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Quero correr mas não sei se compro um Apple Watch, um Garmin… e agora?

Michel correndo uma maratona com um Garmin e um Apple Watch

De certa forma, eu fiquei na dúvida de como abordar este tema sobre qual é o melhor smartwatch para corrida — é quase como falar de política ou religião, para algumas pessoas. Dito isso, conduzirei o artigo com base na minha experiência como corredor amador com mais de 8 maratonas (42km), várias meia-maratonas (21km), muitas provas de 10km, poucas de 5km e diversos treinos para conseguir fazer tantas provas — isso tudo alternando entre um Garmin fēnix 5 e um Apple Watch (desde a primeira geração); algumas vezes, eu cheguei a correr com os dois smartwatches, um em cada braço!

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Antes, um aviso importante: não é o relógio que vai lhe fazer um corredor melhor ou pior, e sim os seus treinos; o relógio é apenas uma forma de lhe ajudar nos treinamentos, fornecendo informações para fazer os ajustes necessários a fim de conseguir uma evolução.

Infelizmente essa matéria tem vários “depende”, pois — adivinhe! — tudo depende muito do seu objetivo: se você quer apenas correr, se quer que o relógio faça coisas além da corrida, se gosta de uma experiência mais interativa… ou seja, se eu listar todos os “se” aqui, não vamos acabar nunca. Mas eu vou tentar lhe ajudar a fazer uma escolha.

Como eu comecei

Vamos, então, à minha experiência. Sempre fui geek e gosto de coisas mais modernas. Tive todos os Apple Watches e iPhones, desde as primeiras gerações; comecei a correr usando somente o iPhone e o aplicativo Nike+ Run Club. Ele me atendeu muito bem por muito tempo, enquanto meu objetivo na corrida era apenas saber o quanto corri e ter uma noção da velocidade que estava (tanto para corridas externas quanto em esteiras, em ambientes fechados).

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Assim como qualquer dispositivo, a dupla Apple Watch e Nike+ Run Club tem seu grau de imprecisão, mas lhe ajuda a manter o controle. Eu ainda sou um corredor amador, mas era muito mais inexperiente e só precisava visualizar mesmo a distância percorrida e o meu pace (velocidade em minutos por cada quilômetro percorrido) para, na próxima vez, tentar ter uma referência e fazer melhor.

Conforme eu fui melhorando na corrida, queria deixar de levar tantos acessórios — afinal, eu tinha que comprar braçadeiras ou pochetes para ter o celular comigo —, mas relutei em comprar um relógio de corrida antes de o Apple Watch dar as caras.

A primeira versão do Apple Watch ainda dependia muito do celular, mas foi uma experiência legal. Ainda que eu tivesse que colocar o celular em uma cinta (de forma que não balançasse por baixo da camiseta), eu não ficava exposto para correr nas ruas de São Paulo e, através do relógio, conseguia utilizar o app da Nike para monitorar o essencial — e ainda recebia notificações de outros apps. Se fosse realmente algo importante, eu parava e abria o telefone.

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Durante bastante tempo, eu corri com o Apple Watch e o telefone. Aí saiu o Apple Watch Series 2 e tudo melhorou ainda mais, pois era possível correr apenas com ele (o relógio finalmente tinha um GPS para chamar de seu). Com a chegada do Series 3, a performance e a bateria melhoraram mais ainda. Ainda assim, estamos falando de um smartwatch que precisa ser carregado todo dia se você usá-lo para fazer exercícios. Estamos agora no Series 4 e, por mais que a bateria esteja durando ainda mais, eu não arrisco dizer que ainda seja um dispositivo que aguente ficar dois dias sem carregar — só se você usar bem pouco mesmo (por exemplo, não fazendo nenhum exercício).

Como o Garmin entrou na minha vida

Certa vez, quando o Apple Watch ainda rodava o watchOS 2, o app da Nike estava travando no meio das minhas corridas. Era um bug que tinha na época e afetou muita gente. Mas eu sou tão chato com esse tipo de coisa que o meu caso foi parar na mesa de um dos diretores da Nike na Filadélfia (Jackson Tse, diretor de produto do app Nike+ Run Club). Sem entrar muito em detalhes, era um bug muito chato que foi resolvido apenas com a chegada do watchOS 3; na época, porém, ninguém sabia exatamente o que era e, ao me deixar na mão em uma meia-maratona e em uma maratona, eu resolvi comprar um Garmin (o fēnix 5).

Garmin fēnix 5

Demorei um pouquinho para me adaptar, mas ao mesmo tempo achava ele mais charmoso no quesito relógio. Era um pouco mais pesado mas, em contrapartida, a bateria durava dias — confesso que eu nem lembro ao certo quanto durava, mas eram dias sem recarregar!

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Na época, eu comecei a ver as diferenças de um relógio mais focado em corrida para um smartwatch que atende a várias necessidades. Iniciar as funções de corrida em um Garmin com botões físicos é, de certa forma, bom (principalmente quando você está suado ou está chovendo). Também é muito mais rápido pausar o treino e recomeçar, por exemplo — no Apple Watch, como a tela é sensível ao toque, o suor muitas vezes atrapalha bem esse processo.

Uma outra vantagem que vi na época, usando o Garmin, foi o acesso às informações da corrida durante o exercício. O Apple Watch vem melhorando bastante nesse ponto mas, ao virar o punho para ver o seu ritmo, distância, etc., a informação está praticamente sempre disponível no Garmin; já no relógio da Apple, você tem que contar que ele entenda que você virou o punho — e isso nem sempre acontece (principalmente em corridas mais rápidas — no caso de uma corrida mais leve, essa taxa de erro diminui bastante).

Quando você está se tornando de fato um corredor, mais preocupado com resultados, eu diria que o Garmin tem informações mais importantes para ajustar detalhes a fim de melhorar, medir Vo2, calcular tempos adequados de descanso entre uma corrida ou outra, fazer treinos intervalados, importar planilhas de treinos pelo site da Garmin, etc.

Porém, para quem usava um Apple Watch e começou a usar um Garmin — e por ser exigente quanto à experiência de aplicativos —, eu sentia muita falta da forma de interação entre o smartwatch e o meu telefone. A informações de notificação que eu tinha no Apple Watch eram mais ricas (mais completas, por assim dizer) — sem falar na possibilidade de realizar algumas ações pelo Apple Watch, que iam desde apagar mensagens ou responder algumas a ver imagens de alguns aplicativos (tudo sem tirar o telefone do bolso). Já no Garmin, as notificações são recebidas, mas numa experiência muito mais limitada, focada 100% em… notificar. Isso me frustrava muito.

Precisão dos dados

Agora vem a parte complicada.

Normalmente, os relógios de corrida precisam pegar o sinal do GPS para calcular a velocidade que você está, assim como a distância percorrida ou que falta. Não é obrigatório mas, sem isso, você conta apenas com as aproximações feitas pelo software do relógio para medir e mostrar as informações necessárias.

A “vantagem” do Apple Watch é que ele não lhe dá essa opção de esperar o sinal do GPS aparecer. Você liga e, em até três segundos, pode começar a corrida — ele tem um cálculo aproximado da sua velocidade muito bom, mesmo que você esteja sem sinal de GPS. Já no fēnix 5 é recomendado pegar o sinal do GPS primeiro — nas vezes em que tentei sair sem o sinal estar “firme”, a medição de velocidade foi um desastre (você consegue ver isso pelo indicador que fica vermelho, amarelo e verde).

Como disse, eu já fiz algumas corridas com os dois relógios para medir a precisão. O monitoramento do ritmo em tempo real varia bastante de um para o outro; já a média por quilômetro costuma ser bem aproximada. A impressão que eu tenho é que o Apple Watch mostra que você está um pouco mais rápido do que realmente está na velocidade real, porém, na média geral, a distância é correta.

Apple Watch Nike+

Já tive problemas com os dois relógios, então se eu falar “pegue um ou pegue outro”, você em algum momento ficará na mão e vai achar que fez uma escolha ruim. Não se engane: relógios de corrida dão problema, sim, em alguns lugares. Na maratona de Chicago, por exemplo, como tem muitos prédios altos, eu corri 8km sem conseguir medir minha velocidade real com Garmin; a mesma coisa aconteceu na meia-maratona de Nova York (também com Garmin); na maratona que fiz em Berlim, o Apple Watch mediu 1km a menos que o Garmin e, por isso, não chegou a medir todo o meu percurso (que tem 42km e 195m, mas acabou marcando até 41km no Apple Watch) — eu não sei dizer se em algum momento, por conta do suor ou até mesmo por conta de um esbarrão em alguém, o exercício foi pausado; ou se tudo foi mensurado errado mesmo.

Por esse motivo, comecei a correr com os dois relógios. Isso é horrível, já que é mais um “peso” desnecessário — e quando estamos falando de provas longas, quanto menos peso levar, melhor (mesmo que seja o peso de um mero relógio).

Vale lembrar também que a Garmin tem relógios para monitorar o seu nível de atividade básica, como passos ao longo do dia, algum exercício mais básico… além de modelos específicos só para corrida e outros multiesportes (corrida, bicicleta e natação).

No geral, o Apple Watch atende bem em todos esses quesitos — além de ter uma experiência mais legal quando você está competindo com amigos, lhe estimulando a bater metas (sejam elas de calorias diárias, para ficar em pé ou completar exercícios). A maioria dos outros smartwatches também tem mas, novamente, estamos falando aqui de gosto.

Eu uso o Apple Watch e a experiência dele atende tanto as minhas necessidades de integração com celular de maneira mais rica quanto a dos treinos básicos. Quando vou para alguma prova importante ou até mesmo um treino mais longo, acabo levando o meu Garmin.

O Garmin também tem vários aplicativos mas, ao mexer neles pelos botões, você acaba perdendo um pouco quando comparamos a experiência da tela multitoque do relógio da Apple. Para quem curte mostradores personalizados, o Garmin conta com alguns inclusive que o deixam com cara de relógio clássico de verdade.

Conclusão

Com base nos modelos que testei até agora, eu diria o seguinte:

  • Se você está começando a correr, nadar ou pedalar e curte uma experiência mais rica e detalhada de apps, o Apple Watch vai lhe atender muito bem;
  • Se você já está levando a corrida, natação ou pedalada mais a sério e precisa de informações mais importantes para o seu esporte, o Garmin seria o caminho;
  • Se você quer dormir com relógio, nem pense no Apple Watch — já que terá que recarregá-lo todos os dias;
  • Se você está em dúvida, talvez pegar um Apple Watch seja melhor — na minha experiencia, vender um Apple Watch é bem fácil e aí você pula para o Garmin depois;
  • Se você tem um Android, vá de Garmin, afinal o Apple Watch só sincroniza com iPhone;
  • Se você quer algo mais estiloso, mais parecido com um relógio clássico, o Garmin tem muitas opções bacanas.

Me desculpe pelos muitos “se” no texto, mas como estamos falando de gosto, eu tive que tentar dar vários exemplos para que você leia, reflita e tome a sua decisão. Usei como base o Garmin que tenho mais propriedade para comparar e uso com mais frequência, mas esse tipo de comparativo vale para outras marcas (a Polar está vindo com relógios novos muito bonitos; a TomTom tem um estilo diferente, com pulseiras coloridas e fáceis de trocar; etc.). No geral, todos têm notificações e algumas vantagens, mas uma coisa é fato: o básico (medir o ritmo, a distância percorrida, batimentos cardíacos e manter o histórico das suas corridas) todos fazem!

Eu estou usando o Apple Watch Series 4 desde o seu lançamento (em 21 de setembro) e não senti diferença em relação às versões anteriores; vale ressaltar, porém, que na corrida indoor ele está medindo meu ritmo mais devagar do que eu realmente estou correndo (talvez eu tenha que correr mais na rua com ele para que ele seja recalibrado).

O fato de a tela ser maior é legal (antes eles tinham 38mm e 42mm; agora os modelos são de 40mm e 44mm) mas, durante a corrida, a menos que você tenha alguma dificuldade de visão, não foi uma grande mudança. Creio que as empresas ainda precisarão explorar mais o fato de a tela ser maior, para trazer informações mais úteis já que agora temos mais espaço. Mas isso ainda não aconteceu.

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