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Noomi Rapace em "Constellation", série do Apple TV+

“Constellation” é uma jornada intrigante ancorada em uma performance irretocável de Noomi Rapace

Aqui, a exploração do espaço é só o começo de um jogo muito mais complexo — e muito mais pessoal

Nas artes, usar o espaço sideral como uma metáfora para alienação, desconexão e metamorfose é um dispositivo mais velho que andar para a frente — e que já gerou algumas obras-primas, como “Space Oddity”, “Solaris”, “Gravidade” e “Lunar”. Ainda assim, esse continua sendo um terreno fértil para obras que tocam, mesmo com sua ambientação quase alienígena, em sentimentos profundamente humanos.

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Prova disso é a existência de “Constellation” (ou “Constelação”, no título em português), série que estreou no Apple TV+ na última quarta-feira (21/2) com seus três primeiros episódios já disponíveis.

Embora não chegue a cutucar os limites das narrativas espaciais e esteja satisfeita em tratar de temas que já foram abordados por outras obras do gênero, temos uma das mais gratas surpresas da temporada, com um saldo extremamente positivo — proporcionado especialmente pela combinação de uma diretora experiente (Michelle MacLaren) e uma performance central impressionante de Noomi Rapace.

A série é centrada na figura de Jo Ericsson (Rapace), uma astronauta sueca em uma longa missão na ISS (Estação Espacial Internacional) que sobrevive a um acidente espacial catastrófico e, ao longo dos dois primeiros episódios, empreende uma jornada homérica para se salvar e retornar para a Terra — e, mais especificamente, para seu marido Magnus (James D’Arcy) e sua pequena filha Alice (interpretada por Davina e Rosie Coleman).

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O problema é que, ao voltar, Jo encontra uma vida diferente da que se lembra de ter deixado. Alice a trata de uma maneira indiferente, distante, muito distinta da garotinha amorosa e apegada à mãe que Jo deixou na Terra meses antes — e sequer fala sueco, a língua em que as duas se comunicavam anteriormente. A protagonista, por sua vez, tem suas experiências no espaço questionadas por seus superiores, e se vê numa trama que vai se revelando cada vez mais paranoica, quiçá conspiratória.

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Nada disso é um spoiler: a própria série já começa in medias res, com Jo fugindo com Alice para uma cabine isolada na floresta em meio a uma nevasca, sugerindo que a situação da nossa heroína ficará cada vez mais instável. É uma boa decisão de “Constellation” colocar suas cartas na mesa desde o início: não, não estamos assistindo simplesmente a um drama espacial (aliás, as jornadas extraterrestres parecem se limitar aos dois primeiros episódios), e sim a uma narrativa que combina elementos de thrillers de conspiração, terror psicológico, drama familiar e até mesmo um quê de horror paranormal.

Em mãos menos experientes, tal combinação poderia resultar numa enorme bagunça, mas podemos contar com a regência magistral de MacLaren para manter a unidade de todas as influências abraçadas pela série. Ela, que comanda os dois primeiros episódios da produção, é uma das diretoras televisivas mais celebradas da indústria, responsável por alguns dos episódios mais elogiados de “Breaking Bad”, “Arquivo X”, “The Walking Dead” e “Game of Thrones”.

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Em “Constellation”, a cineasta emprega um estilo meditativo, cheio de texturas, para contar uma história que requer essas pausas e esse cuidado — é até estranho, na era da TV superacelerada e dos cortes rápidos, ver uma produção que usa fades longos e demorados planos fechados, que procuram as mínimas expressões dos atores em cena para expressar sentimentos e ações para além do texto. Também é notável o controle que MacLaren tem da construção visual da sua história, empregando truques de câmera, perspectiva e edição para ilustrar a confusão de Jo no seu retorno à Terra.

O terceiro episódio, comandado pelo excelente cineasta alemão Oliver Hirschbiegel (de “A Queda – As Últimas Horas de Hitler”), segue a mesma linha, o que é um bom auspício para acreditarmos que a série seguirá com seu estilo e ritmo ao longo dos oito episódios.

Noomi Rapace, por sua vez, aproveita sua segunda oportunidade como uma protagonista dando voltas pelo espaço sideral (ela viveu a astronauta Elizabeth Shaw em “Prometheus” e “Alien: Covenant”) e a agarra com unhas e dentes: sua Jo transita perfeitamente entre a figura decidida, porém amorosa, que vemos antes e durante o incidente na ISS, e a mulher desacreditada, fragilizada, que vemos após a sua volta à Terra — sua performance tem ecos de Julianne Moore em “Os Esquecidos” (sim, um filme terrível, mas com uma atuação central maravilhosa).

Jonathan Banks e Barbara Sukowa em "Constellation", série do Apple TV+
Jonathan Banks e Barbara Sukowa em “Constellation”.

De fato, Rapace é tão boa que chega a eclipsar outros nomes de peso que compõem o elenco: Jonathan Banks (de “Breaking Bad”) vive com a sua tradicional competência o físico quântico Henry Caldera, uma figura misteriosa que parece estar por trás de alguns dos segredos guardados pela narrativa, enquanto Barbara Sukowa (vencedora do prêmio de Melhor Atriz em Cannes por “Rosa Luxemburgo”) volta às telas como uma oficial russa responsável pela investigação sobre o caso.

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O criador e roteirista da série, o dramaturgo britânico Peter Harness, já declarou em diversas oportunidades que viu em “Constellation” a oportunidade de tratar do profundo efeito alienatório do espaço sideral, levando em conta as experiências de astronautas reais que, após verem a Terra de longe e retornarem a ela, relataram se sentir completamente isolados de tudo o que já conheceram.

Harness — roteirista competente, que já colaborou com séries como “McMafia” e escreveu filmes como “Is Anybody There?” — opta por levar a narrativa por um caminho mais conspiratório, mas que nunca se perde nas armadilhas do seu gênero. O roteiro de “Constellation” aproveita o formato mais longo das séries de TV para se aprofundar em questões profundas, quase herméticas, de filosofia e física quântica, questionando o grau de realidade das experiências humanas e da própria existência.

É bem verdade que a série corre o sério risco de ser muito cabeçuda — e eu falo “cabeçuda” em dois sentidos distintos: tanto como uma narrativa complexa, científica demais, quanto uma série que acumula muitos acontecimentos e desdobramentos nos seus episódios iniciais para, em seguida, perder o gás. Entretanto, nos três episódios aqui analisados, as perspectivas são as melhores possíveis… e eu estarei aguardando ansiosamente os próximos.

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