Contacts), não há diferenças em relação ao do iPhone, além da sua interface gráfica, que foi redesenhada para a tablet — aqui, beleza é a única coisa que conta, pelo jeito.

Talvez o mesmo também seja válido para o app Notas (Notes):

Por outro lado, eu não digo o mesmo do app Calendário (Calendar). A mudança drástica no visual fez muita diferença no caso dele, concedendo maior espaço para acesso a longas listas de compromissos, notas de compromissos e uma visão geral deles em alta resolução. Devido ao fato de que eles são criados para oferecer acesso a conteúdo que muitas vezes é criado em um Mac, PC ou servidor corporativo, eles cumprem muito bem a tarefa de visualizar informações com detalhes, mas a funcionalidade básica para criação de compromissos também está disponível.

Visualizando fotos

Devido à falta de câmera no iPad, visualizar fotos nele vai além do iPhone e do iPod touch em apenas três aspectos — considerando que não estejamos nos referindo ao iPhone OS 4.0, lançado recentemente em preview de desenvolvimento. O primeiro é a interface de usuário criada pela Apple para a tablet, que disponibiliza alguns gestos multi-touch conhecidos e os recursos Faces e Places, similares aos do iPhoto e do Aperture.

Já o segundo é o suporte à conexão de câmeras com um acessório, o Camera Connection Kit. Embora seja vendido separadamente, ele compensa a falta de um leitor de cartões SD integrado diretamente a tablet, mas ainda não foi disponibilizado pela Apple a tempo dos nossos testes. No momento, é possível sincronizar fotos com o dispositivo apenas a partir de um Mac ou PC.

Por fim, vem o suporte à criação de slideshows, destinados a expandir a experiência de visualização de fotos na tablet. Conforme já foi mencionado, um botão na tela de lock do dispositivo suporta que eles sejam gerados mesmo quando o gadget não é usado, o que também faz do iPad um porta-retratos.

Música

Considerando que o iTunes no desktop já possui um visual sólido e indistinguível, o aplicativo iPod para a tablet da Apple sugere algumas melhorias que poderiam ser aplicadas a ele no futuro. Não estou dizendo que ambos poderiam ser iguais, mas a interface de usuário que a Apple concebeu para ele no iPad é no mínimo inspiradora.

É simples navegar por músicas, artistas e compositores em uma lista, como é de se esperar no iTunes para o desktop. Mas quando se trata de ver o seu conteúdo por álbuns, o iPad oferece um grande salto em usabilidade, usando animações tridimensionais para exibir as músicas de um determinado álbum sem tirar o usuário da biblioteca principal.

Ao selecionar uma música para execução, o app envia o usuário para a visualização da capa do álbum correspondente em alta resolução — sugerindo uma visualização de outras músicas do mesmo álbum, criação de listas Genius, etc.

É aqui onde surge um problema do aplicativo: enquanto os downloads da iTunes Store oferecem artes gráficas de 512 pixels de largura, o iPad as expande para 768 pixels, o que pode mostrar distorções bem óbvias nas imagens. Aparentemente, a Apple não está com muito interesse em resolver esse pequeno probleminha, ao menos por enquanto.

Vídeo e iTunes

No iPad, há duas maneiras nativas de obter vídeos. No YouTube, a mesma facilidade de uso do aplicativo para iPhone está disponível, mas com o diferencial de ser possível visualizar conteúdo em alta definição na tablet.

Também é possível transferir vídeos a partir do iTunes em um Mac ou PC da mesma forma com iPhones e iPods touch, mas uma das coisas que a Apple realmente quer tornar popular nesses aparelhos é a possibilidade de usá-los para obter esse tipo de conteúdo online, assim como músicas. Para isso, a iTunes Store também foi redesenhada para a tablet, permitindo não apenas que músicas sejam adquiridas, mas também filmes, programas de TV, podcasts e conteúdo universitário, sendo HD ou não.

App Store e aplicativos de terceiros

Ao contrário da App Store em desktops e iPhones, a sua versão para o iPad automaticamente coloca apps para a tablet ao alcance dos usuários — no desktop é possível mudar isso manualmente; nos dispositivos móveis, não. No momento, a variedade de escolha para o dispositivo já é muito grande, sendo ainda possível encontrar muitos produtos que funcionam perfeitamente nas duas categorias de aparelhos.

Eu testei alguns aplicativos criados especificamente para o iPad e fiquei animado com o resultado de muitos deles. O Breno ilustrou um artigo anterior dele sobre a tablet com alguns, e a seguir estão imagens daqueles de que eu gostei:

Adobe Ideas
The New York Times
Tap Tap Radiation
We Rule!
Weather Forecast
Fieldrunners HD

No entanto, a tablet também suporta todo o catálogo de apps criados para o iPhone e o iPod touch, mas isso vem com certas complicações. As mais comuns para todos os aplicativos estão relacionadas com a resolução em que eles são criados para dispositivos menores.

Peguemos o Opera Mini 5, lançado ontem na App Store, como exemplo:

Ele funciona as is em tamanho original no meio da tela da tablet, assim como no iPhone. Mas se eu decidir usar o botão “2X” para expandir o app em tela cheia, o que acontece é isto aqui:

Em resumo, os aplicativos para iPhone funcionam na tablet em alta resolução, mas com uma qualidade gráfica bastante reduzida. Isso ocorre porque esses aplicativos são criados com arte gráfica que é exatamente criada para preencher o espaço da tela de um iPhone, pixel por pixel, tornando certos conteúdos difíceis de serem lidos/visualizados em uma tela como a do iPad.

De uma certa forma, a Apple resolveu esse problema para desenvolvedores de aplicativos no Mac OS X Leopard, quando lançou uma tecnologia de Resolution Independence para permitir que desenvolvedores criem interfaces em diferentes resoluções, usando TIFFs e PDFs vetoriais em pequena resolução como controles para aplicativos. Mas o resto desse suporte depende do sistema operacional, que deve ser adaptado para que texto e gráficos 2D se comportem em alta resolução por meio de redimensionamento automático, quando possível.

Fora isso, nem é preciso dizer que aplicativos que tiram proveito da câmera não funcionam no iPad.

iBooks

Leitura de livros é uma das tarefas que a Apple mais tem promovido para sua tablet, visando atacar a preferência de muitos usuários pelo Kindle, da Amazon. Nós planejamos juntar ambos em um comparativo sobre o assunto no futuro, mas agora vamos falar a fundo apenas do iBooks, aplicativo criado pela turma do Steve Jobs para o iPad.

Pessoalmente, eu não gostei nem um pouco da atitude da Apple ao não incluí-lo por padrão na tablet. Tudo bem que é de graça, mas o sentido de fazer dele um produto avulso e limitar a disponibilidade da iBookstore para os Estados Unidos não é lá muito aceitável. Trata-se de algo que já oferece desvantagem técnica em relação à Amazon e ao Kindle, em termos de mercado.

Por outro lado, a qualidade do iBooks como leitor de livros digitais é muito boa. Além de ser possível ler livros em cores, também pode-se usufruir dos recursos do iPhone OS para buscar por todo o texto em uma obra, ou pela web no Google ou na Wikipédia. São coisas bem úteis à disposição de quem lê constantemente.

iWork

Por enquanto, não há nenhuma suíte de produtividade que tire tanto proveito dos iPads quanto a da própria Apple — na realidade, mal sabemos se haverá outras além desta. De fato, os três aplicativos dela (processador de textos e editores de slides e planilhas) realmente são bem robustos para quem é habituado a criar esses documentos com um computador convencional, o que torna difícil saber se outros produtos da categoria conseguiriam se equiparar ao nível de facilidade de uso e conjunto de recursos oferecidos pelo iWork.

Embora tenham tarefas distintas, Keynote, Pages e Numbers são parecidos em alguns aspectos, o que os faz se completarem mesmo estando disponíveis em produtos independentes na App Store. Os três possuem praticamente a mesma interface para escolha/gerenciamento de documentos, bem como template choosers para criação de novos documentos.

Neste último caso, não há como saber se a Apple apoiará o desenvolvimento de temas por terceiros, algo que faz a diferença para muitos usuários de Mac — afinal de contas, eles são destacados até mesmo pela própria Apple. Mas os modelos que vêm por padrão nos apps são bons pontos de partida para a criação de documentos, que podem começar em um iPad e terminar num Mac, ou vice-versa.

No que diz respeito a isso, qualquer app para iPhone OS pode obter acesso a documentos no desktop via iTunes, quando suportado pelo seu desenvolvedor. Basta usar a mesma guia de apps pela qual os softwares podem ser adicionados a qualquer gadget da Apple com o sistema.

Infelizmente, esse é o único jeito de importar arquivos de um Mac para os apps do iWork na tablet. Nem mesmo o download de documentos já existentes no iWork.com é suportado pela empresa, que permite apenas a exportação direta deles para um email ou para o próprio serviço através da internet. Fora isso, todas as operações de exportação genérica para outros meios (incluindo suporte aos formatos PDF e Microsoft Office) devem ser feitas via iTunes com um computador.

No que diz respeito ao potencial dos três aplicativos como membros de uma suíte de produtividade, o que eu notei ao interagir com eles no iPad é que oferecem a maioria das funções que praticamente qualquer usuário precisa diariamente — isso não quer dizer que eles tenham tudo do iWork no Mac, mas há muitas possibilidades de criação de conteúdos. Por outro lado, quem exige o máximo dos softwares dessa categoria não se dará muito bem com a falta de recursos bem específicos (como o suporte ao MathType e ao EndNote no Pages, por exemplo), mas para a edição de documentos comuns numa tablet eles realmente não farão muita falta.

E agora? Compro ou não?

Sinto muito se não deu para falar mais sobre o iPad, mas imagino que nossa série de impressões iniciais e o próprio unboxing que realizamos possam acabar com outras dúvidas que vocês provavelmente possuam. Mas muita gente veio comentar comigo — principalmente por meio do Twitter — se eu recomendaria o uso da tablet da Apple no dia-a-dia.

A verdade é que, como usuário, eu não tenho a capacidade de dizer isso ou aconselhar as pessoas a evitar esse produto.

iPad visto de baixo, deitado e grande

O que o faz diferente e “legal” é que ele propõe meios totalmente novos de consumir conteúdo e realizar diversas tarefas diárias. Para quem consegue se habituar facilmente a mudanças nos pontos que abordei em meus testes, será difícil viver longe desse dispositivo após começar a usá-lo. Mas cabe a cada um descobrir como um iPad pode fazer diferença em suas vidas, principalmente em um mundo tão cheio de produtos que podem ser melhores do que ele em tarefas independentes, dependendo das suas necessidades.

“Ah, mas você disse isso porque o achou um iPod gigante!” É claro que não. Isso apenas seria válido se todos os aplicativos e o sistema da tablet tivessem seguido a regra do “2X” ao pé da letra em relação a um iPod touch ou iPhone. O seu hardware abre diversas possibilidades para criação de aplicativos específicos, de forma que a comunidade de desenvolvedores da Apple já está fazendo o seu trabalho ao nos proporcionar exclusividades através dele. Com o tempo, elas formarão uma plataforma cada vez maior para distribuir conteúdo e oferecer facilidades aos usuários, mas isso é uma questão de esperar pelo surgimento das soluções certas que façam o que você deseja.

Em poucas palavras, eu acredito que o iPad expande drasticamente o que é possível em um smartphone e, ao mesmo tempo, dá maior foco às tarefas possíveis em um laptop. O problema é que nem sempre isso agrada a todos; por isso eu sugiro que você coloque as mãos em uma unidade dele quando puder (e antes de comprar). É só usando um produto como esse por algum tempo que é possível sentir onde e como ele pode tornar sua vida melhor.

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