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Existe futuro para o Apple TV+ no Vision Pro?

A Apple tinha a oportunidade perfeita de levar seu serviço de streaming para o próximo nível, mas…

Se você assistiu à apresentação do Apple Vision Pro, na última WWDC, certamente consegue listar o momento que mais lhe impressionou. Pois eu digo o meu: foi quando a gerente sênior de engenharia En Kelly apresentou a possibilidade de termos um verdadeiro cinema particular na frente dos nossos olhos, simulando projeções de até 100 polegadas no cenário da sua preferência, com direito a áudio espacial.

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Como um grande entusiasta da experiência de ir ao cinema — mas, ao mesmo tempo, um frequentador de cinema cada vez mais frustrado com a falta de educação generalizada dos meus companheiros de sessão —, aquela demonstração me assombrou: se a Apple fizesse seu trabalho certinho, pela primeira vez seria possível ter um cinema em casa sem precisar passar pelo pesadelo de uma reforma ou gastar dezenas de milhares de reais em equipamento personalizado 1Sim, eu sei que o Vision Pro custará dezenas de milhares de reais caso chegue por aqui algum dia, mas estou pensando aqui em futuras — e, com alguma sorte, mais baratas — versões do produto..

Por outro lado, caso o Vision Pro (e dispositivos de AR/VR em geral) “pegue”, é bem possível que a experiência do cinema esteja mais ameaçada do que nunca — afinal de contas, quem vai preferir gastar dinheiro com locomoção e ingresso, além de possivelmente aturar meia dúzia de chatos falando e usando o celular durante o filme? Difícil dizer, mas o objetivo deste singelo texto não é falar sobre o futuro do cinema enquanto espaço físico, de congregação e de experiências coletivas. Eu quero falar sobre o Apple TV+.

Voltemos, por um segundo, à keynote da WWDC23 e à apresentação do Apple Vision Pro. Depois de fazer uma belíssima demonstração das capacidades multimídia do dispositivo, incluindo a de projetar uma tela gigantesca no cenário da sua preferência e aproveitar seu filme ou série com tecnologias avançadíssimas de áudio espacial, era de se esperar que a Maçã aproveitasse o momento para falar do seu serviço de streaming, certo? A bola estava colocada na frente do gol para o Apple TV+ ser uma das estrelas do Vision Pro, com uma interface revolucionária, uma série de recursos exclusivos e conteúdo especial baseado em realidade virtual! É só chutar e correr para o abraço!

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Só que não: depois de apresentar as cartas na manga do Vision Pro em relação a filmes e séries no geral, quem entrou em cena foi Bob Iger, com uma demonstração do aplicativo do Disney+ para o dispositivo, incluindo alguns conteúdos especiais de “The Mandalorian”, uma visão multipanorâmica de esportes no hub da ESPN e algumas experiências com os icônicos personagens da gigante.

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E isso, meus amigos e minhas amigas, é o que eu considero uma oportunidade perdida.

Não me entendam mal: somente a oportunidade de entrar no aplicativo do Apple TV+ e desfrutar de um filme ou de uma série no Apple Vision Pro já deve ser uma experiência fenomenal. Mas isso não é algo que você obterá somente com o serviço de streaming da Maçã: você também pode assistir a alguma coisa no Prime Video, no Paramount+, no Max, no supracitado Disney+… até na Netflix, que por enquanto está batendo pé firme, já tem uma página online ensinando seus assinantes a desfrutar das suas produções no Vision Pro — sem falar que qualquer pessoa razoável apostaria que um aplicativo próprio do serviço é só questão de tempo.

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A oportunidade perdida a que me refiro aqui é que a Apple teve anos para pensar no Vision Pro antes de apresentá-lo a potenciais parceiros — e, portanto, a equipe do Apple TV+ também teve anos para pensar em experiências pensadas especificamente para o dispositivo. Tais experiências poderiam atrair mais assinantes para o streaming da Maçã, sim (pelo menos quando o Vision Pro tiver uma base de usuários significativa), mas meu argumento é mais amplo: seria a chance de a Apple dar um passo adiante no universo do audiovisual, indo além do 2D e permitindo que criadores pensassem em experiências realmente imersivas para sua geringonça vestível.

Um playground para criadores

Dou aqui um exemplo: em 2017, o ilustre cineasta mexicano Alejandro G. Iñarritu (vencedor de dois Oscars de Melhor Direção seguidos, por “Birdman” e “O Regresso”) lançou um curta intitulado “Carne y Arena”.

Descrito como uma experiência em realidade virtual pensada para colocar o espectador na pele de um imigrante ilegal cruzando a fronteira México-Estados Unidos, o filme foi o primeiro projeto em VR exibido no Festival de Cannes e rendeu a Iñarritu mais um Oscar — desta vez, um especial: o Special Achievement Academy Award, concedido apenas a artistas que fazem contribuições especiais à sétima arte, fora das categorias usuais da premiação. Apenas 19 dessas estatuetas já foram distribuídas; antes de Iñarritu, o último vencedor tinha sido um tal de John Lasseter por um tal de “Toy Story”, 22 anos antes.

O problema? Quase ninguém viu “Carne y Arena”, porque, lá nos idos de 2017, dispositivos VR ainda eram alienígenas disponíveis apenas em museus e instalações especiais — após a exibição em Cannes, o curta vem sendo exibido apenas em outros festivais e eventos artísticos ao redor do mundo. Não, você não pode assistir a “Carne y Arena” no conforto da sua casa.

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A esse ponto, você provavelmente já sabe aonde eu quero chegar: o Apple Vision Pro seria o dispositivo perfeito para experiências desse tipo — e o Apple TV+, com sua propensão a contratar artistas de renome e dar a eles rios de dinheiro para realizar seus projetos, poderia ser a plataforma perfeita para esse tipo de experimentação formal e narrativa.

Vou além e toco novamente em um ponto que já citei acima: assistir a filmes e séries é uma experiência que muito se enriquece quando é compartilhada. Sim, todos nós temos nossos momentos de ligar a TV do quarto (ou mesmo o computador/tablet/smartphone) e assistir a um episódio de alguma coisa sozinhos, mas é inegável que uma das maiores alegrias de apreciar uma obra de arte é fazê-lo em conjunto, seja com a sua família e amigos no sofá ou com um grupo de pessoas numa sala de cinema. É ouvir os suspiros de apreensão, compartilhar as risadas, olhar para os lados e ver as expressões de assombro, é discutir o que vocês acabaram de testemunhar durante os créditos.

O Vision Pro, claro, não tem nada disso: talvez como a expressão máxima do individualismo dos nossos tempos, ele representa a negação dessa experiência coletiva — é você e apenas você, cercado por uma paisagem belíssima à sua escolha e o silêncio cortado somente pelo áudio espacial do que você está assistindo. Ou seja, se vamos cortar o elemento coletivo que tanto enriquece a experiência de apreciar uma obra audiovisual, que ao menos isso seja substituído por um outro diferencial. Uma experiência nova, algo que você nunca tenha sentido antes.

Vocês certamente dirão que o Vision Pro ainda é incipiente, que não há uma base de usuários suficiente para que os artistas se interessem em produzir obras pensadas para ele, que ainda teremos que aguardar uns bons anos até que a tecnologia pensada pela Apple amadureça e se torne mais acessível… sim, tudo isso é verdade, e ficam aqui os meus votos para que essa minha visão, de um futuro com mais horizontes (com o perdão do trocadilho) para os criadores, se concretize em algum momento.

Ainda assim, meu argumento se mantém: a hora de impressionar o mundo, de colocar o Apple TV+ na vanguarda de alguma coisa, já passou — foi lá, na apresentação do Vision Pro. Haverá outras oportunidades? Talvez, mas essa a Maçã deixou passar. Resta torcer, portanto, para que o futuro seja um pouco mais bem aproveitado do que o passado.


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Notas de rodapé

  • 1
    Sim, eu sei que o Vision Pro custará dezenas de milhares de reais caso chegue por aqui algum dia, mas estou pensando aqui em futuras — e, com alguma sorte, mais baratas — versões do produto.

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