O julgamento da Apple contra a Epic Games mal começou (e deverá durar não menos do que três semanas), mas as informações sobre o relacionamento das duas empresas ao longo dos últimos anos continuam surgindo a torto e a direito.
Confiramos, abaixo, mais alguns dos detalhes polpudos surgidos entre os documentos divulgados pelas duas adversárias de corte.
Pacote Apple + Fortnite?
Uma das informações mais curiosas a aparecer nos autos do processo foi descoberta pela conta do Twitter @TioFFMX
, especializada em Fortnite: aparentemente, em algum momento do passado a Apple e a Epic cogitaram uma parceria para oferecer, juntas, um pacote que traria acesso ao Apple Music, ao Apple TV+ e ao Fortnite Club (versão de assinatura do jogo, posteriormente lançada nos Estados Unidos sob o nome Fortnite Crew).
O pacote, segundo os documentos, custaria US$20 por mês — uma economia de US$6 se comparado aos preços das assinaturas individuais. O esquema financeiro proposto seria interessante: se assinado pelos aplicativos da Apple, a Maçã ficaria com US$15 de cada assinatura, repassando US$5 à Epic; por outro lado, se o pacote fosse assinado dentro de Fortnite ou dos domínios da Epic, a desenvolvedora ficaria com US$12, repassando US$8 à Apple.
Não há como saber até que ponto esse pacote foi considerado nem a época em que as empresas ventilaram essa possibilidade, mas a coisa não parece ter tanto tempo assim — os documentos, afinal de contas, já citam o Apple TV+, serviço que só foi lançado oficialmente em novembro de 2019.
A Maçã, claro, acabou seguindo o caminho dos pacotes sozinha com o lançamento do Apple One. Seria interessante, entretanto, saber para que lado a empresa caminharia caso a relação com a Epic não tivesse desmoronado ao longo de 2020.
App Store considerou diminuir taxas em 2011
Outra informação interessante: de acordo com evidências apresentadas pela Epic, a Apple considerou, lá nos idos de 2011, diminuir as taxas da App Store. À época, a loja tinha atingido seu primeiro US$1 bilhão em lucratividade e alguns executivos da empresa ventilaram a possibilidade.
Mais especificamente, o questionamento surgiu de Phil Schiller, então chefe de marketing da empresa (hoje Apple Fellow, e um dos representantes da Maçã no julgamento contra a Epic). À época, o executivo enviou um email a Eddy Cue, vice-presidente sênior de serviços da companhia, perguntando:
Nós pensamos que a divisão 70/30 vai durar para sempre?
Alguns meses depois, Schiller enviou outro email a Cue afirmando ser um “grande apoiador” da taxa de 30%, mas dizendo não acreditar que ela seria mantida para sempre. O executivo afirmou que, caso a Apple fizesse alguma mudança na estrutura de comissões algum dia, teria de fazê-lo a partir de uma “posição de poder” — Schiller sugeriu à época, que a taxa poderia ser reduzida para 25% ou 20% quando a loja atingisse lucros de US$1 bilhão por ano, mas somente caso o bilhão fosse preservado após a redução das comissões.
As conversas, claro, não foram à frente na época — só dez anos depois é que a Apple lançou o Programa para Pequenos Desenvolvedores da App Store, reduzindo para 15% as taxas para desenvolvedores com faturamento inferior a US$1 milhão ao ano. Antes disso, a Maçã reduziu as taxas pela metade para assinaturas com mais de um ano.
Schiller se revolta com cópia de Temple Run
Ainda na argumentação inicial da Epic, a desenvolvedora apresentou na corte um email escrito por Schiller em 2012 e direcionado a outros altos executivos da empresa. Na mensagem, marcada como “privilegiada e confidencial”, o então chefão de marketing da Maçã se mostrou revoltado com o fato de que um jogo chamado Temple Jump, uma cópia descarada de Temple Run, tinha chegado ao topo da lista de aplicativos gratuitos da App Store.
A Epic, claro, trouxe o email à tona para questionar o processo de análise da App Store, considerado irretocável pela Maçã. A desenvolvedora afirma que o processo, na verdade, deixa centenas de apps irregulares ou mal-intencionados escaparem — algo que tem sido exposto regularmente, nos últimos meses, pelo desenvolvedor Kosta Eleftheriou.
Fortnite fez US$9 bilhões em dois anos
Do outro lado, a Apple trouxe à corte documentos financeiros revelando que Fortnite faturou mais de US$9 bilhões somente em seus dois primeiros anos de existência, em 2018 e 2019.
A Epic (assim como a Apple) não divulga números específicos de faturamento dos seus produtos, mas os US$9 bilhões estão muito acima de qualquer estimativa feita anteriormente: para se ter uma ideia, a Sensor Tower tinha feito uma estimativa — generosa! — de que a Epic estaria faturando entre US$2 e US$3 bilhões por ano com o jogo.
Outras operações da Epic, para efeito de comparação, tiveram números bem mais modestos: o licenciamento da Unreal Engine a outras empresas rendeu US$221 milhões à empresa no mesmo período, enquanto a Epic Games Store apresentou um faturamento de US$235 milhões.
O que a Apple pretende questionar, com essa informação, é a narrativa da Epic de que a desenvolvedora não teria uma “saúde financeira” totalmente consolidada e que dependeria do iOS para se manter. Se a corte levará isso em conta, entretanto, teremos de aguardar para ver.
Espectadores “invadem” julgamento
Por fim, uma nota engraçada: alguns espectadores do julgamento (que está sendo realizado em grande parte virtualmente) perceberam que não estavam com seus microfones desligados e começaram a discutir sobre o caso — ou proferir palavras de ordem — em frente ao júri, aos advogados e às testemunhas do caso.
De acordo com o VentureBeat, o grupo de espectadores usou o chat da audiência como um “grupo de discussão”, com resultados hilariantes. Um dos ouvintes começou a cantar “Epic Games, Epic Games!”, enquanto outro passou a atuar como comentarista do caso. Um terceiro começou a transmitir músicas de Travis Scott, músico que recentemente fez um show virtual dentro do universo de Fortnite.
Outros participantes, claro, estavam discutindo o caso. Um deles falou: “É melhor Tim Sweeney saber o que está fazendo. Se ele escorregar, nós não teremos o iOS de volta. Essa chamada está sendo transmitida ao vivo, aliás.” Um outro falou que só queria Fortnite para iOS de volta: “Eu sou pobre, não tenho dinheiro para comprar um console.”
Depois de alguns minutos, os “participantes indevidos” tiveram seus áudios cortados e tudo voltou ao normal. 😛
via 9to5Mac, The Verge, AppleInsider