O melhor pedaço da Maçã.

Tim Berners-Lee, pai da WWW, acha que a Apple está matando sua cria uma música de cada vez

iTunes Music Store no desktop e iOS

Tem horas em que eu sinto estar perdendo alguma mensagem secreta que só pessoas inteligentes conseguem captar. Veja, por exemplo, este extenso artigo de Tim Berners-Lee na Scientific American: nele, o pai da World Wide Web comenta uma série de ameaças à liberdade na internet e, claro, a Apple é uma delas — mais especificamente por causa da iTunes Store, ponto em que ele se foca ao longo de um parágrafo.

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iTunes Music Store no desktop e iOS

Vejamos esse trecho ponto a ponto e quem sabe você me ajuda a entender o grande mal que a loja de músicas da Maçã faz ao mundo livre.

Em contraste, não usar padrões abertos cria mundos fechados. O sistema iTunes da Apple, por exemplo, identifica músicas e vídeos usando URIs [Universal Resource Identifier, ou URL, de Locator] que são abertas. Mas em vez de http:, o endereço começa com itunes:, que é proprietário. Você só pode acessar um link itunes: usando o programa proprietário iTunes da Apple.

Ok, se bem entendi, Berners-Lee critica o funcionamento da loja dentro do aplicativo da Apple. Mas será que ele já conhece o iTunes Preview?

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Você não pode criar um link para nenhuma informação no mundo iTunes — uma canção ou informação sobre uma banda.

Acho que isso quer dizer que não: links existem, e é possível até ver o texto associado aos álbuns e artistas. Ok, de fato não dá mais pra ouvir trechos das músicas (birra das gravadoras?): quanto a isso realmente o iTunes Preview ficou devendo à web, mas é algo longe de ser catastrófico como ele faz parecer.

Você não pode mandar um link para outra pessoa ver.

Começou a ficar ridículo. Quer saber qual é um dos meus álbuns favoritos? Clique aqui. Não precisei nem usar o iTunes para pegar esse link: bastou googlar iTunes Alanis Moratorium e era o sexto resultado [no Bing, a versão Deluxe do mesmo álbum foi o 11º]. Usando o aplicativo da Apple fica mais fácil ainda, óbvio, mas mandar esse link para qualquer pessoa é uma tarefa fácil, que pode ser feita via email, redes sociais ou uma página da web, como a que você está vendo agora.

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Você não está mais na Web. O mundo iTunes é centralizado e murado.

Sabe o que isso me fez lembrar? Um shopping center: ele é murado, limitado, privado, seguro, concentra serviços e lojas, etc. Por que muitas pessoas preferem centros de compra a lojas com acesso direto à rua ou feiras livres? Um desses conceitos matou os outros, ou eles coexistem, cada um em seu ambiente? É algo a se pensar.

Você está preso em uma única loja, em vez de estar em um mercado aberto. Apesar de todas as características maravilhosas da loja, sua evolução é limitada ao que uma única empresa deseja.

Hmmm… Não é assim com absolutamente todas as lojas do mundo, sejam elas online ou físicas? Uma empresa as abre, uma empresa as mantém, uma empresa as fecha e você só consegue estar em uma de cada vez. Existe algum “mercado livre” como esse que Berners-Lee menciona? Existe um espaço de vendas aberto, sem dono, que seja coordenado pela comunidade? E mais: a existência de várias lojas fechadas individuais não pode ser encarada como um mercado aberto? A iTunes Store usa um aplicativo para fazer vendas (mas não para exibir informações, como já demonstramos), mas a Amazon.com MP3 usa a web para tudo. Quer dizer que esta loja é melhor que aquela, sendo ambas igualmente fechadas e controladas por uma empresa só?

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O artigo de Berners-Lee aborda uma série de outros pontos e vai a fundo na defesa da liberdade na internet, mas algumas coisas precisam ser esclarecidas, antes de sair dizendo que o fim do mundo livre vai começar por causa de uma loja de conteúdos que são, pela vontade de seus próprios criadores, fechados. Ou você acha que os Beatles só apareceram agora na iTunes Store porque eles defendem toda essa conversa de “aberto” e “livre”? Tipo, não teve que rolar nenhuma remuneração polpuda pra eles, foi só ideologia que os manteve longe do jardim murado da Apple.

Muito mais proveitoso é ficar de olho no Google, que já estava todo empavonado pro lado da Verizon Wireless para criar um sistema de discriminação de conexões (o oposto de net neutrality) em celulares. “Aberto”, sei… Se esse tipo de “abertura” virar moda, os usuários finais vão acabar ferrados. 😛

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