O melhor pedaço da Maçã.

Aparentemente, as táticas de negociação “linha-dura” da Apple a impediram de construir um serviço de TV online

É inegável que a Apple tem um relacionamento enrolado com a televisão. Por anos, a Apple TV foi um produto tratado declaradamente como um “hobby” da empresa — ou seja, algo que eles não levavam tão a sério. Quando resolveram efetivamente dar atenção à pequena set-top box, surgiram os rumores de que estaria nos planos um aparelho de TV “de verdade” da Maçã, bem como várias conversas sobre os executivos de Cupertino fechando acordos com as empresas de conteúdo para lançar um serviço de TV por streaming.

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Nada disso aconteceu, é verdade — a Apple TV está mais forte que nunca, mas continua restrita aos conteúdos da iTunes Store e dos seus (cada vez melhores) aplicativos. Agora, uma longa reportagem do Wall Street Journal [matéria exclusiva para assinantes] dá mais detalhes sobre a longa jornada da Apple no mundo televisivo, suas táticas nada liberais e as desilusões que possivelmente a fizeram desistir do sonho da TV pela internet.

Canal da WWDC 2016 na Apple TV

O protagonista da vez, como não poderia deixar de ser, é Eddy Cue, vice-presidente sênior de serviços e internet da Apple e cada vez mais a “face pública” da companhia nessa transição para uma empresa de serviços. A reportagem narra alguns episódios para ilustrar a tática absolutamente linha-dura de negociação de Cue com as empresas televisivas, herdada — dizem eles — diretamente de Steve Jobs. Segundo o WSJ, as exigências consideradas “inaceitáveis” pelos figurões da indústria da TV foram o que, no fim das contas, tornaram impossível um acordo da Apple com estes estúdios e distribuidores.

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Sobre as discussões com a Disney, por exemplo:

[…] A Apple quis congelar por um número de anos a taxa mensal por assinante que ela pagaria para licenciar os canais da Disney. Os canais de TV geralmente trabalham com aumentos de taxa anuais e dependem deles para aumentar o crescimento de lucros.

A Disney recusou. Conversas similares com outros gigantes da indústria, como a 21st Century Fox Inc. e a CBS Corp., também ficaram pelo caminho.

É detalhado ainda o projeto de TV por streaming que a Apple teria nas mãos e que foi apresentado à Disney: ele incluiria uma série de canais populares — a empresa do Mickey Mouse é dona de hits como a ESPN e o Disney Channel — transmitidos ao vivo por meio da internet, além de vários programas e séries desses canais sob demanda, tudo por US$30 mensais para o usuário.

As conversas, como dito, não foram à frente, e a atitude inflexível da Apple e de Cue supostamente foi o fator decisivo — a matéria chega a relatar uma frase usual de Cue ante os executivos da indústria da TV: “O tempo está do meu lado.”

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Outros modelos de negócio tentados por Cupertino envolveram conversas com grandes conglomerados de mídia, como a Time Warner e a Comcast, e envolveriam uma parceria exclusiva na distribuição de set-top boxes desenvolvidos pela Apple, com canais escolhidos por ela, autenticação por meio de uma conta da Maçã e uma função de gravar programas e excluir comerciais mesmo de programas recém-transmitidos, exigida pela Apple. Ninguém quis levar a ideia adiante.

Agora, tudo isso pode criar uma imagem de Cue como um negociador inábil, coisa que certamente ele não é. Não nos esqueçamos de que estamos falando do homem forte por trás da criação da maior loja de música do mundo, além de uma App Store com 2 milhões de aplicativos e um serviço de streaming musical absolutamente competente.

Não, Cue nem de longe é incompetente, mas talvez as dinâmicas e exigências da indústria televisiva e a arte de negociar com os figurões da telinha ainda seja uma a ser dominada pelo executivo e por sua turma na Apple. Enquanto isso não acontece, sabemos muito bem que a estratégia da Maçã está sendo outra: investir em conteúdo próprio, que atraia mais pessoas para o seu curral, e alimentar o tvOS até que ele se torne uma verdadeira plataforma como já é o iOS e o OS X macOS. Se é algo que substituirá (ou conviverá com) possíveis planos de TV pela internet no futuro, isso só o tempo dirá.

[via AppleInsider]

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