E vamos a mais desdobramentos do caso Apple vs. FBI…
Depoimento no Congresso
James Comey (diretor do FBI) e Bruce Sewell (vice-presidente sênior e conselheiro geral da Apple) foram convocados a depor em uma audiência no Congresso americano agendada para o dia 1º de março. Ambos, é claro, falarão sobre criptografia e defenderão os seus pontos de vista sobre o assunto.
Comey falará em um primeiro painel; já Sewell falará em um segundo, ao lado de Susan Landau (professora do Instituto Politécnico de Worcester) e Cyrus Vance (advogado do distrito de Nova York) — NY também está no centro da polêmica, já que o departamento de segurança pública da cidade está com nada mais nada menos que 175 iPhones que não podem ser acessados devido a criptografia.
Conforme informamos, o FBI quer que a Apple crie um novo sistema operacional sem diversos recursos de segurança para ser instalado em um iPhone 5c utilizado por um terrorista que matou 14 pessoas e feriu outras 22 em San Bernardino, na Califórnia. A Apple, porém, se recusou a atender o pedido alegando que, uma vez a ferramenta criada, poderia ser utilizada em qualquer iPhone — abrindo um enorme precedente.
Levando em conta que a Apple quer levar o caso para o Congresso e tirá-lo do Tribunal, isso parece ser uma boa notícia para a empresa — ao menos estrategicamente falando.
A defesa da Apple
A Apple tem até amanhã para responder oficialmente ao pedido do governo/FBI para criar o tal sistema operacional sem os recursos de segurança. Hoje, porém, a empresa entrou com um pedido na justiça justamente para que a tal ordem seja removida.
A alegação da empresa é que a ordem não é autorizada pela legislação atual e, além disso, inconstitucional. Para a Apple, este não é um caso sobre um iPhone isolado e sim sobre o Departamento de Justiça e o FBI buscando, através de tribunais, um poder perigoso que o Congresso e o povo americano se negaram a dar.
Executivos da Apple afirmam que as exigências do governo na investigação do caso de San Bernardino foram feitas sem a aprovação do Congresso, o que contradiz a posição do governo de Barack Obama na qual nenhuma nova autoridade legal envolvendo criptografia deveria ser criada.
A Apple também argumenta que a afirmativa do governo de que o “GovtOS” (como é chamado o iOS modificado que o governo quer) pode ser utilizado uma vez e destruído é “fundamentalmente falho”. Para completar, como a empresa nunca criou algo do tipo, disse que não consegue precisar bem o tempo necessário para criar tal sistema, mas imagina que tais exigências do governo exigiriam recursos e esforços significativos. Na visão da empresa, a concepção, criação, validação e implantação do software provavelmente exigiria de seis a dez engenheiros da Apple, dedicando boa parte de seus tempos, por um período de duas a quatro semanas. Os membros da equipe incluiriam engenheiros do grupo de sistema operacional principal da Apple, um engenheiro de garantia de qualidade, um gerente de projeto, e mais um redator de documento e/ou de ferramenta.
Outras empresas do setor apoiando a Apple
Google, Microsoft, Facebook e Twitter já demonstraram apoio à Apple anteriormente através de declarações. Porém, agora, todas — além do Yahoo — se comprometeram a entrar na briga como amicus curiae (em português, amigos da corte; segundo a Wikipédia, uma expressão utilizada para designar uma instituição que tem por finalidade fornecer subsídios às decisões dos tribunais, oferecendo-lhes melhor base para questões relevantes e de grande impacto).
Todas elas entrarão na semana que vem com o pedido na justiça.
Contratação importante na área
Mostrando que não está brincando em serviço, a Apple acaba de contratar Frederic Jacobs.
I'm delighted to announce that I accepted an offer to be working with the CoreOS security team at Apple this summer.
— Frederic Jacobs (@FredericJacobs) February 25, 2016
É um prazer anunciar que eu aceitei uma oferta para trabalhar com a equipe de segurança do CoreOS da Apple neste verão.
Jacobs foi desenvolvedor do Signal (da empresa Open Whisper Systems), um dos mensageiros mais seguros do mercado1Edward Snowden (ex-analisa da CIA/NSA) disse que usa o Signal “todos os dias” e ele é um dos poucos mensageiros do mercado a ganhar nota máxima no quesito segurança da Electronic Frontier Foundation. — ele trabalhou diretamente com a criptografia do app.
Como existe o risco de a Apple perder essa batalha para o FBI, a ideia da empresa seria justamente melhorar as medidas de segurança do iOS ainda mais a ponto de um dispositivo ser tão seguro e a Apple não ter como fazer nada para ajudar o FBI ou outras instituições no futuro, mesmo querendo.
Jacobs disse que será uma espécie de estágio na Apple, embora a duração e as responsabilidades não tenham sido reveladas.
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Se você não acompanhou todos os artigos abordando o assunto, eis a lista:
- Justiça dos EUA quer que Apple ajude o FBI a hackear iPhone de terrorista; Tim Cook responde com carta aberta
- Apple vs. FBI: Departamento de Justiça dos EUA quer obrigá-la a cumprir pedido de juiz
- Imbróglio envolvendo Apple e FBI continua; empresa publica página com respostas sobre o tema
- Apple vs. FBI: 51% dos americanos apoiam o governo, incluindo Bill Gates
- O tal do precedente: lista mostra que FBI quer que a Apple desbloqueie mais de 10 iPhones
- Apple vs. FBI: segurança do iOS vai melhorar ainda mais; Tim Cook é entrevistado
Também discutimos bastante o caso no último episódio do nosso podcast, o MacMagazine no Ar:
De MacMagazine
Episódio: #170
Gravação: 23 de fevereiro de 2016
Duração: 1h02min17
Trilha sonora: The Rolling Stones
[via MacRumors, BuzzFeed News, TechCrunch, Re/code, Wired]
Notas de rodapé
- 1Edward Snowden (ex-analisa da CIA/NSA) disse que usa o Signal “todos os dias” e ele é um dos poucos mensageiros do mercado a ganhar nota máxima no quesito segurança da Electronic Frontier Foundation.