O que acontece quando várias mulheres se encontram num mesmo ambiente? Pelas mulheres que conheci, eu diria que ela começam a conversar sobre todo tipo de coisa — inclusive assuntos que fariam muitos homens corarem. E o que acontece quando John Gruber (do Daring Fireball), Jason Snell (da Macworld, a revista), Adam Engst (do TidBITS) e Dan Moren se encontram no palco de um painel da Macworld (o evento)? Eles falam longamente sobre o futuro do Mac!
E é isso o que o vídeo abaixo, de quase 50 minutos, traz:
Uma versão só com áudio [24MB] pode ser baixada aqui.
Infelizmente, está tudo em inglês e sem legendas, o que certamente é muito chato para quem não domina o idioma… então é por isso que eu pretendo curtir meu almoço de domingo assistindo a este vídeo e tomando nota dos principais pontos para compartilhar com vocês mais tarde. Quem quiser começar a ver desde já e ir deixando comentários pode ficar à vontade!
Não é como se a programação da TV hoje fosse imperdível nem nada, né?
[via MacStories]
Atualização (às 18h05)
Conforme prometi, aqui estão os tópicos centrais discutidos. Nada é muito novo ou arrasador para pessoas antenadas no futuro do Mac como os leitores do MacMagazine [ 😉 ], mas mesmo assim é bem interessante para guardar e ruminar — mesmo porque o Lion chega em menos de seis meses. Sem mais delongas, vamos aos tópicos!
Se funciona no iOS, funciona no Mac?
Uma grande preocupação é se a Apple pretende fazer o Mac OS X à imagem e semelhança do iOS em tudo. A iOS App Store funciona muito bem na hora de instalar um app (“Comprar”, ele aparece na Home Screen), mas o mesmo não pode ser dito da Mac App Store (“Comprar”, ele aparece no Dock… multiplique isso por 30 e imagine o Dock que resulta).
A coisa piora, na hora de desinstalar: nada da simplicidade do iOS (toque um ícone por alguns segundos, pressione o X, confirme, BOOM!) vale para o Mac OS X (vá à pasta Applications, mande o app pra lixeira, autentique com dados de um administrador… e reze para arquivos de preferências e afins não terem ficado pra trás). Muitas pessoas não têm noção da existência da pasta Applications e podem se confundir, achando que remover um ícone do Dock é o equivalente a apagar o app.
O Launchpad pode ser outro problema: quem ainda usa todas as Homes Screens para caçar um app em meio a dezenas (ou centenas)? Especialmente no Mac OS X, onde tudo é azul, os ícones muitas vezes não ajudam. Acaba-se recorrendo ao Spotlight em ambos os casos.
Na hora de gerenciar arquivos, o iOS é um desastre: seus documentos ficam dentro dos apps e não há uma forma simples de compartilhá-los. Isso simplifica a vida de um usuário que só precisa saber que uma apresentação está a salvo no Keynote, ou que há um filme no iMovie, mas complica muito a vida de quem precisa fazer qualquer coisa mais complexa, como editar um mesmo arquivo em mais de um documento.
A direção que a Apple segue parece ser a mesma desde o surgimento do iTunes: focar-se na finalidade (a música), e não no meio (o arquivo MP3/AAC). Isso indica que o Finder pode sumir no futuro, como aconteceu no iOS? Enquanto no iPhone e no iPad a quantidade de memória é limitada e fixa (não dá pra expandir posteriormente com um HDD novo ou com um cartão SD), no Mac ainda é vital poder usar memória externa, e para isso o Finder ainda será necessário para o usuário determinar onde se encontram os dados de que um aplicativo precisa.
Um ponto polêmico da interface do Mac OS X 10.7 Lion que já está entre nós são os aplicativos em tela cheia: o iPhoto ’11, por exemplo, tem duas interfaces totalmente diferentes que não interagem muito bem com outros aplicativos. É preciso, por exemplo, fazer muito scrolling, pois tudo é grande demais nesse modo, e o iPhoto sai do modo de tela cheia sempre que se vai a outro aplicativo.
Uma curiosidade é que o botão roxo na interface da primeira versão beta pública do Mac OS X, o qual fazia os programas rodarem uma janela de cada vez, agora parece indicar que desde aquela época a Apple já planejava essa forma de exibir aplicativos não em janelas, mas ocupando toda a tela de um Mac. Por outro lado, enquanto isso funciona muito bem em gadgets móveis (eles praticamente se transformam no app e o usuário interage diretamente com o software), em computadores ainda há o teclado e o mouse/trackpad agindo como uma barreira.
Em termos de elementos de interface de apps do sistema, é possível que os web apps do MobileMe apontem a direção que a Apple pretende seguir: eles já são, de certa forma, exatamente os aplicativos do iPad disponíveis no seu desktop.
Multi-touch
Apesar de o uso de gestos multi-touch em trackpads ser uma das melhores inovações do Mac (o scroll com dois dedos é uma unanimidade em termos de utilidade, praticidade e ergonomia), há um problema complicado de resolver: praticamente nenhum gesto (nem o scroll) é intuitivo em um trackpad ou, em certos casos, numa touchscreen. O Magic Mouse é um caso à parte: talvez em alguns anos olhemos para ele como olhamos hoje para o “Hockey Puck”.
Como alguém pode saber que, deslizando quatro dedos para a esquerda ou para a direita troca de aplicativo, se não for passando por um treinamento? Cadê a facilidade de poder pegar um gadget ou computador e começar a usá-lo naturalmente, desde a primeira vez?
Acontece que gestos poderão ser, para o multi-touch, o que os atalhos de teclado eram para o primeiro Macintosh. No início, a Apple procurou educar os usuários a respeito do mouse, de forma que nem setas o teclado tinha — se você quisesse fazer algo na tela, teria que usar o rato para apontar, ponto final. Com o tempo, porém, os atalhos de teclado foram introduzidos e power users passaram a contar com eles… só que a maioria das pessoas nem ao menos sabe que atalhos de teclado existem.
Atalhos de teclado têm que ser aprendidos e facilitam muito a vida de quem os conhece, mas o uso básico de um Mac não depende deles. Tudo isso pode ser dito de gestos complexos.
Fechado por padrão, aberto para quem assim o quiser
Não dá pra ignorar que a simplicidade do iOS como sistema fechado é parte do que o tornou tão popular: será que a Apple não pode se sentir por demais tentada a levar isso pro Mac? Uma forma de tornar isso possível é fechar o Mac (por exemplo, escondendo o Finder e autorizando instalação de aplicativos somente pela App Store) por padrão, mas dar ao usuário a possibilidade de reverter isso — como um botão de jailbreak vindo de fábrica. Ou, se for o caso, vender um Mac de entrada simplificado.
Isso reforçaria a visão de Steve Jobs quanto ao computador tradicional evoluindo para ser como o caminhão: ele vai continuar existindo e ainda será necessário, mas cada vez menos pessoas vão precisar de um.
Alguém ainda precisa fazer apps e o iOS (ainda) não pode oferecer isso: o Mac deverá continuar mais ou menos como está por um tempo.
O hardware de amanhã
Duas coisas ficam claras na linha de Macs atual da Apple: o MacBook Air dita o caminho dos portáteis e o iMac de 27 polegadas, o dos desktops. Se for para ser um notebook, que seja o mais fino e leve possível; se for pra ficar confinado a uma mesa, que tenha logo a maior/melhor tela que o dinheiro puder comprar. Com o tempo, máquinas como o MacBook branco ou até o MacBook Pro de 13 polegadas vão ter poucos motivos para existir.
Quanto ao uso de SSDs, ainda é preciso superar o problema do armazenamento limitado que eles proveem a preços regulares. Uma forma de contornar isso seria usar a nuvem (o data center da Carolina do Norte ainda está lá, né?). Para aumentar a mobilidade de seus notebooks, uma coisa que a Apple pode fazer é adicionar 3G a eles — intimidade com operadoras, ela já tem.
Uma coisa é certa, porém: tela multi-touch num Mac? Não há braço que resista. Se até segurar um iPhone para falar via FaceTime por muito tempo já é difícil!…
Intel, ou não-Intel: eis a questão
Dado o sucesso do chip A4 nos iGadgets, não é improvável que a Apple tenha planos de se tornar autossuficiente em termos de design de processadores de Macs, no futuro, libertando-se da Intel. Não faz tanto tempo assim que ela abandonou os chips PowerPC, que se tornaram cada vez menos eficientes com o passar das gerações, a ponto de serem inviáveis para máquinas portáteis, e para fazer um MacBook Air cada vez mais fino e leve pode ser que uma mudança de paradigma se faça necessária.
São grandes as chances de existirem builds do Mac OS X sendo compilados para outros tipos de processadores — não foi exatamente isso o que aconteceu na transição para chips Intel? A Apple não gosta de depender de outras empresas, e, se a briga entre Intel e NVIDIA nos mostrou alguma coisa, é que não dá pra confiar que tudo vai ficar bem para sempre.
Desenvolvedores do Mac que criarem aplicativos extremamente dependentes de processadores Intel poderão se ver diante de um belo problema, nos próximos anos.