O melhor pedaço da Maçã.

Enquanto ele leva as palmas, nós levamos os tomates!

Steve Jobs

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Ontem houve uma apresentação magnífica da Apple em São Francisco, onde a vedete foi o iPod em estado puro.

Hoje, a reação pública do mestre do espetáculo, Steve Jobs, frente às reclamações sobre um corte de 200 dólares no preço do iPhone de 8GB, me deixou mais aliviado, e mostra que o mundo ainda tem salvação. E digo isso porque, enquanto Jobs leva os aplausos das platéias ensandecidas e hipnotizadas por suas keynotes, nós, clientes e vendedores (para quem de direito) da Apple, levamos todos os tomates.

Vou fazer como o próprio CEO da Apple fez em Stanford, no ano de 2005, contando três histórias para ilustrar essa situação.

1. Era abril de 2004 quando comprei meu primeiro Mac zero km. Estava em Utah quando isso aconteceu. Fiz a compra de um iBook G4 800MHz via Apple Store, com 640MB de RAM, o máximo que agüentava o bichinho até aquele momento. Chegou em três dias, e fiquei bastante feliz com a compra. Saí de viagem aproveitando meus últimos dias de América, quando descobri que, apenas 10 dias depois da compra, fora lançado um novo iBook, com 1GHz, capacidade para até 1GB de RAM, e o dobro de cache de processador. O melhor? O preço base caía de 1199 para 1099 dólares. O pior? A minha cara de idiota quando vi aquilo. Eu já conhecia o mundo Apple desde o ano 2000, mas acabei rendido pela voracidade comercial da empresa, que lança produtos novos sem anunciar, e sem chances de o cliente não se sentir lesado de alguma forma. Voltei pro Brasil feliz por ter um iBook, pelo menos isso.

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2. Junho de 2003. Meses depois eu iria passar por uma situação muito melhor do que esta que vou descrever agora. Um Power Mac G4 no Brasil sempre custou uma fortuna. Lembro-me bem que um bom Power Mac G4 Quicksilver alcançava facilmente os R$12.000,00. O modelo “normal” andava na casa dos dez mil. Havia leves rumores de que a Apple iria atualizar seus processadores G4 aquele ano, mas era algo levado não muito a sério, porque por muitos meses a empresa prometeu o avanço e não cumpriu. A World Wide Developers Conference daquele ano já tinha data marcada, e tinha tudo para ser um bom evento, com alguns lançamentos, e rolavam os boatos do novo Power Mac. O fim da picada veio dois dias antes, quando a Apple Store britânica pôs no ar uma configuração bem engraçada do Power Mac G4 à venda: era a especificação completa do novo Power Mac G5, que havia vazado sem querer. Depois de meses, boatos confirmados.

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Qual foi o problema então? Bom, que até o minuto anterior ao começo da keynote — como sempre —, a Apple Store permitia a compra dos computadores prestes a ficar obsoletos, e no Brasil… vários clientes que pagaram um carro popular em suas máquinas, viram o preço cair 5 mil reais em 24 horas! As autorizadas da Apple no Brasil começaram a enviar anúncios para seus clientes e inscritos em newsletters, de Power Macs G4 custando a “bagatela” de 7 mil reais, uma queda brutal que poderia muito bem ter sido feita gradualmente ao longo dos meses, em alguma iniciativa inexistente da Apple. Ah, para melhorar, pelo preço da antiga torre G4 se comprava o G5 com um pouco mais de memória…

3. A Apple Expo Paris de 2004 ocorreu no mês de agosto, e depois de alguns anos não contaria com Steve Jobs abrindo o evento. Naquela ocasião, Phil Schiller se encarregou de lançar o novo iMac, com processador G5, que dava fim ao iMac lamp, ou abajur para nós. Entretanto, indo completamente contra a filosofia da maçã, a Apple tomou uma atitude um tanto quanto inusitada: umas 3 semanas antes da Apple Expo, quando rumores já falavam da novidade que daria fim ao computador clássico do terceiro milênio, as lojas online da empresa de Cupertino simplesmente proibiram a compra dos “futuros velhos” iMacs! Foi finalmente uma atitude admirável, de não permitir que os clientes, muitas vezes fãs antes de tudo, levassem algo antiquado a poucos segundos da renovação. Resultado? Todos os amantes do modelo que iria ser descontinuado, correram para as lojas para garantir um dos Macs que mais saudades deixou até hoje. A Apple saiu perdendo nessa jogada? Um grande mestre que passou pela minha vida, Sergio Villar, professor de História, me disse uma vez:

…uma empresa pode vender um produto pelo seu preço de custo, que já está tendo lucro.

No dia que o G5 chegou às lojas norte-americanas, já praticamente não havia iMacs G4 para vender.

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Sinceramente, eu admiro demais a Apple, sou apaixonado pela maçã como muitos de nós, mas não dá para sofrer uma lavagem cerebral em casos como o do Power Mac G4, ou do iPhone de 8GB que custa quase a metade de seu preço original, mais barato ainda que o extinto produto em 4GB. Eu, como muitos, desaprovo esse tipo de atitude completamente, e tal foi o descontentamento mundial que Steve Jobs teve que publicar uma carta para tentar justificar seu passo adiante. Esse passo adiante eu chamo de “tiro no pé”.

Jobs pode ser uma pessoa sensacional, um artista único, mas sua arrogância e prepotência podem destruir novamente todo seu império, que já foi grande, se subjugou aos que jogaram limpo, e agora tenta se reerguer. Estava conseguindo, mas atitudes como a de ontem, uma redução drástica de preços em um produto que é carro-chefe da empresa, é realmente agressivo. Foi uma agressão aos fiéis fãs e clientes da Apple que se mataram para comprar o iPhone em suas primeiras semanas, uma agressão à inteligência do mundo, e uma agressão a quem vende seus produtos, porque esses são os que realmente ouvem os gritos e reclamações inflamadas das pessoas que se sentem enganadas, cada vez que acontece uma keynote da Apple.

Quando cliente apenas, eu já ficava preocupado a cada apresentação, apesar de feliz com as novidades. Agora eu também jogo do lado de quem catequiza o povo, mas fica muito difícil convencer alguém de que Apple é melhor, já que empresas que tomam esse tipo de atitudes, nunca vão ser melhores que por exemplo, uma Microsoft, uma Intel, uma nVidia, empresas que anunciam meses antes que o futuro deve chegar na época tal, dando liberdade aos clientes de comprarem algo obsoleto com consciência disso, ou de esperarem a novidade, se valer a pena pagar o preço do tempo perdido no processo.

Se eu vendesse os 4 iPods que quase compraram ontem lá onde trabalho, eu seria um dos que receberiam os tomates, enquanto Mr. Jobs saía ovacionado pelos seres da mesma linha genética daqueles personagens do vídeo de lançamento do Macintosh, em 1984. Falo dos que estavam sentados, dizendo sim a tudo que o Big Brother falava.

Fica o aviso: se há rumores, tenham cuidado com suas compras, principalmente se o objeto de desejo levar uma maçã. Resista à tentação, pode ser mais lucrativo e prazeroso.

Créditos do último link: www.ciadvertising.org.

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