O melhor pedaço da Maçã.

Livro detalhará últimos anos de Jony Ive na Apple e tensões com Tim Cook

Jony Ive e Tim Cook na área de hands-on com o iPhone Xr

Tirando Steve Jobs, ninguém representava melhor a “alma” da Apple do que Sir Jonathan Ive, o lendário designer que comandou a criação do visual icônico de produtos como o iPhone, os iPods e os MacBooks. Por isso, o anúncio da sua saída da Maçã, em 2019, caiu como uma bomba nunca muito bem explicada — até agora.

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O jornalista de tecnologia Tripp Mickle lançará esta semana o livro “After Steve: How Apple Became a Trillion-Dollar Company and Lost Its Soul” — ou, em tradução literal, “Depois de Steve: Como a Apple se Tornou Uma Empresa de Um Trilhão de Dólares e Perdeu Sua Alma”. O título é… autoexplicativo, e o livro, baseado em entrevistas com mais de 200 pessoas próximas do assunto, traz um grande foco nos últimos anos de Ive em Cupertino e sua crescente frustração com a mudança da cultura corporativa da empresa, que acabou levando à sua saída.

No New York Times, Mickle adaptou recentemente um trecho do seu vindouro livro que joga luz sobre os conflitos (internos e externos) vividos por Ive em seus anos finais na Maçã. O foco principal aqui é o Apple Watch, primeiro “grande” produto lançado pela empresa após a morte de Jobs, e cuja visão inicial — focada no universo fashion dos acessórios de luxo — nasceu basicamente do designer.

Segundo o livro, para o lançamento do relógio, Ive queria erguer uma opulenta cabana branca na área externa de um auditório próximo à sede da empresa, em Cupertino. O empreendimento temporário envolveria a remoção de duas dúzias de árvores e custaria algo em torno de US$25 milhões, mas era, segundo o designer, indispensável — na visão dele, uma reportagem elogiosa da Vogue sobre o Apple Watch seria muito mais importante do que qualquer review positivo do universo tecnológico, e entrar no mundo fashion tinha seu custo.

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Para não perder o apoio de Ive, que considerava um dos nomes mais importantes na Apple, Cook deu sinal verde para a cabana branca milionária. O designer, entretanto, considerou a conquista uma vitória pírrica: as reações dentro da Maçã sobre sua ideia foram tão controversas que, pela primeira vez na sua história em Cupertino, ele se sentiu desamparado. Ali, tudo começava a mudar.

O trecho segue descrevendo como os anos seguintes, sob o comando de Cook, foram mudando a cultura da Apple e deixando Ive progressivamente insatisfeito. O Apple Watch, embora bem recebido, não vendeu tanto quanto a empresa esperava, e seu foco foi progressivamente alterado — de um item de luxo com uma absurda versão de ouro, tornou-se um acessório fitness, mais acessível e focado na saúde e bem-estar do usuário. A visão original de Ive não estava mais ali.

O designer também não aprovava, segundo o livro, a gestão centralizadora de Cook, mais focada em Serviços e em resultados financeiros do que nas aspirações revolucionárias de Jobs. Além disso, o designer passou a administrar uma equipe com centenas de profissionais, em vez do pequeno grupo de cerca de 20 pessoas a que era acostumado na era Jobs.

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Ive começou a planejar sua demissão, mas Cook resistiu: a saída de um dos maiores ícones da Apple poderia ser um desastre para as ações da empresa. Assim, ambos chegaram a um acordo no qual o designer, promovido ao título de Executivo-Chefe de Design, trabalharia em meio-período, focado basicamente em novos produtos, e deixaria as operações do dia a dia para dois dos seus braços-direitos da empresa, Alan Dye (hoje vice-presidente de design de interfaces humanas) e Richard Howarth.

As consequências dessa reorganização foram um maior distanciamento de Ive do dia a dia da empresa: ele passou a trabalhar de forma majoritariamente remota, às vezes passando semanas sem comparecer aos escritórios e deixando de participar das decisões finais da rotina dos designers. Enquanto isso, Cook continuava reorganizando a Apple, e uma mudança em particular — a saída de Mickey Drexler, considerado um visionário, e a chegada de James Bell, visto por Ive como um burocrata, ao conselho da empresa — deixou o designer furioso.

O ponto de ruptura foi uma exibição particular do filme “Yesterday” organizada por Ive em 2019 para os designers da empresa. Após a projeção, ele — visivelmente comovido e inspirado — afirmou aos colegas: “A arte precisa de espaço e apoio apropriados para crescer. Quando você é muito grande, isso é especialmente importante.” Uma semana depois, Ive reuniu seus colegas num pátio do Apple Park e anunciou que, com a finalização do seu projeto mais importante — o campus em si —, estava deixando a empresa.

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O resto é história: a Apple tornou-se a primeira empresa “bi-trilionária” do planeta, o foco em Serviços apenas cresce e a influência de Ive, embora ainda vista com clareza na linguagem da empresa, vai progressivamente sendo substituída — para o bem e para o mal, claro.

“After Steve: How Apple Became a Trillion-Dollar Company and Lost Its Soul” será lançado nesta terça-feira (3/5) nos Estados Unidos e já está em pré-venda na Amazon. Parece uma leitura interessante, não?

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via MacRumors

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