As palavras de Tim Cook (CEO da Apple) durante a entrevista exclusiva para a rede NBC estão mesmo dando o que falar. Refrescando a memória: ao ser questionado sobre os futuros planos da Apple, Cook disse: “Quando eu entro em minha sala e ligo a TV, eu sinto como se tivesse ido para trás no tempo, uns 20, 30 anos. É uma área de grande interesse. Eu não posso dizer mais do que isso.”
Se antes os rumores sobre uma possível televisão da Apple já eram grandes, agora então… Mas Jean-Louis Gassée, ex-chefe de desenvolvimento de produto da Apple e hoje sócio da Allegis Capital, resolveu dar a sua opinião sobre o assunto.
Diferentemente de muitos, ele *não* acredita numa TV da Maçã. Para ele, as palavras de Cook são as mesmas de antes. A única mudança é que a sala de estar passou de “hobby” para uma área de “grande interesse”. E só. Ele concorda com Cook e mostra alguns exemplos de como a TV é uma coisa de 20, 30 anos atrás: ainda não é possível consumir conteúdo à la carte, fazer buscas na grade de programação, não podemos comprar o nosso próprio set-top box — temos que alugar de provedores de conteúdo (NET, SKY, GVT, etc.) —, entre outras coisas.
A solução de Gassée é simples e especulada há muito tempo, até mesmo por ele: apps. Quer ver um determinado show, série, canal? Basta baixar/comprar um app. Tecnologia e banda para isso existe, não há dúvida. Então, qual seria o problema? Controle! Com uma loja de apps para TVs, a Apple cortaria possíveis intermediários, assim como fez na App Store, na iTunes Store e na iBookstore, o que é o pesadelo de algumas empresas que se apoiam no modelo tradicional e ainda vigente.
Outro ponto que pega para Gassée:
Para realizar o sonho, como discutido anteriormente, você precisa colocar um computador — algo como um módulo de TV da Apple — dentro do conjunto [TV]. Dezoito meses mais tarde, como manda a Lei de Moore, o computador ficará obsoleto, mas a tela estará boa. Não tem problema, você vai dizer, basta fazer um módulo removível para o computador, facilmente substituído por um novo, mais receita para a Apple… e você está de volta ao arranjo do set-top box separado, de hoje. Como ele, você pode espalhar caixas para todas as HDTVs e não apenas para o conjunto hipotético da marca Apple.
Ele reforça que, se os astros ajudarem e uma luz brilhante cair em cima dos atuais detentores de conteúdo, a TV do futuro será a Apple TV de hoje com mais poder e recursos; uma caixinha preta que pode ser acoplada a qualquer HDTV.
Gassée acha que Cook está “jogando para a torcida”, quem sabe até mesmo fazendo barulho para provocar a concorrência (Google e Microsoft). Ou, então, deixando claro que os problemas existem, que não foram resolvidos e que a Apple continuará pesquisando, buscando (“uma área de grande interesse”) a melhor forma para resolver essas equações.
A verdade é que, hoje, a Apple TV representa menos de 0,5% do faturamento da companhia. Para ele, o set-top box da Maçã não existe para gerar lucro, mas sim para desempenhar um papel parecido com o da iTunes Store: solidificar o ecossistema para que produtos como iPods touch, iPads e iPhones — e Macs — vendam cada vez mais.
Gassée não acha que de um dia para o outro a Apple lançará uma TV capaz de gerar, em um ano, US$50 bilhões (20% do faturamento do empresa em 2014), como acredita o analista Gene Munster, defensor ferrenho da ideia de uma TV da Apple há muito tempo. Ele acha que o caminho da Apple TV é o lançamento de uma App Store, com as vendas aumentando de pouco em pouco. Com o tempo, os refinamentos do ecossistema e mais algumas melhorias, uma provedora de conteúdo vai topar embarcar nessa com a Apple e, aí, o jogo muda.
E aí, concordam? Eu assino embaixo!
[via The Loop]