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Você já se perguntou o porquê de todas as assistentes digitais terem vozes femininas? A resposta pode ser desconfortável

Dê uma olhada em sua volta. Pegue seu iPhone, seu smartphone com Android, seu Windows Phone e seu Amazon Echo (eu sei que você não tem estes dois últimos, é só licença poética) e ative suas assistentes digitais. Responderão prontamente a Siri, a Assistente Google, a Cortana e a Alexa. Notou algo em comum entre elas?

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Pois é: todas as principais assistentes digitais do mundo tecnológico são representadas, como eu mesmo já evidenciei no título deste post e na quantidade enorme de artigos femininos empregados até agora, por vozes de mulher. Poderia ser tudo uma curiosa coincidência, mas, como conta a colunista [matéria exclusiva para assinantes] do Wall Street Journal Joanna Stern, não é bem assim.

Siri no iOS 9 em um iPhone e no watchOS2 num Apple Watch

De acordo com estudos da Universidade de Indiana citados pela reportagem, tanto homens como mulheres preferem a voz feminina nas suas assistentes digitais — fato confirmado por Microsoft e Amazon em pesquisas próprias. Segundo os dados obtidos, esta preferência pode estar ligada simplesmente à imagem materna adquirida pela mulher ao longo da história; supostamente, as vozes femininas seriam mais acalentadoras, calmantes e cuidadosas aos ouvidos dos seres humanos por conta desta predisposição histórica.

Entretanto, outros fatores, digamos, mais controversos podem estar ligados a esta preferência. Os estudos citam os papéis subalternos historicamente associados às mulheres — assistentes, secretárias, governantas ou ainda algumas ocupações bem horríveis se voltarmos mais no tempo — como razões para que nos sintamos melhores e mais confortáveis interagindo com uma “assistente” digital feminina.

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E não para por aí. Outro estudo, este realizado pela Universidade de Stanford, revelou que a preferência por vozes masculinas ou femininas depende do assunto que está sendo tratado: enquanto nós preferimos uma voz de homem para nos falar, por exemplo, sobre computadores, se o assunto é amor e relacionamentos nós temos a tendência a preferir os conselhos de uma voz de mulher. Por isso, a Domino’s preferiu colocar um assistente “masculino” no seu aplicativo de pedido de pizzas — aparentemente, a voz de homem passa uma maior ideia de precisão e confiabilidade. Vamos falar sobre estereótipos? 😏

É bem verdade que, dentre as quatro assistentes principais do mundo, apenas a Siri traz a opção de mudar o “gênero” da voz — embora em quase todos os idiomas a voz feminina seja padrão. Joanna Stern faz uma proposta para que os usuários de iPhone mudem a voz da Siri para o masculino para quebrar estereótipos, mas eu vou por outro caminho aqui. Estou falando de “gênero” enquanto escrevo sobre assistentes robotizados que, obviamente, não possuem órgãos reprodutores. Não soa ridículo? Há mesmo a necessidade de atribuir características masculinas ou femininas a esses personagens?

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No clássico da semiologia “Mitologias”, Roland Barthes destrincha alguns elementos absolutamente corriqueiros e inerentes ao nosso cotidiano que, invisivelmente, carregam na sua construção ideologias e paradigmas fortíssimos. Estivesse Barthes vivo, as assistentes digitais certamente seriam um objeto de seu estudo: como uma coisa aparentemente tão mundana pode reforçar um estereótipo tão longamente mantido — e, aqui eu adiciono, tão prejudicial a alguns? Temos aqui mais um caso em que seria benéfico dar uma quebrada no status quo.

[via 9to5Mac]

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