Em 23 de outubro o iPod completa dez anos de existência e muita, muita água rolou por baixo dessa ponte. Tudo começou com HDDs minúsculos, depois vieram a iTunes Store, as memórias NAND flash, a Click Wheel sensível ao toque, os primeiros iPods sem tela, as telas sensíveis ao toque e… e agora?
Os gráficos acima, feitos por Dan Frommer, mostram claramente que está chegando a hora em que a Apple vai ter que fazer alguma coisa com o iPod: ele não significa mais muita coisa para empresa — pelo menos não do ponto vista pragmático. Sim, ele e seu “Efeito Halo” foram em parte grandes responsáveis pela salvação da Apple, mas quem vive de memória é museu. Depois de dez anos e de dois concorrentes matadores (o iPhone e o iPad), como o iPod pode voltar a ser relevante?
Frommer pondera que ainda há algo que se salve nesse produto: o iPod touch é o modelo mais vendido (metade das unidades, todo trimestre) e representa uma porta de entrada segura e acessível ao iOS, o nano e o shuffle são baratos o bastante para serem presentes perfeitos e companheiros de exercícios maravilhosos, o classic ainda parece ser o único reprodutor de mídia respeitável com 160GB no mercado e, apesar de as receitas estarem caindo em importância, seus lucros ainda representam um belo trocado para a Maçã.
Classic? Que classic?
Diante disso, Frommer sugere que a Apple dê uma sacudida na sua linha de iPods, mas sem abrir mão de nenhuma das grandes vantagens de cada modelo. O shuffle poderia sumir (ou não, dado que ainda há muita gente que o adore), o nano poderia ter um corte no preço, para ficar na casa dos US$100, e ganhar ainda mais cores e funcionalidades (algo como virar um controle remoto pro Apple TV), o classic poderia dar lugar a um touch de 128GB (ou não, já que iCloud é o que liga, agora) e o touch… bem, é aí onde mora o perigo.
O iPod touch é um sucesso e tanto, mesmo sendo ofuscado pelas duas supernovas da Apple. E o que acontece com um produto que as pessoas adoram? Ele se multiplica! A hora é propícia para fazer o iPod touch se dividir em dois: um modelo como o de hoje e outro com uma tela maior (mas com a mesma resolução de sempre), direcionado a games. Com os ingredientes corretos, seria bem possível até donos de iPhones quererem um desses super-touches!
Eis que aquelas cases gigantes bem que poderiam ser desse novo iPod, e não de um iPhone 5. Ou — e isso seria pior ainda para a marca “iPod” — o touch ganharia compatibilidade com redes 3G e viraria um “iPhone Lite”, explodindo o market share da Apple entre smartphones e relegando ao esquecimento o resto a linha de media players. Em breve saberemos.
Até lá, eu não consigo tirar da cabeça o pressentimento de que o iPod vai acabar como um Nexus 6, de Blade Runner, com direito a monólogo existencialista e tudo. Eu choraria, nessa cena. 🙁
“I’ve seen things you people wouldn’t believe: Music files losing DRM; I’ve watched movies during flights from LA to Tokyo.
All those moments will be lost in time, like free apps in your Home Screen. Time to EOL.”