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Autor do ebook “Amazônia” fala sobre os desafios de criar e distribuir livros didáticos interativos na iBooks Store

Capa do livro didático "Amazônia"

Alguns podem até esquecer, mas além de toda uma plataforma para criar e distribuir apps/jogos, a Apple também oferece tudo isso para escritores e editoras com o iBooks Author e a iBooks Store.

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Desculpe, app não encontrado.

Disponível de graça na Mac App Store, o iBooks Author é um app fantástico que permite criar livros didáticos do iBooks incríveis, assim como praticamente qualquer tipo de livro para iPad. Com galerias, vídeos, diagramas interativos, objetos 3D, expressões matemáticas e muito mais, esses livros dão mais vida ao conteúdo de um jeito que seria impossível em uma página impressa.

Marcos A. Lima Filho resolveu embarcar nessa e escreveu o livro ebook “Amazônia”, resultado de uma dissertação de mestrado em design na UFPE que em seu primeiro ano conseguiu alcançar a marca de 5 mil downloads na iBooks Store e é destaque da categoria “Ciência e natureza”.


Capa do livro didático "Amazônia"“Amazônia”

Preço: grátis
Compatibilidade: iPads e Macs
Req. mínimos (iGadgets): iBooks 3 e iOS 5.1
Req. mínimos (Macs): iBooks 1.0 e OS X 10.9
Escritor(a): Marcos A. Lima Filho
Categoria: natureza
Editora: Sheep Books
Páginas: 63

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O autor tem entrevistado professores e as impressões deles sobre o livro são ótimas; por outro lado, editoras nacionais ainda não apostam nessa plataforma — segundo Marcos, não há quase nada publicado em português criado com o iBooks Author, enquanto que nos EUA o app é praticamente a plataforma padrão para livros didáticos, com o iPad atingindo 98% do mercado educacional.

Livro didático "Amazônia"

Por que isso acontece? Difícil responder, mas conversamos com Marcos para tentar entender melhor esse mercado e o que pode ser feito aqui no Brasil para que ele decole.

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Confira o bate-papo, abaixo:

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Descreva para a gente como é o processo de criação de um ebook com o iBooks Author.

Criar uma versão digital de um livro didático é muito fácil, porque antes mesmo de ir para a impressora o livro já é um arquivo digital. Mas criar um ebook no iBooks Author é um processo completamente diferente. Ele exige do autor/designer o planejamento de uma experiência totalmente nova, voltada para o tablet. E isso não é uma simples diferença entre papel e tela: é um processo de reconstrução do livro. O autor tem que repensar o conteúdo e criar com o designer novas formas de apresentar aquele conhecimento. Imagens, videos, infográficos, modelos 3D, diagramas interativos, entre tantos outros… tudo isso pode ser usado para traduzir aquilo que era texto em formas mais atrativas de aprendizagem. O processo de design de um livro no iBooks Author não é uma mera adaptação, é uma reconstrução.

Depois de pronto, é difícil publicar o ebook na iBooks Store?

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Isso depende. Existem dois tipos de cadastros na iBooks Store. Um é usado apenas para quem vai publicar livros gratuitos. Esse cadastro é supersimples, dá para fazer em menos de cinco minutos. O iBooks Author já cria um pacote do iBooks pronto para ser exportado pelo iTunes Connect (gerenciador de conteúdo de quem tem material publicado nas lojas digitais da Apple). Não é um processo difícil.

Já para quem quer vender os livros publicados, aí é bem mais complicado. Para as empresas fora dos Estados Unidos, a Apple exige no cadastro o Individual Taxpayer Identification Number (ITIN). É um número que existe com a finalidade de reter o pagamento dos impostos, tipo um CNPJ/CPF. Esse cadastro é feito pelo fisco americano, exige o envio de alguns documentos e verificação de identidades e, por isso, é bem mais complicado.

Como você disse, o iBooks Author oferece inúmeros recursos para tornar os ebooks mais interativos. Vale a pena investir tempo nisso ou o que importa mesmo é o conteúdo?

Nos livros impressos é comum que o texto indique links da internet para sites, videos e outros conteúdos que complementam o texto. Mas que pessoa vai parar a leitura, ligar o computador, iniciar o sistema, navegar na internet até o local indicado e, durante esse processo desviar sua atenção de todas as possíveis distrações (emails, mensagens, redes sociais, anúncios, etc.) para só então visualizar um vídeo? Acredito que a maioria dos leitores pensa duas vezes antes disso e acaba não fazendo. O iPad e o livros interativos mudam isso: vídeos e outros conteúdos estão integrados ao livro, à distância de um simples toque.

No contexto educacional, o que as nossas pesquisas mostram é que os livros didáticos do iBooks motivam os alunos, aumentam seu interesse pelo conteúdo das disciplinas e prendem mais a sua atenção. Essa capacidade de somar interatividade e vários recursos multimídia ao livro é valorizada pelos professores, que acham que isso pode mudar a educação para melhor. Se esses livros são capazes de melhorar o desempenho em prova dos alunos, ainda é cedo para afirmar. Um bom resultado certamente dependerá de outras questões, como o preparo do professor e a qualidade do conteúdo digital.

Sem dúvida existem muitos benefícios em trocar livros físicos por ebooks, como diminuição do peso da mochila, conteúdo interativo e atualizado sempre que necessário, entre outras coisas. Por que, então, a coisa ainda não vingou aqui no Brasil?

Nos Estados Unidos, a Apple tem um enorme fatia do mercado educacional com o iPad, e lá grandes editoras adaptaram seus currículos educacionais aos tablets. Com o iPad, o aluno tem vários materiais para cada disciplina e a oferta cresce a cada dia. Já aqui no Brasil, é possível dizer que o modelo ainda não vingou. Basta olhar na seção de livros didáticos da iBooks Store: está vazia. De que adianta o aluno ter o tablet e não ter livros, aplicativos e demais conteúdos? O tablet sozinho não vai ensinar o aluno. Onde estão as editoras nacionais? Por que a inovação não está acontecendo?

O problema que descobri é que o mercado educacional no Brasil é praticamente estatal — 87% dos alunos do Ensino Fundamental e do Médio estudam em escolas públicas. Ou seja, apenas uma ínfima parte está no sistema privado de ensino. Por essas razões, é evidente o papel e o poder do Estado sobre o mercado editorial educacional e, portanto, sua influência na atividade inovadora deste setor. Dificilmente as editoras arriscarão recursos no desenvolvimento de livros didáticos do iBooks com melhor qualidade se eles puderem ser distribuídos apenas nas escolas particulares. Essas inovações precisam ser escaláveis (atingindo o maior número possível de consumidores) para que o investimento seja rentável e os riscos sejam mais baixos.

Você acha que isso pode criar desigualdades na educação?

Isso com certeza aprofundará as desigualdades já existentes. Enquanto o resto do mundo avança no uso de tablets na sala de aula, eu acho que levará ainda bastante tempo para que o Brasil caminhe neste sentido, pois dependemos quase que totalmente do governo para isso. Eu quis fazer o livro “Amazônia” em 2012 porque não tinha quase nenhum livro de iBooks assim em português. Hoje, em 2014, a situação não é diferente. Dois anos no mundo da tecnologia é muito tempo e, durante esse período, nada foi feito.

A separação entre educação de primeiro mundo e terceiro mundo nunca foi tão evidente como agora. E não falo isso com base em ideologia, não. É só comparar a quantidade/qualidade dos livros didáticos digitais que o resto do mundo tem com os nossos. Qualquer um pode ver, é absurda a diferença. Por que os alunos brasileiros têm que ficar atrás?

Outra desigualdade será se o governo não apostar na tecnologia, sucateando a escola pública, enquanto as escolas particulares a adotarem. Ou se o governo adotar softwares (sistemas operacionais, livros didáticos, aplicativos, etc.) e tablets inferiores aos adotados no sistema privado de ensino. Teremos a educação tecnológica de ricos e pobres.

Mas o MEC e alguns governos estaduais já fizeram algumas licitações para compra de tablets.

O problema é que essas ações sempre são voltadas para a distribuição de tablets e não para a produção de conteúdo digital de qualidade. O MEC vai distribuir tablets aos professores que muitas vezes morrem de medo de tecnologia e nem sabem utilizar o equipamento. Aliás, sem o material didático no tablet, eles vão usá-lo para que, mesmo? Enquanto isso, alguns governos estaduais têm distribuído os tablets em escolas que não têm infraestrutura de internet para suportar tantos acessos simultâneos. Acaba que o tablet fica servindo para jogos e outras coisas — longe de ser uma ferramenta educacional.

Você acredita que ebooks devem ser mais baratos do que livros físicos?

Sim e não. O livro digital é mais barato porque as lojas virtuais de ebooks cobram, em média, 30% do valor de capa e em troca viabilizam o download e a venda das obras. Não há despesas com estoque, logística, centro de distribuição, frete, aluguel do ponto de venda, entre outras coisas que até então eram custeados pelo consumidor.

Mas ao mesmo tempo, é claro que é mais barato produzir um livro só com texto e poucas imagens, do que produzir um livro com textos, imagens, infográficos, videos, modelos 3D e toda a interatividade e multimídia que o tablet trouxe para o livro. Talvez os preços permaneçam os mesmos, mas a qualidade da obra aumente.

Como a Apple pode ajudar a disseminar a plataforma aqui no Brasil?

Como já disse, 87% dos estudantes dependem diretamente do Estado. Isso quer dizer que a plataforma só vai dar certo se a Apple agradar aos olhos do governo. Quando se trata de licitação de smartphones para senadores e deputados, sabemos que a preferência é certa pelos iPhones. Mas quando se trata de escolher aquilo que o povo vai usar, a história é outra. Nas licitações de tablets, a plataforma Android tem levado vantagem.

A Academia Brasileira também tem um alto preconceito com plataformas fechadas, coisa que o iBooks e o iPad são. Há alguns anos, deu-se preferência ao Linux e ao OpenOffice. Isso reduziu a produtividade das repartições públicas, que logo depois substituíram seus softwares pelos consagrados — e úteis — Windows e Office. O Android é uma plataforma aberta, mas o que realmente deveria importar como critério de escolha é a satisfação do usuário. Ela só é levada em conta quando se trata de políticos, e não de estudantes.

Frente a isso, acho que a Apple vai ter que competir na base de preço, coisa que ela nunca foi boa. Nunca vi a Apple tomar atitudes ousadas na América Latina, adaptadas ao nosso contexto. Tim Cook vai ter que se mexer bastante e mudar muitas coisas se quiser conquistar mais do que os 13% de estudantes das escolas particulares.

Você publicou o seu livro somente na iBooks Store, mesmo? Não é interessante publicar também nas lojas concorrentes, como a da Amazon.com?

Eu tentei procurar outras plataformas, mas apesar de ter sido lançado em 2012, o iBooks Author ainda não tem similares no mercado. Ainda não achei uma plataforma de edição de livros digitais (iBooks Author) integrada perfeitamente a uma loja de conteúdo (iBooks Store) e a softwares de visualização (iBooks para iPads, iPhones/iPods touch e Macs). A outra opção seria distribuir o livro na forma de aplicativo, mas isso seria muito mais custoso.

Sites como o MacMagazine costumam destacar periodicamente bons apps criados para iOS/OS X, mas para ebooks o espaço é mais limitado. Quais as melhores formas de divulgar um trabalho desse tipo?

A melhor forma é convencer os editores da iBooks Store a colocar seu livro na vitrine virtual. Isso sozinho chega a gerar mais de 1.000 downloads por semana.

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