Quem acompanha o mundo Apple sabe que Tim Cook (CEO da empresa) é um cara aparentemente bem sereno. Porém, durante a reunião de acionistas que aconteceu no dia 28/2, Cook mostrou que, apesar de calmo, não “leva desaforo pra casa”.
Bryan Chaffin, do The Mac Observer, contou a história:
Durante a sessão de perguntas e respostas […] o representante da NCPPR [National Center for Public Policy Research] fez duas perguntas a Cook, sendo que ambas estavam em concordância com os princípios defendidos na proposta do grupo [a qual foi rejeitada].
A primeira pergunta desafiou uma afirmação de Cook de que os programas de sustentabilidade da Apple e os planos de metas — a empresa planeja ter 100% de energia proveniente de fontes verdes — são ótimos negócios. O representante perguntou para Cook se esse era o caso apenas por conta dos subsídios do governo em energia verde.
Cook não respondeu diretamente, mas centrou-se na segunda questão, quando o representante da NCPPR pediu que Cook se comprometesse apenas a fazer coisas rentáveis.
O que vimos então foi — a única vez que eu me lembro de ver — Tim Cook com raiva, rejeitando categoricamente a visão de mundo do defensor da NCPPR. Ele disse que há muitas coisas que a Apple faz porque são corretas e justas, e que o retorno sobre investimento (ROI) não era a principal consideração em tais questões.
“Quando trabalhamos para tornar nossos dispositivos acessíveis a cegos, eu não considero o maldito ROI”, disse ele. A mesma coisa se repete para as questões ambientais, de segurança de trabalho e outras áreas nas quais a Apple é líder.
Conforme evidenciado pelo uso do “maldito” em sua resposta — o mais parecido com palavrões públicos que eu já vi do Sr. Cook —, ficou claro que ele estava bastante irritado. Sua linguagem corporal mudou, seu rosto se contraiu e ele falou frases numa velocidade muito mais rápida em comparação com a sua forma usual medida e controlada.
Ele não parou por aí, no entanto, olhando diretamente para o representante da NCPPR e dizendo: “Se você quer que eu faça as coisas apenas por razões de ROI, você deve vender suas ações [da Apple].”
É óbvio que a Apple é uma empresa capitalista e, como todas as outras, está *muito* interessada em lucrar. Mas isso não quer dizer que ela só pense nisso. Ou mais: não quer dizer que o lucro seja a motivação principal da empresa para que ela gere… lucro!
Quem viu o documentário “Steve Jobs – Um Hippie Bilionário” notou que Steve Jobs era um cara que, como todos nós, queria se dar bem na vida. Mas dinheiro não era o seu objetivo final — por mais louco que possa parecer para alguns, ele realmente estava interessado em mudar o mundo, em criar ferramentas capazes de aumentar o potencial humano.
Essa é a essência, a cultura da Apple. Tim Cook, um cara escolhido pessoalmente por Jobs para dar sequência ao seu legado, sabe disso — e muito provavelmente entende disso melhor do que ninguém, afinal, como disse, ele foi o escolhido pelo próprio Jobs.
Quem aqui lembra de uma entrevista de Jony Ive (chefão de design da Apple e grande amigo pessoal de Jobs) para a Wired UK? Não custa nada relembrar:
Nós estamos muito satisfeitos com as nossas receitas, mas nosso objetivo não é fazer dinheiro. Isto pode parecer um pouco impertinente, mas é a verdade. O nosso objetivo e o que nos deixa animados é fazer excelentes produtos. Se nós formos bem sucedidos, as pessoas gostarão deles, e se formos operacionalmente competentes, faremos dinheiro.
Sim, a Apple “ganha bilhões de dólares para mudar o mundo” — e não há nada de errado nisso. O problema será quando ganhar bilhões de dólares se tornar o objetivo primário da empresa.
[via The Loop]