O caso Apple vs. FBI chegou a um nível que grandes nomes da política (principalmente da americana) precisam comentar. O presidente dos Estados Unidos não poderia ficar de fora dessa e resolveu abordar o assunto em sua passagem pelo South by Southwest (SXSW) Conferences & Festival.
A opinião do presidente dos Estados Unidos
Ainda que boa parte da conversa com o presidente americano tenha sido em torno da importância da inovação para alavancar o engajamento cívico, ele deixou claro que não comentaria o caso do iPhone do terrorista de San Bernardino alegando que não poderia fazer uma declaração oficial. Mas isso não o impediu de falar amplamente sobre a questão.
Ele utilizou um exemplo bem prático, dizendo que antes da invenção dos smartphones, se alguém fosse suspeito de sequestrar uma criança ou de estar envolvido numa conspiração terrorista, policiais poderiam aparecer na porta da casa do suspeito com um mandado e simplesmente revirar não apenas a casa inteira mas até procurar pistas na cueca do suspeito para ter a certeza de que havia ou não alguma prova. O povo concordou com isso pois, apesar de entender que todos possuem direitos, haverá situações como essas nas quais é preciso garantir a segurança para que todos vivam em uma sociedade civilizada.
Obama também questionou a intenção da Apple e de outras empresas em criar sistemas totalmente impenetráveis. Segundo ele, se isso for feito, como é que conseguiremos capturar pedófilos? Ou, no caso do iPhone de San Bernardino, interromper um possível plano terrorista? Ou até mesmo coisas mais simples como execuções fiscais?
Se o governo não puder penetrar [nestes aparelhos para conseguir informações], então é como se todos estivessem andando com uma conta bancária suíça no bolso. Tem que haver alguma concessão para conseguir essa informação em algum lugar.
Não podemos fetichizar que nossos telefones estão acima de qualquer outro valor. Os perigos são reais. Esta noção de que, por vezes, os nossos dados são diferentes e podem ser retirados dessas outras compensações está incorreta.
Deixando de lado o caso específico entre Apple e FBI, Obama disse que o país deve tomar algumas decisões sobre como podemos equilibrar esses respectivos riscos. Fazendo outro paralelo, ele comparou tudo com o direito que a TSA (Transportation Security Administration) tem de revistar passageiros e malas quando alguém vai viajar. Todas essas coisas são feitas com a segurança em mente, e o mesmo conceito poderia ser aplicado a dispositivos digitais. Obama deixou claro, porém, que todos precisam ter cuidado para não tomar para si uma visão “absolutista” (seja lá o lado que você defenda).
“Contrapondo” isso, Obama disse que entende o valor de privacidade e que o governo não deve, de uma forma aleatória ou espontânea, ter acesso a dados pessoais armazenados em smartphones.
Para o presidente, se trata de como criar uma criptografia altamente forte mas, paralelamente, uma chave que fica altamente segura — e que só seja usada por algumas poucas pessoas, em casos específicos. Está claro que o caminho, ao menos na visão dele, é esse. Para Obama, se a comunidade de tecnologia não conseguir se acertar com o governo nesse sentido, um dia poderá enfrentar uma solução mais draconiana (uma nova lei criada pelo Congresso, por exemplo) — algo que será bem menos simpático aos olhos do mundo.
Por mais que ele não tenha dado uma declaração oficial, fica claro de que lado Obama está nesta disputa.
“Eu vou prender Tim Cook”
Ao realizar uma conferência para a imprensa por conta de um recente assassinato no qual os suspeitos fotografaram a vítima com seu telefones, Grady Judd — xerife do Condado de Polk (na Flórida) — acabou opinando sobre o caso Apple vs. FBI.
Você não pode criar um modelo de negócios e falar “Nós ignoramos juízes federais e juízes de Estados. Nós estamos acima da lei”. O CEO da Apple precisa saber que ele não está acima da lei. Eu posso lhes dizer, a primeira vez que tivermos dificuldade de acessar em um telefone celular, vamos buscar uma ordem judicial para a Apple. E quando eles nos negarem, eu prenderei o CEO da Apple. Eu vou prender o canalha.
Pelo visto Judd não deu muita bola para o que o próprio presidente dos EUA comentou (sobre termos uma visão absolutista).
John Oliver também opina
John Oliver (sim, aquele que também já falou sobre a Dilma e o “panelaço”) resolveu fazer um de seus vídeos sobre o assunto. Apesar de não estar legendado, vale muito a pena dar uma olhada:
Resumindo bastante o vídeo, Oliver chegou à conclusão de que pessoas que querem manter suas conversas privadas conseguirão de uma forma ou de outra já que existem dezenas de mensageiros, apps e produtos que protegem os seus dados. Desta forma, não importa muito se o FBI tem ou não acesso a um determinado iPhone.
No mais, é claro que há prós e contras em termos uma criptografia forte, afinal tantos nós (usuários comuns) quanto terroristas têm nas mãos aparelhos “impenetráveis”. Ainda assim, Oliver acha que isso é melhor do que reduzir a segurança e permitir que usuários comuns possam perder seus dados de uma forma muito mais fácil — até porque, como ele bem disse, terroristas continuarão buscando soluções mais seguras.
[via The Next Web, CNET, TechCrunch]