Eu adoraria estar dando esta notícia como um acontecimento extremamente atípico mas, infelizmente, todos sabemos que não é o caso: mais uma vez, o grupo vigilante da indústria chinesa China Labor Watch apresentou um relatório acusando uma fábrica do país de condições de trabalho desumanas e violação de uma série de direitos trabalhistas.
Novamente, a infratora é a Pegatron, uma das maiores fornecedoras — ao lado da Foxconn — de peças e componentes do iPhone para a Apple. O grupo de direitos trabalhistas analisou recibos de salários dos trabalhadores de uma fábrica da empresa em Xangai e relatou uma série de problemas, como horas extras forçadas e ilegais, salários para empregos em tempo integral abaixo da quantia estabelecida pelo país e falta de proteção adequada em algumas funções.
Além disso, o China Labor Watch acusa a Pegatron de não limitar a quantidade de horas extras trabalhadas pelos funcionários, algo que é obrigatório na lei chinesa — um empregado chegou ao extremo de fazer 109 horas a mais na função, trabalhando por absurdas 293 horas num mês (o que dá 9,7 horas por dia, incluindo fins de semana) –, e de não pagar por horas extras a empregados que foram requisitados a chegar mais cedo nas linhas de produção.
O salário médio por hora dos empregados da Pegatron era de US$1,85 em 2015 e subiu para US$2,00 neste ano — com deduções, entretanto, este valor cai para US$1,60. Muitos trabalhadores chineses precisam fazer um grande número de horas extras mensais para até mesmo completar uma renda básica de sobrevivência.
Junto a acusações graves em relação à Foxconn, fica claro que a situação dos trabalhadores chineses não está nada boa. A Maçã admite que há excesso de horas extras na fábrica da Pegatron, mas afirma que a porcentagem é menor do que a publicada pelo relatório.
Agora, é como dizem: se você não é parte da solução, você é parte do problema. Obviamente, a princípio a Apple não tem muito o que fazer em termos de soluções práticas para solucionar a super-exploração dos chineses que montam nossos iPhones. Contudo, para uma companhia que tanto se orgulha de ser pioneira em uma série de aspectos, este é um incômodo espectro pairando constantemente sua cabeça. Quem sabe um dia a Apple da revolução tecnológica não possa ser a Apple da revolução dos direitos trabalhistas na China?
Não custa sonhar, né.
[via The Loop]