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Entendendo a real capacidade dos discos rígidos atuais

HDMeu primeiro computador foi um PC. O ano era 1995, e naquela época era bastante mais complicado tentar ir ao mundo da Maçã do que é hoje em dia, no que diz respeito ao Brasil. Tinha uma configuração bem caprichada, com processador Intel 486 DX4-100MHz, 8MB de RAM, kit multimídia (caixas de som, leitor de CDs e placa de som, hoje tão triviais em qualquer computador), aceitava disquetes de 5 1/4 e 3 1/2 polegadas e, para armazenamento, um disco rígido de 540MB.

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Na verdade, esse disco nunca teve 540MB. Essa capacidade era apenas nominal, já que a real era de 514MB. Alguns fabricantes tinham o costume de vender HDs com tamanhos que não correspondiam ao que o cliente pensava estar levando, uma prática que se repete até os dias de hoje — em níveis bem piores, penso eu. Mas… o que então determina a capacidade de um disco-rígido? E por que isso acontece?

Basicamente, tudo em informática funciona sobre bits e bytes. Pela natureza dos bits, que podem variar entre 2 valores (1 e 0, ligado e desligado), calcula-se tudo em bytes através de números em base de 2, ou binária, em vez da nossa conhecida base de 10, decimal. Isto seria o resumo de uns 30 minutos de explicação sobre o assunto, que não vem ao caso, porque o que você precisa entender é o seguinte: o que no nosso dia-a-dia seria 1.000, em computação é 1.024, que corresponde a 2 — porque existem 2 valores para bits — elevado à décima potência.

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Partindo do ponto em que cada milhar, na verdade, corresponde a 1.024 nesse caso, aprendemos que um kilobyte não contém mil bytes, e sim, 1.024 bytes; um megabyte tem 1.024 kilobytes, e por aí vai, em cada um dos múltiplos de milhar que existe — os seguintes seriam giga, tera, peta, entre outros prefixos gregos, que podem ser encontrados aqui, e aos quais adicionamos a palavra “byte”, como adicionaríamos “grama” ou “metro”, por exemplo.

Certo, os amantes da matemática já abandonaram este texto faz uns dois minutos, mas para você, que segue firme e forte lendo estas palavras, chegou o ponto de unir uma coisa com a outra. Dei toda essa volta para poder explicar o motivo de um HD de 320 gigabytes, de 120 gigabytes, ou de qualquer capacidade que você queira, raramente ter o tamanho indicado no papel.

A razão é que, há anos, os fabricantes de discos-rígidos e algumas outras unidades de memória, fazem uma aproximação simples, que tem efeitos importantes: a transformação de 1.024 em… 1.000!

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Sim, é isso mesmo! Já que, para todo mundo, mil é um número muito mais fácil de multiplicar e calcular, os conceitos são misturados na hora de vender um disco-rígido, e o que seriam 500 gigabytes (multiplique por 1.024 três vezes: 512.000 megabytes, ou 524.288.000 kilobytes, ou finalmente 536.870.912.000 bytes), se transformam em 500.000.000.000 bytes (hora de inverter a operação, dividindo por 1.024 três vezes: 488.281.250 kilobytes, ou 476.837,16 megabytes, ou 465,66 gigabytes!).

Isso significa que, quando você compra um HD de 500GB, aproximadamente 34GB ficam perdidos na matemática. Experimente fazer umas continhas de multiplicação e divisão por 1.024 com outros tamanhos de disco, e verá que, quanto maior a capacidade, pior é a perda. Não é por choramingar, mas 34GB é muita informação, pela qual você paga, mas que não leva.

Get Info no HD FireWire de 1TB

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O disco externo de 1TB do nosso grande Rafael Fischmann, por exemplo, veio com quase 70GB “faltando”. Se formos levar ao pé da letra, cada um de nós é enganado ao comprar um HD, porque estamos levando sempre menos do que realmente anuncia a caixa. Na base da esperteza, há fabricantes que botam em suas embalagens de discos, em letras pequenas, o seguinte dizer:

1 gigabyte corresponde a 1.000.000.000 bytes

Até os iPods são afetados. Basta dar uma olhadinha na parte inferior desta página de especificações, item 1, para entender por que o iPod classic de 80GB tem 74,5GB reais. Nada de formatação; é valor arredondado, mesmo.

Nessa brecha da “intenção” de facilitar a matemática do armazenamento, o simples fato de transformar 1.024 em 1.000 desaparece com um espaço considerável, pelo qual pensávamos estar pagando ao comprar o produto. O que mais me espanta, sinceramente, é que nunca vi uma notícia de clientes processando nenhuma fábrica de discos-rígidos por terem sido enganados no que compraram. Ainda mais nos Estados Unidos, onde os abusos ao consumidor são levados muito mais a sério que em qualquer outra parte do planeta.

Entretanto, houve uma época em que ainda se podia escolher entre ser passado para trás, ou levar o que se comprou. A Maxtor era um dos poucos fabricantes, senão o único, a vender seus produtos com a especificação real. Um HD de 6GB não tinha 6 bilhões de bytes (ou 5,59GB reais), e sim, 6.442.450.944 bytes. Comprovei isso na época em que trabalhei exclusivamente como técnico de informática, lá pelo ano 2000 (como soa estranha essa frase…).

Eu disse que a Maxtor era um dos poucos, porque um belo dia ela foi comprada pela Seagate, que nunca respeitou o cálculo dos múltiplos de milhar em valores de 1.024 para seus discos. Óbvio que essa “filosofia comercial” foi aplicada à nova empresa englobada. Dessa forma, acredito que hoje em dia não se venda um único HD que tenha realmente o tamanho anunciado.

Toda essa história foi para dizer o que determina a real capacidade de um disco-rígido: em vez de calcular os tamanhos em multiplicações de 1.024 para alcançar os gigabytes e terabytes, são feitas múltiplas divisões por 1.000 e, nesse singelo arredondamento, há uma perda considerável em relação ao que o cliente pensa estar comprando. A minha segunda pergunta lá do começo do texto, do “por que isso acontece”, tem resposta mais do que óbvia:

De byte em byte, a galinha enche o papo. Com nosso dinheiro, claro.

É uma pena, mas não há escapatória. Meu próximo HD de 500GB virá com 35GB faltando, e não há nada que eu possa fazer para alterar isso. Tudo porque inventaram que 1.024 = 1.000.

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