Há alguns meses, antes mesmo de o iOS 8 ser liberado para todos, nós falamos do app Saúde (Health), uma das novidades do novo sistema operacional móvel da Apple.
Hoje temos uma quantidade enorme de apps focados em saúde e fitness, dos mais variados. Alguns servem “apenas” como contador de passos; outros, para monitorar o nosso sono; não é difícil, também, encontrar apps mais completos os quais permitem monitorar mais de uma coisa ao mesmo tempo, como passos, queima de calorias, exercícios físicos, etc.; tem até mesmo aqueles que trabalham junto de acessórios para nos fornecer dados como peso, índice de gordura corporal, frequência cardíaca, pressão arterial e por aí vai.
Dificilmente apenas um aplicativo desses satisfaz a vontade do usuário que gosta e quer monitorar a sua saúde de uma forma mais completa. A parte boa é que, como disse, existem várias soluções disponíveis na App Store; a ruim é que você precisa lidar necessariamente com diferentes soluções (apps e serviços) para ter esse panorama geral sobre o seu corpo.
O conceito
O app Saúde veio para tentar resolver justamente esse problema. Ele por si só faz muito pouco — pelo que testamos aqui, sozinho, o iPhone é capaz apenas de contar os passos (através do coprocessador M7/M8) e os lances de escada que você subiu (com o sensor barômetro de iPhones 6 e 6 Plus).
Mas é aí que entra a parte legal do Saúde: existe um mar de aplicativos que nos ajudam a monitorar a nossa saúde e as atividades físicas realizadas. Mas em vez de abrir cada um desses apps que você baixou para ter acesso aos respectivos dados, por que não centralizar tudo num local? Voilà!
É claro que, para isso, desenvolvedores precisam atualizar seus aplicativos, deixando-os compatíveis com o Saúde. Mas levando em consideração que a solução da Apple não ameaça em nada o negócio dos desenvolvedores — pelo contrário, na teoria o aplicativo chegou para somar —, podemos imaginar que a maioria oferecerá esse suporte. O conceito por trás do Saúde, então, é bem interessante e útil.
Como funciona na prática
O app em si é dividido em quatro partes: “Painel”, “Dados de Saúde”, “Fontes” e “Ficha Médica”.
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A “Ficha Médica” nada mais é do que um local para você colocar suas informações mais importantes (algumas vitais) para caso você sofra algum acidente na rua ou fique inconsciente e precise de atendimento médico. Com tudo devidamente preenchido, a opção “* ID Médico” aparece quando alguém toca em “Emergência” (na Tela Bloqueada do aparelho).
Por lá, mesmo com o aparelho bloqueado, é possível ligar para o contato de emergência e saber o seu tipo sanguíneo — dois dados importantíssimos no caso de um acidente ou algo parecido. É claro que a pessoa que for socorrer a outra precisa saber que essa ficha existe, mas a Apple fez o papel dela de disponibilizar tudo no iPhone.
A aba “Fontes” lista todos os aplicativos que você tem instalado no iPhone os quais fornecem ou puxam dados do aplicativo Saúde. É lá que você autoriza ou não cada um desses apps — é possível também controlar isso em Ajustes » Privacidade » Saúde, mas a Apple achou melhor colocar também essa opção dentro do app para facilitar as coisas.
Já a aba “Dados de Saúde” lista *todas* as informações que podem ser monitoradas pelo app Saúde. Existem duas formas de você monitorar esses itens: 1. através de algum aplicativo disponível na App Store, ou 2. inserindo dados manualmente.
Ao tocar num desses dados, temos quatro opções disponíveis: “Todos os Dados” (onde vemos tudo o que já foi monitorado desde item em questão), “Adicionar Ponto de Dados” (onde adicionamos informações manualmente), “Compartilhar Dados” (onde podemos também ajustar a interação do app Saúde com um determinado aplicativo) e “Mostrar no Painel” (ativando essa opção, o dado em questão aparece na aba “Painel”).
O “Painel”, como você pode imaginar, é onde ficam listados todos os dados destacados por você na aba “Dados de Saúde”. Você tem a opção de visualizar as informações por dia, semana, mês ou ano.
Como lidar com múltiplas fontes de um determinado dado
Você pode ter diversos aplicativos que monitoram a mesma coisa (por exemplo, passos).
Para dar prioridade a um deles, você deve entrar tocar no painel “Passos” e depois escolher a opção “Compartilhar Dados”. Perceba que existe uma ordem em “Fontes dos Dados”. Tocando em “Editar” (canto superior direito) você pode reordenar essas fontes, sendo que a primeira será priorizada.
Os problemas
Para começar, a Apple poderia já indicar alguns apps que suportam o Saúde assim que o usuário abrisse o app pela primeira vez. Ela faz isso, por exemplo, no Passbook, indicando aplicativos que utilizam a ferramenta para guardar tíquetes, ingressos, cartões de embarque/fidelidade, cupons, etc.
Mas a coisa é tão estranha que mesmo para usuários que já possuem apps integrados ao Saúde, ao abrir o aplicativo da Apple você não vê nenhuma informação. Seria bem mais interessante se, ao conectar um app de monitoramento de sono ao Saúde, por exemplo, o sistema já desse a opção de destacar esses dados na aba “Painel”. Mas não, você é obrigado a entrar nos “Dados de Saúde” e ativar manualmente tudo o que quer visualizar no “Painel”.
Um viés social é imprescindível para que esse ecossistema funcione. Imagine que você está fazendo aquela dieta e conseguiu perder 10kg! Ou que você se preparou durante um bom tempo e conseguiu completar a sua primeira maratona. Muita gente adora compartilhar esse tipo de “conquista”, mas pelo Saúde isso não rola. Por enquanto, nada de compartilhar gráficos ou informações específicas nas redes sociais — muitos podem pensar que a opção “Compartilhar Dados” é para isso, mas não.
A interação com o app também deixa a desejar. Depois de monitorar alguns dados por um determinado período, tudo o que você tem é um gráfico com bastante informação. A Apple não nos ajuda a interpretar isso de alguma forma. Seria ótimo, por exemplo, se o usuário pudesse informar o que ele quer fazer para ter uma vida mais saudável (perder 5kg em 2 meses; dar 10.000 passos por dia; ou dormir 8 horas por dia) e o app desse algum tipo de sugestão para que a tarefa pudesse ser realizada (evitar algum tipo de alimento; caminhar 30 minutos por dia; ir deitar mais cedo). Mas não, tudo o que você tem é um gráfico sem nenhum tipo de interação e motivação.
App Saúde (à esquerda) e UP (à direita).
Além disso, existem falhas. Eu, por exemplo, uso a pulseira UP e monitoro o meu sono por ela. Ainda assim, os dados captados pelo aplicativo oficial da Jawbone não vão de maneira nenhuma para o painel “Análise do Sono”. Pode ser um problema da API da Apple, pode ser um problema da implementação do app UP… não importa. O que interessa é que os dados não vão para o Saúde, por mais que tudo esteja devidamente conectado.
Navegar pelas centenas de opções que estão disponíveis em “Dados de Saúde” também é algo bem chato. Há, aqui, claramente um problema de design. Eu não sei como a Apple pode — e se vai — resolver isso. Mas a verdade é que o design escolhido para o app não joga a favor.
Apps compatíveis com o Saúde
Já existe uma boa quantidade de apps compatíveis com o Saúde, confira:
Evolução
Eu acredito que, com a chegada do Apple Watch, muita coisa mudará no app Saúde — ou ao menos deveria, já que este seria o local natural para visualizarmos as informações de saúde e fitness captadas pelo relógio. Se a Apple utilizar outra solução, outro local para visualizarmos tudo referente ao relógio…
Mas independentemente da chegada do Watch, o Saúde precisa ter vida própria e se tornar algo a mais do que um “simples” hub central para esse tipo de informação.
Como disse, é preciso ter mais interação. O app precisa se tornar mais do que um simples gerador de gráficos. É claro que há limites — com a tecnologia de hoje ainda não é possível prever quando um usuário terá um infarto (baseado nos dados alimentares, de frequência cardíaca, etc.). Mas já é possível facilmente enxergar pequenos problemas que podem ser corrigidos com uma simples mudança de rotina. E é esse tipo de coisa de que precisamos.