Cá estamos nós (antes tarde do que nunca) para falar um pouco da Apple TV 4K, a set-top box lançada pela empresa em setembro de 2017 e que — finalmente —, como o nome indica, traz uma novidade aguardadíssima: suporte tanto a conteúdos 4K (resolução de 3840×2160 pixels) como também a HDR10 (High Dynamic Range, ou Grande Alcance Dinâmico).
Antes de embarcar nessas duas grandes novidade do novo modelo, porém, vamos passar pelas mudanças mais sutis. Mas, aqui, um aviso: a Apple TV 4K é um upgrade bastante específico e pontual da Apple TV de quarta geração. Esta, sim, mudou bastante comparada à sua antecessora, trazendo novidades como um sistema operacional novo (tvOS), uma loja de apps (App Store), um novo controle remoto (Apple TV Remote), etc.
Se você não leu o nosso review da Apple TV de quarta geração, publicado no finzinho de 2015, sugiro que o faça — até para ter um entendimento melhor deste artigo.
Vamos lá?
Visual e especificações técnicas
Por fora, temos basicamente a mesma caixa preta com 35mm de altura, 98mm de largura, 98mm de espessura e 425g. O que muda é que, agora, temos uma entrada/saída de ar circular na base do aparelho, que serve para resfriar a Apple TV. O motivo disso é simples: a troca do processador A8 por um A10X Fusion, destinado a dar conta de todo esse grande processamento de imagens 4K/HDR).
Na parte traseira, temos uma HDMI 2.0 (em vez de 1.4), uma Gigabit Ethernet (em vez de uma Ethernet 10/100BASE-T) e a entrada para o cabo de energia. Aqui vai o meu primeiro aviso: como a Apple TV não vem com um cabo HDMI na caixa, certifique-se de comprar um que seja 2.0, compatível com 4K/HDR10. De nada adianta ter a Apple TV 4K, uma TV de última geração e um cabo de baixa qualidade. 😉
Mas voltando à disponibilidade das portas, uma ausência notável é a USB-C utilizada para serviços e suporte (sim, ela não está mais lá e tudo agora é feito por conexão sem fio — inclusive conectar ao Xcode para capturar screenshots e fazer gravações de vídeo, além de rodar ferramentas de diagnóstico).
No quesito conectividade, as novidades são duas: sai o Bluetooth 4.0 e entra o 5.0; além disso, a Apple TV 4K conta com Wi-Fi 802.11ac com MIMO (como a Apple TV de quarta geração). A diferença é que, na 4K, as duas frequências (2,4GHz e 5GHz) trabalham simultaneamente. No mais, continuam lá o receptor infravermelho e a saída de som surround Dolby Digital Plus até 7.1.
Controle remoto
O controle remoto continua o mesmo. Para não dizer que ele é exatamente igual, o botão “Menu” ganhou um contorno branco em alto relevo para resolver um problema que foi motivo de crítica no nosso review da Apple TV de quarta geração: como os botões ficam centralizados verticalmente, era um pouco difícil, sem olhar, saber para onde o controle está apontando. Agora, com esse contorno, você consegue distinguir.
No mais, ele continua com seus prós (botões de volume funcionando perfeitamente para controlar o som da TV; não é preciso apontar o controle para a Apple TV para que ele funcione; ao ligar a Apple TV, a TV é ligada — inclusive já selecionando o input dela, caso você tenha mudado isso na última vez que usou a TV) e contras (ainda é feito de vidro, então, se você deixar cair, tem grandes chances de quebrar).
Uma decisão muito correta da Apple — e que não mudou, já que o controle continua praticamente igual — é exigir que o usuário aperte fisicamente a superfície touch para que ela sirva como um botão. A empresa poderia fazer como faz nos trackpads, nos quais basta você tocar na superfície de vidro para que ele simule um clique e faça a determinada ação. Isso, porém, prejudicaria muito a navegação, com toques acidentais acontecendo a todo momento.
App para iOS
Não se acostumou com o controle remoto ou ele está perdido pela casa? Sem problemas! A Apple criou um app para que donos de iPhones e iPads possam controlar a sua set-top box diretamente dos seus gadgets.
Desculpe, app não encontrado.
A ideia, aqui, é pegar tudo o que é possível fazer no controle remoto e colocar dentro do seu iDevice. Na verdade, a experiência vai um pouco além, já que pelo iPhone/iPad você consegue digitar senhas ou fazer buscas de uma forma muito mais simples, digitando no teclado virtual em vez de ficar catando letras na tela da sua TV com o controle físico.
Vale notar, porém, que não é preciso ter o aplicativo Apple TV Remote no seu iPhone/iPad para tirar proveito disso: se você estiver usando o controle físico e se deparar com um formulário (e tiver com o seu iPhone/iPad na mesma rede Wi-Fi e bem ao seu lado), uma notificação aparecerá no seu dispositivo para que você digite a senha ou escreva o nome do filme que está buscando pelo aparelho, já que por ali é muito mais fácil.
Outra alternativa, presente no iOS 11, é adicionar um “widget” da Apple TV na própria Central de Controle. Ele é um pouquinho mais limitado que o app independente, mas dá pro gasto na maioria dos casos.
Nada de Siri, ainda…
Pois é. Muito da interface do tvOS e da forma como interagimos com conteúdo foi pensado para ser utilizado pela Siri. Coisas como buscar um conteúdo nos catálogos de serviços como iTunes Store, Netflix e/ou HBO GO, reproduzir uma determinada música no Apple Music, achar filmes/séries estrelados por um determinado ator, avançar/retroceder o conteúdo assistido, entre outras muitas coisas se tornam mais prazeirosas interagindo com a assistente virtual em vez de simplesmente apertando botões.
Isso, contudo, ainda é uma realidade distante da nossa. Não há nenhum sinal da chegada da Siri em português na Apple TV, então só nos resta esperar e alertar que, sem ela, toda a experiência com a Apple TV de quarta geração e a Apple TV 4K é, sim, bastante prejudicada.
Capacidades
Assim como no lançamento passado, neste a Apple resolveu oferecer duas diferentes capacidades: 32GB e 64GB. Eu, sinceramente, não vejo motivos para alguém comprar o modelo de 64GB.
Infelizmente não há uma forma simples/prática de controlar quantos mega/gigabytes você já está consumindo do armazenamento. Mas a verdade é que, mesmo instalando diversos aplicativos, isso não parece ser um problema. A não ser que dinheiro seja algo sobrando por aí, opte pela de 32GB numa boa!
tvOS e App Store
No review da Apple TV de quarta geração, falamos que o tvOS tem um grande potencial pela frente. Este ainda não foi explorado, mas ter um sistema operacional como o tvOS disponível, sendo o alicerce da set-top box, é algo muito positivo. Principalmente pela chegada de uma App Store e da passada do bastão do controle dos aplicativos da Apple para os desenvolvedores/empresas.
Infelizmente ainda esbarramos na estratégia de cada provedor de conteúdo; se por um lado temos a HBO GO disponível para quem não é assinante de um plano de TV a cabo, parece que ainda estamos longe de ver um Premiere (futebol) disponível nos mesmos moldes, por exemplo. O app até está agora disponível para o tvOS, mas usuários precisam necessariamente ter o serviço contratado/atrelado a um plano de TV. Isso, porém, não é algo que depende da Apple e não podemos culpá-la por isso.
Já outros pontos do tvOS passam pela mão da Maçã. Falta, como falamos acima, uma transparência maior no armazenamento do aparelho e no que estamos usando, e uma forma de controlarmos melhor as atualizações de aplicativos (hoje, ou você coloca para atualizar tudo de forma automática ou não atualiza nada, já que não há como fazer updates individuais de aplicativos).
Do tvOS 10 para o 11 tivemos boas melhorias, também, como a alternância automática dos temas claro e escuro de acordo com o horário do dia, a sincronização da tela inicial pelo iCloud (caso você tenha duas ou mais Apple TVs recentes na sua casa) e a adequação também automática para que a reprodução corresponda àquela nativa do conteúdo sendo exibido, tanto em termos de frequência quanto no modo HDR.
4K/HDR
Chegamos, então, ao principal ponto da Apple TV 4K: o suporte a conteúdos com resolução de 3840×2160 pixels, além de também contar com suporte a HDR101High dynamic range, ou grande alcance dinâmico. e a Dolby Vision.
Temos nada mais nada menos que 4x o número de pixels em relação à anterior. E mais densidade de pixels significa, na prática, uma maior nitidez de imagem. Já o recurso HDR/Dolby Vision proporciona imagens com cores mais vivas, com maior profundidade e imersão.
Segundo o site Aberto até de Madrugada, o HDR10 foi um dos primeiros formatos HDR, com uma definição de gama de cores alargada (Rec.2020) e 10 bits de cor. Trata-se de um formato aberto e que tem o suporte de diversas empresas como Samsung, LG, Dell, Sharp, Sony, etc. O maior “problema” do HDR10, contudo, é que ele define uma gama de luminosidade estática que se mantém fixa ao longo de todas as cenas do conteúdo — independentemente de se ter uma cena passada à noite seguida de outra no meio de um deserto com sol abrasador.
O Dolby Vision não conta com esse problema, permitindo que um conteúdo possa ter essa gama de luminosidades dinâmica cena a cena — além de contar com 12 bits de cor e permitir uma luminosidade máxima de 10.000 nits (que na prática, são reduzidos a 4.000 nits). O problema, neste caso, é que as fabricantes de televisores precisam pagar uma licença à Dolby, coisa que marcas como LG, TCL e Vizio fazem, mas que outras, não.
Justamente por isso, o formato HDR10+ nasceu — mas isso é papo para outro momento, já que o ponto aqui é explicar as tecnologias presentes na Apple TV 4K.
Obviamente, para aproveitar isso tudo não adianta ter apenas uma Apple TV 4K. Se você conectar a set-top box da Maçã numa televisão antiga qualquer, não terá absolutamente nada disso. É preciso ter um televisor 4K que também suporte conteúdos HDR10. Além disso, para fazer streaming de conteúdos em 4K (Netflix, iTunes Store, etc.), serão necessários pelo menos 25Mbps de conexão.
E o que falar sobre a experiência de se assistir a uma série ou um filme 4K/HDR10 na Apple TV 4K? É exatamente o que você imagina! A resolução é muito melhor e as cores são muito mais vivas, obviamente. Tudo, tudo fica mais bonito e agradável. Mas isso também varia de televisão para televisão, ainda que todas sejam 4K/HDR10. Existem TVs com painéis LCDs, outras OLEDs… todas com variações intrínsecas as tecnologias utilizadas. Então, não há como eu dizer aqui que você terá uma experiência “XYZ” pois tudo depende do modelo de TV que você tem ou pretende comprar.
Aliás, aqui vai um aviso óbvio, mas que não custa lembrar: se você não tem uma televisão 4K/HDR e não pretende comprar uma tão cedo, a Apple TV 4K definitivamente não é para você. Economize e vá sem medo da de quarta geração.
Além de tudo isso, vale lembrar que para usufruir da resolução 4K e de HDR você precisa… de conteúdos em 4K/HDR! Já há “bastante” coisa na iTunes Store e no Netflix, mas obviamente o acervo é bem limitado e mais restrito a lançamentos. Isso é algo que tende a evoluir bem com o tempo, naturalmente.
Bônus
Não temos Siri mas, em breve, tudo indica que recebemos o aplicativo TV, conforme noticiamos aqui.
Se ele mudará a forma como interagimos com a Apple TV, eu não sei dizer, mas não deixa de ser algo legal ver que, aos poucos, as coisas vão evoluindo para nós. Por enquanto, o app está disponível apenas na Alemanha, na Austrália, no Canadá, nos Estados Unidos, na França, na Noruega, na Suécia e no Reino Unido.
Conclusão
A minha experiência com o produto mostrou que, do ponto de vista das especificações técnicas, não há nada para reclamar. O processador A10X dá conta do recado e tudo no tvOS 11 flui muito bem — dificilmente você terá algum problema nesse sentido.
Um fato aqui que devo destacar é que eu não sou uma pessoa muito adepta a jogos, então não testei a fundo as capacidades desse ponto de vista. Ainda assim, o A10X tem potencial para coisas brilhantes levando em conta o que ele faz em iPhones e iPads, então não diria que isso é motivo de preocupação. No mais, se você é uma pessoa que gosta de jogos, não vai trocar o seu console ou o seu PC gamer por uma Apple TV. Isso seria impossível não pela capacidade da Apple TV em si, mas sim pelo catálogo de jogos atualmente disponível na App Store que não passa nem perto plataformas específicas de jogos.
O problema da Apple TV atual, pelo menos da forma como o ecossistema está hoje, é ela se tornar um set-top box de luxo para você usar o Netflix ou serviços similares. E isso é um problema, pois existem soluções muito mais baratas e viáveis no mercado (desde Chromecast até TVs inteligentes com o aplicativo da Netflix já instalado).
Falando do meu uso em si, tenho alguns apps que são bem bacanas de usar na Apple TV e que “justificam” eu ter uma em casa:
Facilita muito assistir a vídeos que eu tenho no meu Mac.
Idem.
Para quem gosta de surf e acompanha o campeonato mundial, o app é obrigatório.
Requer o iOS 13.0 ou superior
Para ver aquele programa de esportes depois da vitória do Mengão (necessário ser assinante).
Obrigatório se você tem filhos. 😜
Os vídeos do MacMagazine ficam uma beleza na TV!
Ótima pedida para quem quer se distrair com algo rápido e, ao mesmo tempo, educativo.
Um dos poucos jogos que tenho instalado na Apple TV.
Desculpe, app não encontrado.
Que tal fazer exercícios na sala, com instruções na TV?
Além, é claro, da tríade obrigatória…
Desculpe, app não encontrado.
São aplicativos que eu não consigo viver sem? Não, mas eles sem dúvida enriquecem a minha experiência com a set-top box. Na prática, são o que diferenciam a utilização da Apple TV 4K (que está na minha sala) da Apple TV de terceira geração (que está no meu quarto — esta, sim, se tornou um mero “reprodutor de Netflix/HBO GO/Amazon Prime Video”, para mim).
Mas como saber se você vai usar uma Apple TV além da tríade? Só testando, mesmo. A boa notícia é que, se você comprar uma e não gostar, tem até 14 dias para devolver; ademais, se você só descobrir que realmente não curtiu o produto ou que ele não vale o investimento, os Classificados do MM Fórum estão aí para você vender a sua Apple TV com o mínimo de perda possível (felizmente, o mercado de usados é bem aquecido em se tratando de produtos Apple).
Aos que também já possuem uma das Apple TVs recentes, compartilhem suas experiências nos comentários abaixo!
de Apple
Preço à vista: a partir de R$ 1.169,10
Preço parcelado: em até 12x de R$ 108,25
Lançamento: setembro de 2017 (5ª geração)
Notas de rodapé
- 1High dynamic range, ou grande alcance dinâmico.