Certo, eu serei o primeiro a admitir que a palavra “debandada” pode ser ligeiramente exagerada — os principais e mais importantes executivos da Apple continuam confortavelmente sentados em suas cadeiras cupertinianas, afinal. Por outro lado, é inegável que a quantidade de talentos saindo da Maçã pela mais variada sorte de razões está maior que nunca — seriam problemas no paraíso de 1 Infinite Loop ou simplesmente a concorrência parece mais convidativa que antes?
O primeiro dos desertores (brincadeirinha) é Musa Tariq, executivo que chegou à Apple há mais de dois anos, oriundo da Nike, e desempenhou a função de diretor de marketing e comunicação global de varejo. Na montadora americana Ford, Tariq terá o cargo (criado especialmente para ele, é bom notar) de chief brand officer, isto é, vice-presidente responsável pela marca e imagem pública da empresa.
Outra figura importante — embora meteórica — na Apple foi Yoky Matsuoka, que passou menos de um ano na Maçã como parte da equipe de desenvolvimento de novas tecnologias na área de saúde. A saída dela de Cupertino já foi noticiada por nós mês passado, mas agora sabemos qual o seu destino: ela está voltando para a Nest Labs, subsidiária da Alphabet, de onde era contratada antes de partir para a Apple. Agora, ela desempenhará por lá a alta função de CTO (chief technology officer).
A outra história de saída da Apple do dia aconteceu já há algum tempo, mas só agora, com uma nota de John Gruber no Daring Fireball, as circunstâncias do caso espalharam-se pelo mundo — e elas são bastante curiosas. Explica-se: o talentoso designer holandês Bas Ording, responsável pela criação de alguns elementos cruciais do iOS como a ferramenta de seleção de texto e de copiar/colar, deixou a Apple em 2013, sendo contratado pela Tesla dois anos depois.
Qual o motivo da sua saída da Maçã? Não, não foi pagamento insatisfatório, problemas com colegas ou busca por novas oportunidades: Ording simplesmente estava cansado de ter que comparecer a tribunais regularmente para defender a empresa em casos judiciais. Como o nome do designer está em uma grande quantidade de patentes, ele frequentemente era convocado a comparecer à corte para dar depoimentos em disputas da Apple contra a Samsung ou a HTC, por exemplo.
Isso começou a me irritar. Eu passava mais tempo no tribunal do que criando. Além disso, eu sentia falta da interação com Steve Jobs. Nós discutíamos assuntos a cada duas semanas.
Esta segunda parte da declaração também traz uma reflexão importante: será que a morte de Jobs está contribuindo para esta debandada? É fato sabido que a Apple de Tim Cook é muito diferente daquela gerida por seu cocriador, mas até que ponto isso faz com que talentos importantes tomem a decisão de sair de uma das mais célebres empresas de tecnologia do mundo? Há outros fatores por trás disso? Reflitamos.
[via Recode, Apple World Today]