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SOOS: Arquitetura, Serviços e Grana

Continuação de “SOOS :: Conexão“, que é parte da série sobre o “Sistema Operacional do Século XXI“.

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Neste penúltimo capítulo, tremendamente ajudado/influenciado pelos lançamentos da última semana, falaremos um pouco mais sobre a arquitetura do SOOS, particularmente sobre sua “alma”: os Serviços. Trataremos antes de diferenciar o SOOS de algumas propostas que existem por aí.

O SOOS tem pouco ou quase nada a ver com o WebOS, muito menos com os pioneiros que já estão disponíveis na Internet (YouOS, Goowy, DesktopTwo e GravityZoo). Essas propostas são na verdade “web desktops”, que implicitamente acreditam em clientes redondamente estúpidos. Clientes no caso não são usuários, ok? Estou falando de máquinas cliente (micros, celulares etc). Eles só exigem um browser. O SOOS, como já vimos em todos os capítulos anteriores, parte de um princípio totalmente diferente: os Clientes serão muito inteligentes. Mesmo quando pequenininhos, como o Apple iPhone, por exemplo. Um browser não bastará.

Como bem falou o Braga em um comentário deixado no capítulo anterior, o SOOS “lembra” o Jini. O Jini era uma simpática idéia da Sun que hoje deve trilhar novos caminhos. Mas ela se prende na parte “conexão” que falamos no capítulo anterior. No SOOS, tão importante quanto a “vida em sociedade”, é a capacidade de aprendizado do SOOS. E qual não foi minha surpresa (e, confesso, grande satisfação) quando vi o iPhone e todos os seus “sensores”? Ainda não é 1% do aprendizado de verdade que espero ver num SOOS, mas já é muito mais inteligência do que aquela que vemos e suportamos em nossos celulares/iPods atuais. Mas minha maior alegria foi ver como o iPhone reforça a tendência da total Orientação a Serviços, o foco deste nosso estudo. iTunes, Google e Yahoo serão os primeiros provedores de serviços. Esperem por uma enxurrada de novos serviços e provedores tão logo o iPhone chegue ao mercado. Mas, afinal, o que é a tal “Orientação a Serviços” do nosso SO do século XXI?

Orientação a Serviços

Surrupiei parte dos conceitos que apresento aqui de uma proposta relativamente recente chamada SOA (Service-Oriented Architecture)*. Ela trata especificamente de aplicações de uso corporativo. Mas algumas de suas sugestões fazem muito sentido em um Sistema Operacional. São elas:

  • Acoplamento Fraco: praticamente não deve existir uma relação de dependência entre os serviços. Eles não devem ser “amarrados” entre si. E uma relação, quando existir, ocorrerá em “tempo de execução” (runtime). Isso facilitaria muito a adaptação do SOOS para qualquer tipo de dispositivo. É o que impede a MS, por exemplo, de colocar um mesmo SO em diferentes locais (Xbox, micro, portáteis etc): tudo no Windows é “fortememente acoplado”. Lembram-se que ela falava que seria impossível “desamarrar” o IE do Windows? Pois é…
  • Contratos: Todo serviço possui um Contrato. Um documento com finalidade idêntica aos contratos do mundo real, ou seja: um acordo entre duas ou mais partes. O contrato de um serviço determina como, quando, onde e por quem ele (o serviço) pode ser usado. Usuários poderão ter contratos “guarda-chuva” com provedores de serviços ou contratos específicos para cada serviço.
  • Repositórios: Todos os serviços residirão em algum lugar na web, em Repositórios. Todo provedor de serviços terá o seu. Um repositório será uma espécie de .Mac, devidamente anabolizado. Se parecerá um pouco com daqueles utilizados pela dupla apt/Synaptic (do Linux). Quando o usuário solicitar um serviço novo, o SOOS buscará na Web as alternativas e as apresentará (devidamente resumidas e na língua do usuário). Na verdade ele apresentará as vantagens e restrições (e preços) de cada opção — informações estas que foram obtidas nos contratos.
  • Independência de Tecnologia: Os serviços serão totalmente independentes de tecnologia. Restrições existirão para alguns dispositivos — questão de bom senso. Mas, como regra geral, eles não “escolherão” uma plataforma específica. Inicialmente alguns fornecedores até tentarão amarrar seus serviços em algumas plataformas. Mas a tendência é a total independência. Até porque a grana estará nos serviços. E limitar o mercado não parece ser uma decisão muito inteligente. Quanto a loja iTunes deixaria de faturar se o software iTunes rodasse só em Macs? Mais sobre $grana$ no próximo sub-capítulo.

Cabe aqui ressaltar outra característica do SOOS citada no capítulo anterior. Toda instância do SOOS (do micro, da TV, do media player…) terá uma versão “virtual”, uma cópia integral que viverá na web. MS, Apple e Google já trabalham em algo do tipo. Mas ainda enxergam apenas uma extensão de nossos discos rígidos. No SOOS o conceito será mais amplo. Suas “cópias” manterão uma relacionamento perene na Web. Trocarão experiências, serviços e conteúdo. Aliás, conteúdo e serviços nunca serão redundantes. Desde que o contrato permita, todo conteúdo e todos os serviços estarão disponíveis para todos os dispositivos que tenham condições de executá-los / acessá-los.

Serviço = $grana$

A resposta para a questão que deixei no capítulo anterior é óbvia demais: A Grana estará praticamente toda nos Serviços. As versões do SOOS que não forem gratuitas justificarão seu valor pelos serviços adicionais que oferecerão de forma nativa (serviços residentes). Mas, de uma maneira geral, o SOOS acentuará uma tendência que testemunhamos há tempos: os dispositivos serão gratuitos ou serão vendidos bem abaixo de seu preço real; e os usuários viverão bombardeados por várias ofertas de serviços — em vários casos eles deverão assinar contratos de serviços (com faturamento mínimo fixado) para obter aquele determinado bem com preço “promocional”. Nós já vemos isso a todo instante no mercado de celulares. O próprio iPhone será lançado com um modelo de negócio parecido: o valor (US$600) será condicionado à assinatura de um contrato com a operadora de celular (Cingular) com duração de 2 anos e com valor mínimo de US$80 mensais (ou algo parecido — ainda é só especulação de minha parte).

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Existirão 3 tipos básicos de serviços quando o assunto for “grana”:

  • Gratuitos (com segundas intenções): é o que a Google faz hoje. Entrega-nos (bons) serviços de graça, mas aproveitam o espaço e a oportunidade para fazer propaganda. Seus serviços que não fazem propaganda (particularmente aqueles que são instalados em nossas máquinas, como o Google Desktop) têm uma terceira intenção: nos conhecer melhor. Para personalizar ainda mais os futuros comerciais. Ou seja: raramente veremos algo ‘de graça’ que esteja só fazendo graça. Todos buscam grana.
  • Transientes (ou temporários): são serviços que não precisam residir permamentemente em nossos micros, celulares e outros dispositivos. Existirão duas modalidades de cobrança:
    • Aluguel: onde é determinado um tempo de uso — 30 dias, por exemplo. Serão aplicados em serviços sazionais e/ou esporádios (declaração do imposto de renda, guia de viagens, etc).
    • Pay-Per-Use: serviços de uso ainda mais esporádico ou indeterminado serão vendidos a granel e pagos por uso.

    É claro que será fácil criar modelos híbridos. Um aluguel com uma taxa mínima e os opcionais sendo vendidos por uso, por exemplo.

  • Residentes (ou permanentes): equivalem às licenças de uso que compramos atualmente. Aquele serviço “viverá” (ou “morará”) em nossas máquinas por tempo indeterminado. Editores de textos, planilhas eletrônicas e afins serão vendidos assim.

Ou pagos por uso. A flexibilidade dos serviços é bastante interessante. Creio que muita gente deixará de comprar coisas “permanentes” e optará por pagar por uso. Faz mais sentido e para a maioria das pessoas (e empresas), será uma modalidade mais econômica. TCO (Custo Total de Propriedade, em inglês) deixará de ter a importância que tem hoje nos departamentos de TI.

Mas é importantíssimo lembrar de que não se trata de simplesmente fazer o download de um serviço. Já se compra software assim há um bom tempo. Nossos serviços serão a consolidação de uma tendência que hoje, em seus primórdios, estamos chamando de RIA (Rich Internet Applications, ou Aplicações Internet Ricas). O conceito vai evoluir um pouquinho. O browser deixará de ser um requisito para RIAs. Mas agora já entramos no tema “Interfaces”. Isso já é assunto para nosso último capítulo. Semana que vem, finalmente, termina a saga do “SO do Século XXI”.

Ou eu deveria dizer que começa a verdadeira saga?

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