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Scary late: a ausência de novos periféricos com USB-C é absurda (ou talvez seja uma boa notícia)

Para o evento “Scary fast”, muitos (inclusive eu) davam como certa a substituição do Lightning pelo USB-C no Magic Keyboard, no Magic Trackpad e no Magic Mouse. Passado o evento, muitos (inclusive eu) estão descrentes que eles sigam iguais.

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Parte disso foi graças ao fato de a Apple já ter adotado o USB-C em todos os seus outros produtos e acessórios, a maioria em 2023. Outra parte foi graças à expectativa criada por jornalistas e leakers que, desde o ano passado, dizem que periféricos com USB-C estão a caminho.

O “Scary fast” veio, o “Scary fast” foi-se e nada dos novos periféricos com USB-C. De certa forma, os analistas e leakers acertaram: eles ainda estão a caminho. Provavelmente.

O xalalá da simplicidade

Na apresentação dos iPhones 15, a Apple separou alguns segundos para justificar a substituição do Lightning. Segundo ela:

O USB-C se tornou um padrão universalmente aceito. Por isso, estamos trazendo-o para o iPhone. […] Ele já está presente em produtos da Apple há anos. Agora, o mesmo cabo pode carregar o Mac, o iPad, o iPhone, e até os AirPods Pro de 2ª geração.

O que a Apple não mencionou, é claro, foi o fato de essa migração ter sido graças à míope lei europeia que obrigará a adoção permanente do USB-C para carga via cabo em “telefones celulares, tablets, câmeras digitais, fones de ouvido supra-auriculares e headsets, consoles portáteis, caixas de som portáteis, leitores de livros digitais, teclados, mouses, sistemas de navegação portáteis, earbuds e laptops” a partir de 28 de dezembro de 20241No caso dos laptops, vale notar, a obrigatoriedade entrará em vigor apenas em 2026..

Com isso em mente, era razoável imaginar que os periféricos de Macs ganhariam USB-C na última semana. Afinal, além de só restarem eles para serem atualizados, isso reforçaria o argumento ambiental e de simplicidade feito pela própria Apple2Além de finalmente enterrar esse assunto de uma vez por todas..

Kaiann Drance, vice-presidente mundial de produto na Apple, apresenta as vantagens do USB-C para o iPhone 15

O problema é que, no caso da empresa, esses argumentos eram era apenas uma fachada. É claro que eram. Ninguém esperava que ela fosse dizer: “Estamos fazendo isso por obrigação, mas não queremos parecer submissos. Por isso, tomem aqui o USB-C. Não porque é melhor, mas sim porque é inevitável e precisamos controlar a narrativa. A gente finge que foi ideia nossa e vocês fingem que acreditam. Combinado?”

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A mudança do iPhone para USB-C nunca foi sobre conectividade, universalidade ou meio ambiente. No caso dos periféricos, também não seria.

Expectativa vs. realidade

Como eu explorei há duas semanas, a reação ao novo Apple Pencil foi prejudicada por rumores que criaram expectativas bem mais empolgantes do que a realidade3Tipo os mal-entendidos que acontecem em todos os episódios de “Todo Mundo Odeia o Chris”, para quem não entendeu a brincadeira. (E sim, o plural é mal-entendidos. Estranho, né?).

No caso dos periféricos, foi parecido. Coletivamente, nós decidimos que era inevitável que eles ganhariam USB-C no evento “Scary fast”. Na verdade, muitos já davam isso como certo para o evento Wonderlust, graças à expectativa da chegada do USB-C aos iPhones4Para ser justo, a expectativa de setembro não foi sem fundamento. Os estoques dos periféricos deram uma minguada às vésperas do evento, junto a um raro desconto significativo no varejo dos EUA. Onde há fumaça….

O resultado, já sabemos. 2023 está terminando, nossa expectativa autoimposta não foi correspondida, e a culpa é… da Apple? Por mais que seja incômodo admitir, essa conta não fecha 100%.

É óbvio que é frustrante ver a geração atual de periféricos de Mac praticamente intocada desde 20155O Magic Keyboard é a exceção, com o lançamento da versão com teclado numérico em 2017, e a geração munida de Touch ID em 2021.. Não faltaram tempo, oportunidade e motivos para a Apple se mexer. No caso do Magic Mouse, a situação é especialmente incômoda, já que ele é criticado desde o dia do lançamento por seu método inelegante de recarga. Mas talvez haja uma forma de otimista olhar para a situação.

Magic Mouse 2 carregando

A forma de otimista olhar para a situação

Partamos de uma premissa básica: em algum momento próximo, a Apple terá que lançar uma nova geração de periféricos. Aliás, bons motivos já não faltam: atualizar o Bluetooth (atualmente, 3.0), incorporar a tecnologia UWB6Ultra wideband, ou, tecnologia de banda ultralarga., talvez adotar o padrão Qi como forma extra de carregamento (pelo menos no caso do Magic Mouse) e, é claro, trocar o Lightning pelo USB-C. Isso sem mencionar novas funcionalidades, cujo céu seria o limite, e quem sabe novos designs. Aliás, para vocês que têm os acessórios, quais novas funcionalidades gostariam de ver?

De qualquer forma, se esse tipo de atualização estiver a caminho, especialmente antes do prazo-limite da Europa, parece improvável que a Apple — a empresa que mais espreme margem de lucro no mundo — gastaria tempo e dinheiro para desenvolver, fabricar e distribuir ao redor do planeta uma versão intermediária dos periféricos atuais, apenas para trocar Lightning or USB-C e vendê-la por alguns meses.

Em vez disso, dada essa premissa, ela faz a coisa certa: inclui na caixa um cabo USB-C para Lightning (inclusive no caso do iMac), resolvendo qualquer problema de compatibilidade. Na prática, a entrada dos acessórios poderia ser P2, de 30 pinos ou em espiral. Com o cabo incluído na caixa permitindo a conexão via USB-C em outros dispositivos, não há incompatibilidade7A menos que o seu Mac tenha apenas entradas USB-A, é claro..

O fato de a Apple não ter atualizado seus periféricos com USB-C na última semana não significa que ela tenha confirmado que ela nunca o fará. Aliás, pode significar justamente o oposto: que um update relevante deverá vir antes do final do ano que vem. Se ela tivesse apenas trocado o Lightning por USB-C, isso provavelmente significaria que passaríamos mais 5 a 10 anos sem ver grandes novidades nesses acessórios, o que aí sim seria uma pena.

Por isso, por mais irritante que seja esse marasmo na linha, talvez valha aguardar mais alguns meses. Especialmente se isso significar o fim das lamúrias sobre o método de carregamento do Magic Mouse. Mas não quero correr o risco de criar grandes expectativas.

Notas de rodapé

  • 1
    No caso dos laptops, vale notar, a obrigatoriedade entrará em vigor apenas em 2026.
  • 2
    Além de finalmente enterrar esse assunto de uma vez por todas.
  • 3
    Tipo os mal-entendidos que acontecem em todos os episódios de “Todo Mundo Odeia o Chris”, para quem não entendeu a brincadeira. (E sim, o plural é mal-entendidos. Estranho, né?)
  • 4
    Para ser justo, a expectativa de setembro não foi sem fundamento. Os estoques dos periféricos deram uma minguada às vésperas do evento, junto a um raro desconto significativo no varejo dos EUA. Onde há fumaça…
  • 5
    O Magic Keyboard é a exceção, com o lançamento da versão com teclado numérico em 2017, e a geração munida de Touch ID em 2021.
  • 6
    Ultra wideband, ou, tecnologia de banda ultralarga.
  • 7
    A menos que o seu Mac tenha apenas entradas USB-A, é claro.

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