Você provavelmente nunca ouviu falar de Jason Yuan, mas a relação dele com uma certa empresa de tecnologia da qual tratamos aqui diariamente é mais forte do que você poderia imaginar. Explico: há algum tempo, Yuan, um estudante de design da Universidade Northwestern (nos Estados Unidos), candidatou-se para uma vaga de estágio na Apple — mais precisamente, na equipe do Apple Music.
A princípio, tudo corria às mil maravilhas: ele, junto de um pequeno grupo, foi selecionado entre milhares de candidatos para uma entrevista em Cupertino. Aí veio o baque: os recrutadores rejeitaram Yuan, explicando numa carta que estavam procurando por candidatos com mais maturidade e treinamento (muito embora geralmente estas sejam coisas que se adquira justamente num estágio… bom, eu vou ficar calado por hoje).
O jovem, então, resolveu levar aquele feedback a sério de uma forma que a maioria dos candidatos não faz. Por meses, Yuan dedicou-se a construir uma proposta de redesign para o Apple Music — um serviço que, mesmo com a radical atualização no iOS 10, continua com uma série de problemas de interface e, francamente, come poeira de um certo concorrente sueco e verde.
Agora, Yuan publicou o seu trabalho no Medium e, além de um projeto para lá de interessante, temos uma bela análise sobre interfaces de usuário modernas e reflexões sobre recursos e aspectos que funcionam ou não num aplicativo de streaming.
Um dos principais conceitos introduzidos pelo estudante tem a ver com a dicotomia dos “acumuladores” e dos “nômades” — segundo ele, os usuários dos serviços de streaming caem em algum lugar neste espectro entre aquela figura que tem uma grande biblioteca/seletividade acerca daquilo que vai ouvir ou a que prefere descobrir coisas novas com playlists públicas e conteúdo de terceiros. A ideia de Yuan foi juntar estes dois tipos de público com um novo recurso chamado “My Sampler”.
Pode entender o recurso como uma espécie de Tinder para descoberta de novas músicas: no “My Sampler”, o Apple Music exibe uma série de músicas para o usuário — que, do seu lado, pode pressionar na arte do álbum para ouvir uma prévia da canção. Se gostar, ele desliza o círculo para baixo, adicionando a música à sua biblioteca; se não, basta deslizar para cima e, com o tempo, o sistema aprenderá automaticamente o gosto do cliente e passará a oferecer sugestões mais apropriadas.
Em termos de identidade da marca, Yuan argumenta que as artes das playlists do Apple Music, ao contrário daquelas no Spotify, não seguem um padrão visual — e, desta forma, o usuário não cria uma conexão com o serviço. Por isso, o estudante propõe um sistema baseado em círculos, fotos dos artistas (algumas delas em duotone, o que, pessoalmente, me parece bem próximo da linguagem do Spotify) e a nova fonte oficial da Apple, San Francisco.
Focando-se na interface do aplicativo, Yuan fez algumas alterações gerais, como diminuir as fontes dos títulos para aumentar o espaço de “respiração” na tela. O recurso “Connect” foi totalmente extinto, já que, segundo o estudante — e eu concordo plenamente —, ninguém quer lidar com mais uma rede social e, em vez disso, a Apple deveria focar em se aproveitar daquelas já existentes para promover o contato dos artistas com o seu público.
A aba “For You” recebeu alterações visuais e inicia-se com um resumo do recurso “My Sampler”, exibindo abaixo dele a seção de músicas tocadas recentemente. Abaixo, temos uma nova seção que detecta automaticamente a atividade recente do usuário e sugere playlists baseadas naquele momento — por exemplo, se o usuário acabou de fazer check-in numa academia, aparecerão listas de músicas para ginástica. Existe ainda uma nova seção chamada Daily Stream, que mostra conteúdos em vídeo de interesse do usuário.
Já a aba “Browse”, na proposta de Yuan, seria dominada por um “carrossel” de imagens onde colocariam-se os destaques recentes do Apple Music. Também foi movida para ela toda a funcionalidade da aba “Radio”, que foi extinta — ou seja, daqui mesmo é possível acessar a rádio Beats 1 e todas as outras estações temáticas da plataforma. No lugar da “Radio”, temos uma nova aba chamada “Watch”, onde reuniria-se todo o conteúdo em vídeo do Apple Music — que, como bem sabemos, aumentará bastante em quantidade nos próximos tempos.
Yuan propôs também uma alteração no sistema de buscas do aplicativo, que, segundo o próprio, é confuso e trabalha de formas diferentes dependendo se usuário realiza a busca no Apple Music ou na sua própria biblioteca. Na ideia do estudante, a busca seria universal, mostrando primeiro o conteúdo salvo pelo usuário e, depois, aquele disponível na plataforma — e funcionaria com palavras-chave universalmente. Já na tela de reprodução, a única mudança significativa é que, nos moldes do Instagram, o usuário poderia tocar duas vezes na arte do álbum para “amar” uma música.
O que acharam das mudanças? Particularmente, eu achei excelentes. O fato é que, ao menos num futuro próximo, elas não chegarão à plataforma — ao menos pelas mãos do próprio Yuan, já que ele começará outro bacharelado em Design Gráfico na Universidade de Rhode Island. A não ser que alguém esteja disposto a voltar atrás e contratá-lo…
[via 9to5Mac]