Heh, demorou. Gene Munster (iTV-afficcionado extraordinaire) fez exatamente o que eu previa: com a declaração de Jobs em sua biografia dizendo ter resolvido o problema da interface das TVs, o analista da Piper Jaffray saltou de cabeça feito uma criança numa piscina de bolinhas e afirmou que já há protótipos de televisores sendo desenvolvidos em Infinite Loop. Ele afirma isso com base em encontros com fontes próximas a fornecedoras asiáticas — talvez não as mesmas que ele usa desde 2009 para dizer que uma TV da Apple vai chegar “no ano que vem”.
Brian White pegou carona nessa história e gritou “FIRST!”, para dizer que a Ticonderoga Securities foi a primeira firma de análise a apresentar “evidências concretas” de que a Apple estaria trabalhando em algum tipo de televisor. “Acreditamos que um produto poderá chegar ao mercado nos próximos trimestres, abrindo uma nova categoria para a Apple e aumentando as vendas de produtos existentes que interagem com o ecossistema digital da Apple”, completou.
White aposta que a TV da Apple vai custar entre duas e três vezes o mesmo que um aparelho de LCD competitivo, ter um design imbatível e experiência de uso única. “Na nossa visão, recursos como Siri, FaceTime, App Store, iTunes e jogos são sob medida para uma Apple TV completa, combinando com potenciais novos recursos e tecnologias no futuro.”
Eu não engulo isso.
Na verdade, se for para pensar em um televisor da Apple, eu descartaria completamente o que esses analistas dizem e daria ouvidos à opinião de Marco Arment: o criador do Instapaper argumenta que a experiência da TV como um todo, do começo ao fim, é uma droga, e o que chamamos de “ver TV” precisa mudar para que isso melhore, do contrário uma iTV não vai passar de mais um AirPort — um bom produto na categoria, mas longe de ser revolucionário e mais longe ainda de ser um campeão de vendas. As sacadas dele são geniais, vale demais a pena ler o texto completo.
A meu ver, Arment acerta em cheio ao pintar o cenário “tradicional” da mítica televisão da Maçã com as cores mais realistas possíveis:
Como outras TVs no mercado, ela teria um punhado de entradas HDMI na traseira para você conectar seus videogames obsoletos e seu set-top box meia-boca. Ela teria um sintonizador ATSC para você poder ver TV aberta entediante com uma antena ruim, se não estiver pagando a uma companhia de cabo meia-boca por um serviço de cabo meia-boca. Se você estiver pagando uma companhia de TV a cabo meia-boca, talvez [a TV da Apple] tenha uma ou duas entradas CableCARD. De uma forma ou de outra, ela poderá substituir seu DVR meia-boca com uma implementação menos meia-boca. E ela teria toda a funcionalidade do Apple TV atual embutida, com um belo controle remoto e um sistema de navegação de menus simples.
Eu realmente espero que não seja assim. Isso não soa como a Apple.
Entretanto, é exatamente isso o que todo mundo quer. Mas ninguém lembra que o consumidor não sabe o que quer, que o consumidor quer cavalos mais rápidos em vez de carros. As pessoas que querem uma iTV desse jeito são as mesmas que queriam um iPhone com Click Wheel (ou pior: com teclado QWERTY), as mesmas que querem um ModBook com stylus em vez de um iPad. Em vez de olhar pro futuro, elas querem o presente, só que mais rápido (e caro).
Se (sim, “se”: mesmo o que há na biografia de Steve Jobs não garante nada) a Apple lançar uma televisão, pode ter certeza de que “ver TV” vai mudar completamente de significado — e, assim como com o iPad, o iPod e o iPhone, ninguém vai botar a menor fé nela de início.
[via Fortune Tech, BGR]