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Descanse em paz, borboleta: uma breve história do malsucedido teclado que queria revolucionar a indústria

Uma elegia ao que não deixará saudades
Shutterstock.com
Teclado do MacBook Pro

Power Mac G4 Cube. MobileMe. iPod Hi-Fi. Ping. AirPower.

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Acima, citei alguns dos projetos fracassados na história recente da Apple — todos eles, de uma forma ou de outra, apagados pelo tempo antes ou depois de chegar às mãos dos consumidores. Nenhuma tentativa desastrada de mudar o mundo da computação em Cupertino, entretanto, é tão significativa quanto o teclado borboleta.

Depois de cinco anos de história, o ambicioso projeto da Maçã de alterar para sempre o design dos teclados dos seus computadores (e, no processo, possibilitar máquinas mais finas e leves) morreu definitivamente hoje, com a apresentação do novo MacBook Pro de 13 polegadas — o último modelo da empresa que ainda era vendido com o componente.

Pois agora, como um obituário para o pobre teclado que (provavelmente) não deixará saudade em muita gente, traçaremos uma breve história do seu desenvolvimento — escrita, talvez ironicamente, exatamente em seus mecanismos secos e rasos. Adeus, doce príncipe!

O início

Tudo começou no dia 9 de março de 2015, quando a Apple apresentou o MacBook com tela Retina — uma máquina (à época) impossivelmente diminuta, fina e leve.

MacBook com tela Retina de 12 polegadas na cor ouro rosa visto de cima (teclado)
MacBook de 12″ com tela Retina

Para chegar à espessura e ao peso desejados no computador, a Maçã precisou trabalhar em uma das frentes mais importantes do dispositivo: o teclado. Saía de cena o mecanismo tesoura, usado pela empresa em todos os seus teclados até então, e entrava em seu lugar o mecanismo borboleta, descrito da seguinte forma pela empresa:

Desde o início, nosso objetivo era criar uma experiência perfeita com o Mac, sem abrir mão de nada. Um teclado completo é parte essencial disso. Para que ele coubesse na estrutura fina do MacBook, tivemos que desenvolver o teclado do princípio. Cada componente foi repensado para o MacBook, o mecanismo interno, a curvatura da superfície de cada tecla e o design das letras. O resultado foi um teclado supreendentemente mais fino que o anterior. Agora, quando seu dedo pressiona uma tecla, ela desce e sobe com um movimento rápido e consistente que permite digitar com uma precisão incrível.

Qual a diferença, afinal?

O palavrório da Apple citado acima dá uma ideia das diferenças, mas não explica a história inteira sobre o teclado borboleta. O esquema abaixo, retirado de uma das keynotes da Maçã, explica visualmente as diferenças entre os dois mecanismos:

Mecanismo dos teclados da Apple

Basicamente, a principal diferença estava no fato de que as teclas borboleta tinham um mecanismo de peça única (construído em nylon preenchido com vidro) contra um design de duas peças em plástico, no mecanismo tesoura. O switch — a peça que ativa o circuito para que o caractere em questão apareça na tela — do teclado borboleta era de aço inoxidável, e não de silicone como no teclado tesoura.

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Na prática, isso fez com que o teclado borboleta fosse significativamente mais “raso” do que o seu irmão mais velho, com um clique mais pronunciado e menos macio. Alguns usuários (como este que vos escreve) gostaram da mudança, mas, no geral, o mecanismo foi mal-recebido por consumidores do mundo inteiro: o teclado borboleta foi amplamente criticado por oferecer uma experiência tátil inferior, reminiscente dos teclados de película — algo que foi sendo melhorado progressivamente ao longo da vida do mecanismo, vale notar.

As gerações

O MacBook com tela Retina não durou muito, mas o teclado borboleta criou vida própria e foi além do seu ventre de desenvolvimento: em outubro de 2016, a Apple apresentou uma nova geração do MacBook Pro (a primeira equipada com a Touch Bar), já equipada com o teclado borboleta.

Novo MacBook Pro de 13 polegadas visto de cima com a sua Touch Bar
MacBook Pro de 13″, lançado em 2016

Não estávamos falando do mesmo teclado borboleta do MacBook de 12″, entretanto: sabendo das críticas despejadas ao longo do ano e meio anterior, a Apple divulgou o componente do novo Pro como um “teclado borboleta de segunda geração” — com teclas ligeiramente redesenhadas, com bordas mais pronunciadas (para encontrá-las mais facilmente pelo tato) e um domo de metal embutido.

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A terceira geração do teclado borboleta veio em 2018, sendo introduzida no modelo daquele ano do MacBook Pro e aplicada, posteriormente, no primeiro MacBook Air com tela Retina. A maior mudança estava em uma película protetora de silicone, aplicada embaixo das teclas, para evitar a entrada de partículas de poeira e aprimorar a confiabilidade do teclado.

Novo MacBook Air dourado de cima com o teclado
MacBook Air lançado em 2018

Por fim, a quarta (e derradeira) geração do mecanismo chegou no MacBook Pro de 2019, sendo aplicada também no MacBook Air do ano passado. A Apple não especificou as mudanças no teclado, afirmando apenas que ele tinha melhorias de durabilidade; em inspeção, a iFixit descobriu que a empresa tinha alterado o material da membrana protetora para uma peça mais robusta.

O que deu errado?

Os parágrafos acima já citaram a recepção negativa dos teclados por conta do seu dito desconforto. Esse, entretanto, não foi o fator que matou o mecanismo borboleta: o real problema do projeto da Maçã é que ele rapidamente virou sinônimo de problemas de confiabilidade, dizimando qualquer possibilidade de possíveis defensores advogarem pela sua permanência.

O primeiro sinal de que as coisas não correriam bem chegou em janeiro de 2017, quando usuários do MacBook Retina passaram a reclamar de teclas imóveis, quebradas ou com digitação repetida. Um mês depois, donos de MacBooks Pro equipados com o teclado começaram a expressar reclamações semelhantes, incluindo sons de clique inapropriados ou repetição de caracteres.

YouTube video

A partir daí, foi ladeira abaixo: donos de Macs com os teclados processaram a Maçã e organizaram um abaixo-assinado pedindo um recall por parte da Apple — que, no fim das contas, realmente ocorreu: em junho de 2018, a empresa anunciou um programa de reparo para teclados borboleta, que cobre todos os MacBooks equipados com o mecanismo e vale por quatro anos após a data de compra do dispositivo (mais informações aqui).

Nem mesmo as tentativas da empresa de sanar os problemas de confiabilidade deram certo: a aplicação da membrana de silicone na terceira geração do mecanismo foi, como descobriu a iFixit, uma medida paliativa — que podia evitar a entrada de alguns detritos e evitar alguns percalços, mas não impedia completamente o surgimento de problemas nas teclas.

Terceira geração do teclado com mecanismo borboleta, da Apple
Terceira geração do teclado com mecanismo borboleta | 📷 iFixit

A esse ponto, já se vislumbrava a morte do teclado borboleta: em episódio infame, a Apple pediu desculpas pela criação do mecanismo e passou a priorizar reparos de peças defeituosas nas suas lojas. Além disso, rumores indicavam que a empresa voltaria ao mecanismo tesoura.

Assim foi feito: em novembro de 2019, a Maçã anunciou o primeiro MacBook Pro de 16″, voltando ao mecanismo tesoura — agora batizado de Magic Keyboard, pois o poder do marketing é uma coisa incrível!

Presente e futuro

A transição de volta ao mecanismo tesoura continuou com o modelo de 2020 do MacBook Air, apresentado em março passado, e foi concluída hoje, com a introdução do novo MacBook Pro de 13 polegadas — assinando, assim, a morte do teclado borboleta. Até mesmo o Magic Keyboard para iPad Pro, introduzido recentemente, já conta com o teclado tesoura.

Magic Keyboard para iPad Pro de 12,9"

Ao que tudo indica, a tentativa da Apple de revolucionar os teclados morreu e foi definitivamente encerrada, sem chances de reaparecer num MacBook futuro. Ainda assim, as lições — sempre as lições — ficam: às vezes, é melhor não mexer em time que está ganhando… ou que não está perdendo, ao menos.

E você? Sentirá falta das velhas borboletas?

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