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WWDC23: muito marketing, pouca evolução

Esperei propositalmente esfriar o clima da WWDC23 para falar sobre a minha visão do evento.

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Sim, eu sei que esse é um evento para desenvolvedores e, como tal, tem como objetivo trazer melhorias para os sistemas que não são necessariamente enxergadas aos “olhos leigos” do usuário final. Mas não podemos esquecer que o objetivo das mudanças é evoluir em direção a melhorar a experiência do usuário, tornando os dispositivos cada dia mais intuitivos e indispensáveis em nossas vidas.

Reconheço, também, que os sistemas operacionais da Apple evoluíram muito nos últimos anos, o que torna difícil trazer mudanças que realmente chamem a atenção — muitas vezes até preferimos que não se mexa muito para não atrapalhar o que está funcionando.

Após todo esse disclosure para satisfazer os olhares mais críticos de postagens, vamos à crítica. Assisti duas vezes à keynote e li os releases para ter certeza de não ter perdido nada interessante, mas comprovei que a minha visão inicial permaneceu: a WWDC23 foi recheada de marketing; mas, sob a ótica da produtividade, pouquíssima evolução foi apresentada de fato.

Tim Cook na WWDC23

Vamos passar, então, pelos tópicos principais e destacar os pontos frustrantes. 

Novos produtos

Relembro que minha afirmação é de haver pouca evolução e não nenhuma evolução.

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O MacBook Air de 15 polegadas, embora sem nenhuma evolução de capacidade em si, foi um lançamento interessante. Uma tela maior, bastante portátil, faz muito sentido em tempos de WFA (work from anywhere). Estou testando a máquina e devo fazer um review em breve, mas as primeiras impressões são ótimas! Leve, fino e elegante como o de 13″.

MacBook Air de 15"

O primeiro impacto do tamanho estranha um pouco, mas basta meia-hora para acostumar e não querer voltar ao menor. Especialmente no contexto de que o chip M2 é bastante poderoso e provavelmente suficiente para mais de 70% dos usuários de MacBooks e com a vantagem de ser bem mais leve/fino que o MacBook Pro de 14″, essa pode ser uma excelente opção!

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A atualização do Mac Studio poderia ter sido apenas um release para imprensa e colocada na Apple Store [Online] sem barulho, foi apenas o ciclo natural.

Mulher trabalhando num Mac Studio com chip M2 Max/Ultra

Sobre o Mac Pro, bom… sem palavras. Rafael, Eduardo, Rambo e Breno já descreveram bem no podcast pós-evento — que, aliás, você deveria ouvir se não o fez. Não consegui enxergar a lógica dessa máquina. Talvez, um dia, receberemos uma revelação especial que nos abra os olhos para algo que não fez sentido mas, até então, não há motivos para adquirir o Mac Pro, sendo tão mais caro que o Mac Studio.

Mac Pro com chip M2 Ultra ao lado de um Pro Display XDR

Vou deixar para falar do Vision Pro ao final.

Sistemas operacionais

No item central da WWDC, as mudanças dos sistemas operacionais, muito pouco foi mostrado que tenha sido realmente relevante. Tivemos alguns destaques positivos no iPadOS 17 e no iOS 17, como interação com PDFs no iPad, melhorias no Organizador Visual (Stage Manager) e no Freeform, opções de recado em vídeo no FaceTime e interação mais intuitiva/real nos widgets para ambos.

No Mail, a opção de colocar automaticamente códigos recebidos para validação de páginas também é interessante. Mas convenhamos: essas mudanças seriam uma boa pedida para um iOS/iPadOS 16.6. Para o macOS Sonoma 14, talvez a melhor utilização dos widgets seria algo realmente digno de uma evolução de sistema operacional. O Stage Manager no Mac, para mim, até faz mais sentido que no iPad se você considerar a forma de interagir e o tamanho da tela.

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A Apple muitas vezes esquece que seus produtos são usados profissionalmente e não apenas com viés de entretenimento. Dedicar tempo para apresentar a possibilidade de arrastar emojis para mensagem, fazer um reply de maneira rápida ou novos Memojis chega a ser irritante. 

O que eu esperava ver e não vi: até quando viveremos sem múltiplos usuários no iPad? Quais os recursos apresentados para deixar o iPad mais próximo de substituir um computador? Eles deveria ter deixado para o iPadOS 17 a possibilidade de usar o Final Cut Pro, lançada recentemente, que teria tido algo mais relevante para mostrar.

O iPad Pro teve uma evolução muito boa em 2018, cresceu muito com surgimento de um sistema operacional exclusivo, o iPadOS; com o chip M1 e o iPadOS 16, a Apple resolveu alguns problemas que incomodavam muito, como a impossibilidade de compartilhar a tela. Mas ainda existe uma imensidão de programas que rodam no Mac e não rodam no iPad. A evolução do iPad Air para o M1 também trouxe uma pressão para que os modelos Pro tenham recursos mais profissionais, mas não houve nada específico para esse produto no iPadOS 17. Eu, inclusive, vendi meu iPad Pro (com chip M2) e comprei um iPad Air (com M1), bem mais barato, e não senti basicamente diferença nenhuma no dia a dia — até porque, a câmera do iPad, pelo menos para mim, tem pouca influência no trabalho.

No Mac, realmente o macOS é o mais estável e maduro dos sistemas operacionais e talvez por isso pouco poderia ser acrescentado. Mas velocidade e intuitividade de interface nunca são demais! No iOS 17, pelo preço e pela capacidade dos iPhones, poderíamos ter ele bem mais amplo em termos profissionais, melhorando a interface. Por que não a opção de colocar o iPhone em um monitor? Por que não levar algumas das boas funcionalidades do iPadOS para o iOS e transformar o iPhone em um pré-computador ultraportátil? Pelo tamanho do iPhone Pro Max e a expectativa que ele pode ser ainda maior, com o compartilhamento no monitor e utilizando mouse/teclado Bluetooth, poderíamos ter uma ótima opção no iPhone como gadget profissional.

Sim, algumas coisas menores foram interessantes e vão nos ajudar no dia a dia, mas meu ponto é: quais os itens de grande evolução? Creio que faltou muita coisa. 

Apple Vision Pro

Não há dúvidas de que a estrela do evento foi o anúncio do Apple Vision Pro. Finalmente conhecemos o dispositivo (ou pelo menos as ideias para ele) vestível e de realidade aumentada/virtual da empresa.

Tudo o que foi mostrado é realmente incrível, mas muitas lacunas foram deixadas no ar. Eu escrevi aqui um review do Quest 2, da Meta. Embora com recursos interessantes, ele é bastante cansativo de usar por períodos longos, o que dificulta bastante seu uso no trabalho. Provavelmente os óculos da Apple serão mais leves, tendo em vista que a bateria fica separada. Mas quão confortável eles serão? Qual a capacidade de uso realmente profissional?

Tim Cook na área de hands-on da WWDC23 com o Apple Vision Pro

Claro que deu vontade de testar o gadget, mas a empolgação teve logo um balde de água fria: o preço. Mesmo para o mercado americano, US$3.500 é bastante dinheiro, especialmente para um equipamento que ainda se encontra em uma zona cinzenta de utilidade. Com esse valor, é possível comprar um MacBook Air (M2), um iPhone 14 Pro e um iPad Air com Magic Keyboard — três aparelhos com múltiplos usos e diferentes abordagens. O Apple Vision Pro será capaz de substituir os três? Acredito que, pelo menos a princípio, não. A grande questão é quantos estarão dispostos (e terão condições financeiras) para incluir mais esse item ao seu kit Apple.

Conclusão

Como o objetivo desta coluna é trazer a ótica do mundo do trabalho, produtividade e organizacional, não me dediquei a comentar as mudanças no watchOS e no tvOS, embora tenha visto coisas interessantes.

A WWDC23 contou com todo o show de pirotecnia tradicional, uma superprodução e declarações de impacto como um bom evento Apple. Mas, passado o frenesi e a empolgação, pouco sobrou de evolução concreta. Como hard user, espero ver inovações mais consistentes em futuras rodadas.

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