Mais uma semana, mais um artigo, mais novidades! Na série Appreendedor tenho compartilhado com vocês, leitores, assuntos relacionados a empreendedorismo e inovação, uma força para as pessoas que querem se diferenciar no mercado competitivo. Hoje convidei um amigo (o Artur Sousa) para compartilhar conosco um pouco da sua experiência e enriquecer ainda mais o material publicado com situações vivenciadas e validadas.
por Artur Sousa
Na costa oeste dos Estados Unidos, San Francisco é famosa pelas gigantes de tecnologia, pela ponte Golden Gate e pelo ativismo na área de direitos humanos. A cidade também está presente em produções famosas como Godzilla (2014) e Planeta dos Macacos: A Origem (2011) — e, para os noveleiros de plantão, é cenário da nova novela das 7 da Rede Globo.
Para nós, fanáticos por tecnologia, profissionais de TI, curiosos ou simplesmente interessados nas novidades do mundo digital, a cidade é famosa pela quantidade de startups que surgem no cenário mundial, fundadas ou nutridas em seus bairros e cidades do entorno. Nesse mundo febril por novidades — WWDC que o diga, hein? — efervescente de grandes novas empresas, mas pequenas em suas estruturas, muitos de nós acabamos por pensar: será que lá, em San Francisco, é isso tudo mesmo? É fácil abrir uma empresa? Tem realmente esse “trend” em inovação e empreendedorismo? Descrevo, abaixo, minha experiência após um ano estudando empreendedorismo em meu mestrado e vivenciando a cultura local.
Primeiro, vamos ser francos. É preciso dizer: San Francisco é uma cidade cara! Muito cara para muitas coisas, mesmo se ganhando em dólar. De acordo com uma matéria da CBS a cidade é a mais cara dos Estados Unidos para se alugar um apartamento. E não estamos falando de um beira-mar, não! Eu, por exemplo, moro em um estúdio (nós, brasileiros, chamamos de quitinete) em um bairro bem feio da cidade, famoso pela quantidade de moradores de rua e limpeza (ou falta dela), e tenho que me esforçar muito para lidar com o custo do aluguel.
No geral temos as vantagens dos EUA: produtos que são muito caros no Brasil — mesmo sendo caros para o americano — são baratos para gente. Não é a cidade mais segura do mundo mas nós, do imenso Brasil, nos sentimos confortáveis nesse quesito e não há muito o que reclamar.
Redundância por aqui é tweetar a foto do prédio do Twitter (entendeu, entendeu?). É muito comum andar pelo centro financeiro ou pela famosa Market Street e encontrar prédios/escritórios de empresas cujos serviços você usa em seu smartphone. Pegar o trem para passear na Califórnia e encontrar o prédio da Zynga, famosa por jogos no Facebook, ou mesmo passar em frente do luxuoso prédio da Second Life. Para nós, fãs de tecnologia, é muito empolgante ver os prédios de empresas que fazem parte do nosso dia-a-dia e são muito conhecidas.
Viajar para o sul da Califórnia nos leva a outras cidades como Cupertino (sede da Apple), Mountain View (sede do Google) e a famosa praia de Mavericks, que deu nome ao OS X 10.9. Não há um só dia por aqui que você não tenha oportunidade de fazer algo novo, diferente e único em uma cidade recheada de oportunidades, de fato.
Essas oportunidades são geradas por uma característica, por ora única do Vale do Silício, que cidades inteiras têm trabalhado para replicar: um ambiente verdadeiramente empreendedor. Para compreendermos mutuamente o significado disso, vamos entender quais os fatores que criam esse ambiente.
Quando as instituições que geram conhecimento (universidades) estão intimamente ligadas a empresas que reúnem investidores (fundos de investimentos) e alinhadas a uma legislação atualizada em um mercado que atrai uma incrível quantidade de talentos do mundo inteiro, você tem como resultado dessa equação uma cidade culturalmente empreendedora. Montar um negócio nos EUA leva, em média, cinco dias úteis!
Para efeito de comparação, essa média no Brasil é de 30 dias — isso se você entender do processo ou estiver trabalhando com uma empresa que faça tudo por você.
A cidade abriga um grande número de incubadoras para testar, aprimorar e crescer projetos, e é muito fácil encontrar pessoas dispostas a trabalhar com você em um projeto — todos lutando para se tornar o próximo Instagram ou WhatsApp da vida. Tomando um simples café, você pode ver diversas pessoas escrevendo códigos, criando layouts ou testando suas hipóteses. Responder perguntas e formulários para uma nova empresa é natural como a luz do dia e as pessoas, na maioria das vezes, o fazem de bom grado.
San Francisco é, portanto, uma terra de oportunidades porque as pessoas a fazem ser. No ônibus, em um bar, na universidade e na rua, em todos os lugares, aqui você está se conectando com pessoas. Networking, aliás, é prática diária. Todos aqui têm uma ideia, um projeto e/ou trabalham em uma startup/empresa de tecnologia. Se você desenvolve um projeto na universidade, como muitos de nós no meu mestrado, você já se conecta — seja pelo professor, amigos, conhecidos e entusiastas — com pessoas que podem fazer aquela ideia acontecer. Tudo isso requer uma sólida base que vem do estudo prático das metodologias de desenvolvimento de negócios.
A série Appreendedor, aqui no MacMagazine, traz diversas dicas e processos que são comuns no dia-a-dia de empreendedores aqui na cidade — em competições que acontecem semanalmente para aprimorar as ideias, validar as hipóteses e encontrar investidores.
Por ora, eu não pretendo sair de San Francisco. Em breve, atuarei para fortalecer empreendedores do nosso Brasil aqui no Vale do Silício. Hoje encontro aqui o ambiente perfeito para crescer na prática como “apprendedor” e praticar as ideias e projetos que sempre desejei. Diga-se de passagem, o ambiente — se você se envolver e souber onde procurar — lhe motiva naturalmente a ter ideias, criar projetos e entender que falhar é parte do processo e, se é pra acontecer, é melhor falhar rápido e com frequência para encontrar o caminho do sucesso. A diferença é a sua base de conhecimento e a dedicação em validar o seu projeto antes de apostar todas as fichas para solucionar problemas — ou criar novidades — que só você imagina.
Pelos motivos expostos, eu posso lhe dizer: San Francisco não é modinha e tem muito a nos ensinar!