Você é aquele cara ou aquela menina que “entende de computador”, no seu grupo de amigos, colegas e conhecidos? Parabéns, você faz parte de uma minoria. Às vezes, por estarem sempre cercados por informações de tecnologia de ponta, geeks esquecem que grande parte das pessoas não sabe a diferença entre HTTP e FTP (e FDP), ou que mexer em um mouse para fazer um ponteiro ir numa dada direção pode ser quase magia arcana. Ok, essa segunda parte é uma hipérbole, mas nem se afasta tanto assim da realidade de alguns indivíduos.
JP Teti, um garoto de 14 anos que é web designer e desenvolvedor, percebeu recentemente que o iPad é perfeito para a maioria das pessoas e que os únicos ralhando com o fato de ele ser “fechado” são membros de uma minoria que se importa com a possibilidade de rodar Linux em um dado hardware. Veja só o que uma colega de classe dele disse:
Bem, meu avô ia comprar um laptop de presente pra mim, como presente de gradução [do Ensino Fundamental], mas não conseguimos encontrar o que eu queria, e minha mãe disse “Talvez você devesse ver aquele tal iPad”, e é do mesmo preço e ele faz mais coisas.
“Ele faz mais coisas.” Alguma queixa por não ser open source?
Pro usuário comum, o iPad oferece, logo de cara, email, navegação na web (logo, Facebook) e YouTube. Adicione a isso a App Store e fica fácil entender o que é esse “mais” a que a garota se refere. Uma menina de 14 anos precisa saber reinstalar um sistema operacional ou desfragmentar um disco e reparar permissões? Será que ela não pode se focar em outras coisas, mais úteis, como música, balé, arte, tiro, basquete, biologia ou astronomia?
Simplificando gadgets, a Apple consegue colocar tecnologia de ponta nas mãos das pessoas sem que elas precisem ter medo — medo de quebrar algo, de instalar um vírus ou de serem vítimas de um scam. A App Store faz com o iPad coisas com que muitos notebooks nem sonham (vide GarageBand, que é melhor no iOS do que no OS X!). No iOS, você pode mexer do jeito que quiser, instalar apps, experimentar, mexer de toda forma e nada de ruim acontece (tirando a fatura do cartão de crédito, claro).
No futuro, essa geração vai preferir se dedicar a suas áreas de competência e deixar os conhecimentos aprofundados de computação apenas para quem realmente precisa deles. Computadores como o iPad não vão ser o fim da computação; pensar isso é o mesmo que achar que comprar um automóvel montado é o fim da mecânica. Em vez de perder tempo somente aprendendo a usar um computador desnecessariamente complexo, será possível focar-se no que interessa e fazer a máquina trabalhar para você — e não o contrário, que é o que ocorre com a maioria dos gadgets “abertos”.
Nem sempre a reação dos geeks diante disso é positiva: imagino até que muitos dos detratores do iPad processam, inconscientemente, a ideia de que, se essas máquinas ficarem realmente fáceis de usar, ser “o cara que entende de computadores” vai deixar de ser algo especial. É por isso que Motorola, Samsung, Google e outras estão investindo tanto em gadgets mais complexos: esse tipo de foco ajuda a mostrar que, se estes produtos se popularizarem, seus amigos, parentes e conhecidos vão continuar recorrendo a você para, por exemplo, instalar a Amazon Appstore num gadget (oito passos são um pouco demais para muita gente). E imagino que seja por isso que algumas pessoas adoram o jailbreak: amigos chegando, humildemente, e pedindo ajuda para “destravar” um iPad deve dar uma power-trip da boa.
A gota d’água, tenho certeza, vai ser quando um Mac se tornar tão fácil de usar quanto um iPad (“Como ousa a Apple fazer a plebe ter acesso a computadores?!”). Só que o Lion vem aí justamente para avançar nessa direção — você, geek, se prepare, pois seus dias de assistência técnica da família podem estar contados.
[via Daring Fireball]
