O melhor pedaço da Maçã.

Dica de leitura: como um designer industrial se tornou o maior produto da Apple

O chefão de design da Apple foi mais uma vez perfilado por uma grande publicação — desta vez, o The New Yorker.

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O enorme texto traz muitas informações interessantes sobre o papel de Ive na Apple além, é claro, de histórias pessoais, como por exemplo seu relacionamento com Steve Jobs, sua timidez a pronunciamentos públicos (ele não se sente à vontade mesmo participando de keynotes) e o papel de suas aparições em vídeos durante os eventos da Apple (de alguma forma, ele tenta fazer o papel de Jobs ao explicar um produto de uma forma mais apaixonada que outros executivos) — esses filmes, aliás, são criados e editados no estúdio de design da empresa (muito bem descrito no artigo).

Jony Ive

O estúdio e a equipe

Os designers passam boa parte do tempo fazendo modelos e manipulando materiais, às vezes visitando os engenheiros da Apple. Jobs costumava vir quase todos os dias. Se eu tivesse de alguma forma entrado uma hora mais cedo, teria visto uma exposição do provável futuro. Agora praticamente todas as mesas estavam cobertas por folhas de seda cinza, e eu só sei que esse futuro não será mais alto do que uma chaleira elétrica.

Apesar de publicado agora, as entrevistas e o bate-papo com Ive começaram na época do evento de apresentação do Apple Watch e dos iPhones 6/6 Plus, trazendo um pouco de informações sobre os bastidores daquele dia (como a presença de Rupert Murdoch, Kevin Durant, Marissa Mayer, Jimmy Iovine (até então CEO da Beats) e Sean Combs).

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Como o foco é Ive e sua equipe de design, é claro que há muita coisa interessante sobre a forma como eles trabalham. Um trecho, porém, me chamou muita atenção.

De volta à sala principal, notei que Ive estava assistindo a “Moon Machines”, uma série antiga do Discovery Channel sobre o programa Apollo. “Houve a realização de que precisávamos desenvolver um traje espacial, mas era difícil até mesmo saber quais devem ser as metas”, disse ele. E, em seguida, ele ligou o trabalho do estúdio à NASA: como o programa Apollo, a criação de produtos da Apple exige invenção após invenção após invenção que você nunca saberá, mas que é necessário fazer quando algo novo [é proposto].

Há também outra passagem muito interessante do texto que define bem a equipe de design da Apple. Na verdade essas palavras foram escritas por Bono (líder da banda U2) para a revista TIME:

Vê-lo com seus colegas de trabalho no local sagrado, o laboratório de design da Apple, ou em uma noite é observar um raro esprit de corps [companheirismo]. O que a concorrência parece não entender é que você não consegue reunir pessoas tão inteligentes assim para trabalhar apenas por dinheiro.

Prova irrefutável dessa harmonia é que, de acordo com Ive, apenas dois designers deixaram a equipe desde que ela foi formada há 15 anos (um deles por problemas de saúde). E o bacana do trabalho deles é que, por mais que trabalhem 12 horas por dia e não possam discutir isso com mais ninguém, cada um dos projetos tem um líder porém todos contribuem em cada um deles — em duas ou três reuniões semanais feitas na cozinha do estúdio —, dividindo o crédito final (ninguém é responsável sozinho por algo).

Carro da Apple

Saindo do estúdio e a caminho de San Francisco (onde Ive mora), Ian Parker (autor da matéria) e o chefão de design da Apple conversaram sobre um assunto para lá de importante no momento devido a diversos rumores que surgiram recentemente: carros.

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Ive demostrou uma certa insatisfação com o que anda vendo nas ruas (quando Parker perguntou a opinião dele sobre o carro ao lado, Ive disse: “É desconcertante, não é? É só um nada, não é? É apenas insípido”, se recusando a falar o nome do carro pois não queria ofender — se tratava de um Toyota Echo).

Bentley

Claro que é fácil falar algo assim quando você tem dinheiro suficiente para ter um Bentley ou um Aston Martin DB4 (carros de Ive), mas essa não é a questão. A discussão envolve a essência do design de carros atualmente, e isso acaba servindo como um alimentador dos rumores de que a Apple estaria mesmo criando seu próprio carro. E não há motivo para duvidar disso, já que o próprio Ive comentou na entrevista que ele teve a sorte de nascer rodeado por ferramentas e viver um mundo onde tudo pode ser construído.

Ele adquiriu “um entendimento natural de que tudo” — estradas, pontes, Toyotas — “é construído e é consequência de múltiplas decisões.”

Relação com Jobs

Laurene Powell Jobs (viúva de Jobs) também falou um pouco sobre a dupla Ive e Jobs. Para ela, o falecido marido “ansiava por produtos que não precisavam de ajustes de comportamento”, passando um “sentimento de gratidão por alguém realmente ter pensado naquilo como um meio de tornar a sua vida mais fácil”. Ela disse que Jobs sempre procurou por isso e não encontrava, até que ele começou a trabalhar com Ive. “Eles foram muito felizes, eles se apreciavam.”

Se Jobs e Ive tinham uma dinâmica de pai/filho, Ive e Cook parecem primos que se respeitam.

Forma de trabalho

Outra parte interessante do texto fala sobre como a Apple hoje em dia cria tudo em seu próprio estúdio. Com um financiamento praticamente ilimitado (afinal, o dinheiro que a Apple tem em caixa hoje é enorme), a empresa procura fazer quase tudo dentro do seu próprio laboratório — o que torna tudo muito, mas muito difícil de copiar.

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Em 2007, quando ela lançou o primeiro MacBook unibody, Robert Brunner (que contratou Ive na Apple e na época tinha saído para abrir sua própria empresa de design) viu aquilo e ficou impressionado. A Apple decidiu fazer aquele computador e, por isso, comprou 10 mil máquinas CNC.

Outro exemplo: após o iPhone ser lançado, a empresa de Brunner foi abordada por uma grande empresa coreana — já sabem, né? 😛 — para criar um concorrente touchscreen. Brunner comentou que eles queriam que tudo fosse feito em até seis semanas — ele, é claro, riu, afirmando que tudo aquilo demorou anos para ser construído por pessoas muito capazes.

Apple Watch

O relógio da Apple também fez parte do perfil, sendo apontado por Jeff Williams (COO da Apple) como o produto mais “Ive” da Maçã — um projeto que nasceu no outono (do hemisfério norte) de 2011.

A posição de Ive era de que as pessoas “não ligavam, de certa forma”, em carregar um telefone que é idêntico ao de centenas de milhões de outras pessoas, mas que elas não aceitariam isso em algo que que se veste. A questão, então, foi “como podemos criar uma enorme variedade de produtos e ainda ter uma opinião clara e singular?”

Apple Watch Edition

E foi assim que nasceram os três modelos do Watch e suas variedades de pulseiras. Marc Newson, aliás — que entrou para a equipe de designers da Apple em 2011 —, participou da criação do relógio desde o início.

Bob Mansfield afirmou que Ive fez tanto o papel dele quanto o de Jobs no projeto do relógio e que, mesmo assim, o designer teve que defender o projeto com unhas e dentes já que ele contava com uma certa resistência interna. Foi aí (quando Ive ganhou a queda de braço) que todos decidiram contratar uma equipe com bastante experiência na área: Angela Ahrendts (ex-CEO da Burberry), Paul Deneve (ex-CEO do Yves Saint Laurent Group), Patrick Pruniaux (da TAG Heuer, parte do conglomerado L.V.M.H.) e outros.

A forma do relógio (um retângulo com cantos arredondados) também foi explicada: grande parte das funções do Watch é mostrada em listas, e isso não faz sentido ser apresentado num relógio redondo — a forma, por sinal, lembra um dos relógios criados por Newson.

Já a Coroa Digital (que tem o propósito de dar zoom na tela pequena onde não é possível utilizar o tradicional gesto de pinça na tela por conta do seu tamanho) tem uma história curiosa. Normalmente o estúdio cria algo em torno de uma demanda da equipe de engenharia; neste caso, porém, a ideia surgiu no estúdio e Ive pediu para que os engenheiros da Apple tornassem aquilo uma realidade.

Por conta do lançamento do relógio, Ive e Ahrendts estão trabalhando juntos no redesign das lojas.

Estes novos espaços certamente irão se tornar um ambiente mais natural para vitrines cheias de ouro (e talvez menos bem-vindas, pelo menos em alguns cantos, para turistas e passantes). A Apple não se tornou, da noite para o dia, uma empresa voltada para a elite — ela vendeu [quase] 75 milhões de iPhones no último trimestre de 2014, muitos deles na China —, mas eu me perguntava quão racional, e dentro do propósito, pode-se fazer a criação de uma área VIP. Ive mais tarde me disse que ele tinha ouvido alguém dizer: “Eu não vou comprar um relógio se eu não posso estar em cima de um carpete.”

Curiosidades

Ive meio que ajudou a desenhar o novo sabre de luz que vimos no primeiro trailer do filme “Star Wars – O Despertar da Força”.

YouTube video

Ao se encontrar com J.J. Abrams (sabe como é, esses famosos todos se conhecem e são amigos) num jantar em Nova York, o designer fez algumas sugestões bastante específicas para o sabre de luz e Abrams disse que o novo filme refletiria isso. E quais foram as sugestões? Ive contou que não falou nada tão específico quanto o sabre parecer uma cruz ou algo do gênero e disse que comentou apenas sobre a arma ser um pouco mais irregular (não tão precisa), mais primitiva — ganhando um ar mais ameaçador.

·   ·   ·

Há muito, mas muito mais sobre Apple, Ive e companhia no belíssimo perfil escrito por Parker. Se você domina o idioma inglês, sugiro muito a leitura!

[via The Loop]

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