Trabalho com tecnologia há mais de 15 anos e desde o início sempre busquei criar negócios que gerassem lucro, porém que beneficiassem todas as pessoas envolvidas no processo. Por não ser o meu estilo profissional, nunca vi meus negócios como ONGs ou instituições, da mesma forma que também não consigo associá-los a empresas capitalistas agressivas. Esta era uma dúvida que tinha até antes de conhecer o meu amigo e parceiro no Appreendedor, Artur Sousa — Mestre em Empreendedorismo Social pela Hult International Business School.
por Artur Sousa
Como empreendedor social, encontro pessoas pelo mundo afora que sempre perguntam: que raios é um empreendedor social?
Gostaria de compartilhar com nossos amigos do MacMagazine um pouco mais desse movimento que está se espalhando no mundo inteiro, mais sobre essas pessoas que se dedicam para gerar impacto social e qual a diferença entre um empreendedor e um empreendedor social.
Antes de mais nada, é bom lembrar que não podemos enxergar impacto social como atos de caridade ou trabalho que apenas ONGs realizam. Gerar impacto social vem do saber mínimo de ser responsável pelo impacto que uma empresa/organização causa no ambiente (não só na natureza, mas no ambiente como um todo). Segundo a Teoria do Caos, tudo gera impacto no universo. Todas as nossas ações. Ser consciente disso nos traz a oportunidade de planejarmos, antecipadamente, o impacto que gostaríamos de gerar.
Empreender, por sua vez, traz a ideia de rompimento do “status quo” — gerar serviços, movimentar a economia, criar um impacto econômico-financeiro para você, empreendedor, seus trabalhadores e também para os seus clientes. Por muito tempo a ideia de empreender socialmente trazia consigo o conceito de que, se você está gerando impacto social, você não pode ganhar dinheiro. Como se fossem fatores opostos, como se todos devessem escolher entre ser responsáveis pelo seu próprio impacto ou ganhar dinheiro.
O empreendedor social é aquele que, mesmo não trabalhando com pessoas em situação de pobreza ou questões relacionadas, através das suas ações gera um impacto positivo na comunidade. Que, através do seu negócio, remunera adequadamente todos os colaboradores — e não apenas os diretores —, trazendo consigo um propósito de ser responsável, fiscal, ambiental e social. É simples como possibilitar que pessoas, mesmo as que não tenham estudado nas melhores escolas, tenham acesso a oportunidades dentro da sua empresa. Isso já é ser responsável.
Mas aí encontramos o empreendedor social puro. Uma pessoa que, em vez de priorizar o dinheiro como objetivo, trata o dinheiro como consequência do trabalho. É uma empresa que atua proporcionando desenvolvimento social, embora possa ser sem fins lucrativos, é sustentável financeiramente. A questão aqui é que a maioria das ONGs, no ato de gerar impacto, tem uma grande dependência de parceiros externos e isso as coloca em xeque no que tange à continuidade dos seus trabalhos.
Os empreendedores sociais criam maneiras de gerar receita contínua e, por consequência, têm a oportunidade de escalar e crescer, impactando mais pessoas através dos seus serviços oferecidos a comunidades que não teriam acesso em sua localidade. Por exemplo, um curso de programação com valores acessíveis dentro de comunidades pobres gerando receita para continuar suas operações.
Neste momento estamos trabalhando em um case bem legal envolvendo empreendedorismo social — através de um dos artigos da série Appreendedor publicado no final de julho, o Renato Ribeiro convidou voluntários para participarem da construção de um app que será comercializado e todo o dinheiro arrecadado, revertido para um fundo de apoio a empreendedores sociais em comunidades excluídas. Como grupo, trabalhamos pelo sucesso do app doando nosso conhecimento e tempo, somos mais de 100 pessoas localizadas em todas as regiões do Brasil e também no exterior. Como projeto (Appreededor Fellowship), buscamos fontes que gerem receita contínua para seguir em frente, atuando, gerando impacto e criando novas oportunidades.
Hoje qualquer empreendedor pode, e deve, ser consciente do impacto que gera. O que tenho encontrado no Vale do Silício são empreendedores de sucesso que estão correndo atrás para gerar impacto social porque o mundo está seguindo nessa direção. A cultura de startups e empresas em geral tem mudado, acabou-se o tempo (muito em breve) no qual apenas empresas gigantes e tradicionais comandam o mercado.
Hoje qualquer um pode criar um computador, software ou serviço. E criando você consegue atender à demanda de qualquer pessoa, em qualquer lugar do mundo. O diferencial, acredito que muito em breve, será o quão bem você pode fazer isso com o maior impacto possível, em um mundo onde 4 bilhões de pessoas estão na linha da pobreza — ou abaixo dela — e servi-los. Não é só melhorar a qualidade de vida destas pessoas, e sim buscar uma estratégia de negócio lucrativa gerando novas oportunidades para o ambiente — em um mundo onde o que produziremos pode não ser suficiente para alimentar a todos. Crises trarão oportunidades; você está pronto para aproveitar a sua?
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