O melhor pedaço da Maçã.
Adrian Tusar / Shutterstock.com
Twitter e Threads

O Threads não precisa matar o (que sobrou do) Twitter para dar certo

Para meu primeiro artigo (bem, quase) aqui no MacMagazine, eu planejava falar sobre a Apple, é claro. A intenção seria refletir sobre como as tecnologias do Vision Pro podem acelerar a evolução dos demais produtos da empresa, ou talvez discutir a decisão curiosa (e equivocada) da Apple de não incluir GPUs1Graphics processing units, ou unidades de processamento gráfico. dedicadas no Mac Pro em tempos de treinamento de modelos de inteligência artificial. Ou ainda, explorar quanto tempo a Apple demora para levar especificações Pro a modelos não Pro de seus produtos, inspirado por um papo entre o Rafa e o Edu em um MacMagazine No Ar recente.

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Porém, nenhuma outra história de tecnologia da última semana (ou talvez desde a WWDC) é tão relevante no momento quanto o lançamento do Threads.

Depois de meses de especulação e vazamentos, o mundo ganhou mais uma alternativa ao Twitter. Eu, que tenho usado bastante o Mastodon nos últimos meses e acompanhado as atividades do Bluesky, arrisco dizer que sequer é produtivo discutir se o Threads dará certo. Ele já deu — apesar dos protestos de uma parcela do Fediverso. Com mais de 70 milhões de usuários cadastrados em 48 horas (10 milhões em apenas 7 horas), o Threads está a caminho de bater com folga o recorde do ChatGPT, que atingiu 100 milhões de usuários em meros 2 meses.

É claro que, como muitos já apontaram, esta é uma comparação injusta. O Threads tem o orçamento infinito da Meta à sua disposição, além de toda a base da rede social do Instagram. Nenhum concorrente teve (ou terá, jamais) essa possibilidade. Ainda assim, na última quarta-feira, quem acessou o Threads pôde acompanhar, em tempo real, o desenrolar de um novo capítulo na história das redes sociais, 500 caracteres de cada vez.

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Quem escuta meus podcasts há mais tempo sabe do meu desprezo pela Meta. Especialmente nos meses (talvez anos?) pós-Cambridge Analytica, não faltaram exemplos de como a companhia é um reflexo da falta de caráter e da ausência de qualquer senso de responsabilidade de Mark Zuckerberg.

Uma crítica constante à Meta, e não só minha, é a falta de criatividade da empresa. A última e talvez única ideia original que eles tiveram foi a criação do Feed de Notícias, em 2006. Novidade essa, inclusive, tão detestada na época que gerou ameaças de morte à engenheira indiana Ruchi Sanghvi, responsável por sua implementação. Depois disso, o Facebook apenas copiou ou adquiriu a concorrência. Copiou o Reddit com os Groups em 2010, comprou o WhatsApp em 2012, comprou o Instagram em 2014, copiou o Periscope com o Facebook Live em 2015, copiou o Snapchat com os Stories em 2017, copiou o TikTok com os Reels em 2021 e copiou até mesmo o Clubhouse e o BeReal recentemente, quando eles tiveram seus 15 minutos de fama.

Mas se existe um produto que o Facebook nunca conseguiu clonar é o Twitter. E isso sempre incomodou Zuckerberg que, certa vez, se referiu à companhia da seguinte forma: “Uma bagunça. Um carro de palhaços que caiu por acidente em uma mina de ouro.”

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Do avião no Rio Hudson a vídeos compartilhados em tempo real nos concorridos shows da Taylor Swift, o poder do Twitter sempre foi o de oferecer acesso instantâneo a qualquer evento ou informação ao redor do mundo. O problema é que esse mercado sempre foi relativamente limitado. E sua rentabilidade, mais ainda.

Pouco antes da troca de liderança do Twitter, a plataforma atingiu um recorde de 450 milhões de usuários ativos após quase 20 anos do seu lançamento. E analisando os concorrentes diretos do Twitter, especificamente o Mastodon com seus 13 milhões de usuários cadastrados em 6 anos, e o Bluesky ainda em fase beta com cerca de 1 milhão de usuários, a conclusão é que todo o público potencial interessado por algo como o Twitter, já estava… bem… no Twitter. Nunca fez sentido o Facebook lançar um produto neste cenário.

Aí, veio 2023. Ou melhor, veio outubro de 2022. Daquele ponto em diante, a turbulência da transição da liderança do Twitter e o êxodo de usuários criaram uma oportunidade inédita. Em dezembro de 2022, Adam Mosseri, CEO2Chief executive officer, ou diretor executivo. do Instagram, confidenciou ao jornalista Casey Newton que estava tentado a desenvolver um substituto para o Twitter. De lá para cá, a ideia virou um projeto (de codinomes Barcelona e Project 92) e, nesta semana, um produto.

Do ponto de vista de comunicação, o lançamento do Threads foi perfeito. Celebridades de TV e criadores de conteúdo com milhões de seguidores no Instagram receberam acesso antecipado para criar buzz. Receberam, também, instruções bem óbvias para publicar mensagens otimistas e unificadoras de boas-vindas, dando o tom da plataforma.

O timing também não poderia ter sido melhor. Dias antes, o Twitter deu um presente ao Threads, limitando a visualização de tweets até mesmo para usuários pagos da plataforma. Isso, inclusive, foi o que motivou o Instagram a marcar o lançamento do Threads para quinta-feira e, posteriormente, antecipá-lo para quarta à noite, com muitos recursos faltando como suporte a hashtags, mensagens diretas, alt text de imagens para acessibilidade, etc.

Uma ressalva importante aqui é a seguinte: o Threads não parece ter sido feito para virar o absoluto substituto para todo o universo de pessoas que usam ou que usavam o Twitter. O foco inicial nas celebridades, com seus 10, 20, 30 milhões de seguidores, já dá uma boa dica do público ideal que o Instagram quer na plataforma. Nós, que temos um uso um pouco mais voltado para a tecnologia e o consumo de notícias, podemos até estabelecer uma comunidade por lá. Mas o foco inicial é inequívoco: atrair perfis de engajamento barato, como os de memes, de fofocas e de selfies de pessoas que ainda não terminaram de se vestir, que geram bilhões de likes, reposts, comentários e, num futuro não muito distante, visualizações de anúncios — a única motivação de existência da Meta e de todas as suas plataformas.

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Ainda assim, a adoção recorde do Threads comprova um argumento que, ironicamente, era colocado em discussões contra o Facebook: por maior que seja uma rede social, ela está sempre a algumas decisões erradas consecutivas de perder o seu domínio.

Francamente, eu não sei se vou utilizar o Threads na mesma medida que utilizo o Mastodon. Assim como acontece com o Instagram há anos, eu me sinto meio sujo ao abrir a plataforma, sabendo da falta de respeito com a nossa privacidade. Ainda assim, é inevitável dizer que há algo ali.

Se o Twitter nos ensinou uma coisa neste último ano, é que é impossível prever o futuro do mercado de redes sociais. Mas a esta altura, acho que é seguro dizer que o sucesso do Threads será mais duradouro do que, digamos, a passagem de Linda Yaccarino por seu recém-ocupado cargo de CEO do Twitter.

Notas de rodapé

  • 1
    Graphics processing units, ou unidades de processamento gráfico.
  • 2
    Chief executive officer, ou diretor executivo.

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