Quando pensamos ou falamos de tecnologia, informática, gadgets, celulares, TVs de LCD, plasma, LED e por aí vai, já temos claro que são assuntos predominantemente masculinos. É como falar de carros: algumas mulheres até acompanham bem, mas com certeza essas não são maioria. É, também, como um homem tentar se meter numa roda de mulheres conversando sobre a última Fashion Week.
Mas o que não paramos para entender é a relação que a maioria das mulheres mantém com a tecnologia. Vamos ser sinceros, não admiramos o pragmatismo de nossas companheiras com a tecnologia. Imagine mostrar uma Ferrari Itália e ela ver um automóvel! E você ainda tem que pensar numa boa explicação depois de ouvir: “Ué, namorado, mas é um automóvel!” Ou colocar seu novo iPhone como uma jóia nas mãos dela e ouvi-la reclamar de que a tela é ruim porque não pensaram nas unhas dela. Esse é um dos desgostos que todo heterossexual já teve pelo menos uma vez na vida.
Homens facilmente têm no máximo três calças (jeans, claro), uma no corpo, uma lavando e a outra é aquela dada pela sua mãe e você tem (quase) certeza de que deve estar no fundo do armário. Para uma mulher é um absurdo comparável a chamarem o seu iPhone de um celular qualquer, afinal “tem que fazer ligações, não é pra isso que ele serve?”
Mas, sabem de uma coisa, elas estão certas.
Imaginem que Steve Jobs ou Jony Ive devem olhar um protótipo e tentar pensar como elas. Posso garantir que isso não é tarefa fácil nem mesmo para esses gênios, olhando um protótipo que deverá ser lançado em dois ou três anos, enquanto a nossa imaginação mal alcança as novidades da próxima keynote.
Olhar um produto de tecnologia de forma pragmática é um exercício fundamentalmente feminino. E, para nós, um martírio. Mas é assim que se extirpam os pequenos excessos de um produto que deve ser perfeito. É assim que se retira um botão — dentre os poucos três ou quatro existentes — de um dispositivo que faz o mesmo que um supercomputador fazia há seis anos. É colocar, propositadamente, uma borda no iPad, super criticada na ocasião do seu lançamento por quem ainda não havia segurado um de verdade.
Estamos prestes a conhecer o OS X Lion, que, mais do que incorporar, será conhecido por minimizar, por repensar sua interface retirando coisas desnecessárias, tornar simples o que realmente deve ser simples. O iCloud é o primeiro exemplo disso. Repare: todos os produtos da Apple que recebem mais críticas são exatamente os mais complicados. Simplificá-los pode até mesmo nem ser um perfeccionismo da marca, mas uma forma de se livrar de tantas reclamações — unir o útil ao agradável.
A androginia técnica da Apple multiplica o talento de colocar tudo o que um homem gostaria de ter dentro de uma moldura minimalista de 8mm de espessura com três botões, o que nos remete ao talento feminino da elegância, do bem vestir. É feminina não só a arte de mostrar somente o necessário para nos seduzir, mas principalmente de não mostrar o que adoraríamos ver. Talvez venha daí a atração quase irresistível que mantemos com essa marca.
Afinal, a maçã simboliza a sedução.