Ideias. Comparar aplicativos de anotação é uma tarefa muito complicada porque, no fim das contas, é comparar o próprio fluxo de pensamento da mente humana.
Ao contrário de outros segmentos com finalidades bem específicas, como segundas telas ou leitura de texto, aplicativos de anotação servem para diferentes propósitos dependendo da pessoa. Você pode usá-los para escrever longos textos com pensamentos não-filtrados, para desenhar/gravar inspirações cotidianas, para fazer a lista de compras do supermercado, para escrever o próximo grande romance literário ou simplesmente para colocar um lembrete de algo importante.
Em outras palavras, todo mundo usa aplicativos de notas de uma forma diferente. Uma coisa, entretanto, é certa: se o app não tiver algumas funcionalidades básicas, um design bem-pensado e a possibilidade de lhe acompanhar seja lá onde for, ele não vai funcionar direito nem com reza braba.
Por isso, reunimos aqui os seis principais concorrentes do segmento para uma acirrada disputa: Evernote, Simplenote, Google Keep, Notability, Microsoft OneNote e o próprio Notas, da Apple. Quem será que vai se dar melhor? Vejamos a seguir.
Design
Por mais subjetivo que seja este ponto, utilizei como métrica para julgar os vencedores aqueles que conseguissem unir da melhor forma possível uma interface de usuário atraente com funções facilmente alcançáveis e método de funcionamento intuitivo. Neste sentido, as duas opções que se deram melhor foram o Google Keep e o Notas, da Apple. Ambos apresentam design atraente, limpo, sem muitas firulas visuais (estou olhando para você, Evernote) e com as ferramentas em local de fácil acesso.
Logo abaixo, temos o Notability e o OneNote, ambos com uma interface limpa e organizada, porém deixando um pouco a desejar na parte de facilidade para encontrar os recursos oferecidos (que, em ambos os casos, são muitos). É bom frisar que o concorrente da Microsoft é, sob muitos aspectos, o “diferentão” do grupo, com uma lógica visual que baseia-se em abas, páginas e arquivos muito mais do que nos cadernos e nas folhas de papel da concorrência. Particularmente, isto me dá uma impressão positiva de organização, mas sua experiência pode variar.
O Simplenote traz, como já anuncia o seu próprio nome, uma simplicidade absoluta que é uma faca de dois gumes: apesar de trazer uma bem-vinda (e, francamente, inspiradora) leveza visual e extremo minimalismo, acaba por esconder muitos dos seus recursos embaixo de menus de acesso pouco intuitivos. Por fim, o Evernote é um bom exemplo de bloatware: a não ser que o usuário já esteja acostumado com seu ambiente, é muito difícil assimilar e se adaptar à enorme quantidade de opções, menus, recursos e maneiras de se realizar a mesma tarefa — por isto, ele ficou em último neste quesito.
Funcionalidade
Aqui, é justo declarar um empate técnico entre todos os concorrentes: nenhum deles apresentou falhas na performance ou no funcionamento a ponto de merecer um destaque negativo. É bem verdade que o Notas, por ser um aplicativo nativo de todos os dispositivos iOS, acaba ganhando pontos no sentido da integração com o sistema e fluidez geral, mas, na prática, esta vantagem não chega a ser suficiente para que o aplicativo ganhe uma posição de destaque no quesito.
Recursos
Em se tratando puramente do número de coisas possíveis de se fazer dentro do aplicativo, não tem para ninguém: o Evernote ganha o quesito de lavada. No app do elefante, você pode guardar notas de todos os tipos (textos, desenhos, áudios, páginas da web e muito mais — inclusive misturando-os), pesquisar as notas e imagens, organizá-las em cadernos, escanear documentos e cartões de visita com o Scannable (outro aplicativo da empresa que se integra ao principal), que tem uma bela tecnologia de reconhecimento de caracteres, e muito mais. O problema é a falta de acessibilidade da interface (que já falamos) e o preço que cobram por esta chuva de recursos (que falaremos em breve).
Logo atrás, o OneNote vem com uma flexibilidade invejável na construção de notas. É bem verdade que o aplicativo pode se apresentar um pouco diferente dos seus concorrentes, mas a possibilidade de abrir uma nova nota e clicar em qualquer lugar para começar a adicionar textos, imagens, listas, notas de áudio e outros tipos de conteúdo imediatamente é libertadora. Também são extremamente robustos os recursos de colaboração do aplicativo da Microsoft, não devendo em nada a ferramentas muito mais avançadas da suíte Office, como Word e PowerPoint, ou o Google Docs.
O Notability representa a “média” do segmento, oferecendo os recursos mais usuais mas raramente estendendo-se além disso — é possível criar cadernos com notas que combinam textos, escritas à mão, áudios e imagens. Um recurso interessante é o de anotação em PDFs, presente apenas nos seus concorrentes mais robustos descritos acima. O Simplenote traz apenas o básico, mas tem uma carta na manga que pode ser útil para muita gente: o recurso do histórico torna facílimo recuperar notas perdidas ou apagadas acidentalmente. Também há a possibilidade de compartilhar notas e habilitar a colaboração com outro usuário — esta, apesar de mais limitada que no OneNote, também funciona a contento.
O Notas, da Apple, evoluiu muito nos últimos anos mas ainda é uma solução bastante simplificada que deve satisfazer os desejos apenas daqueles menos exigentes — para se ter uma ideia, o único recurso notável adicionado recentemente é o de bloquear notas com senha (ou com o Touch ID, se disponível). Por último, o Google Keep serve mais como uma boa plataforma para reunir “ideias” e recortes da internet, mas a ferramenta de construção de notas em si é extremamente simplificada e sem recursos adicionais.
Apple Pencil
É com muito pesar que este que vos escreve informa que (ainda) não dispõe de um iPad Pro para testar a integração dos famigerados aplicativos com o lápis mágico da Maçã. Entretanto, considerando que o Apple Pencil parece ter sido pensado especialmente para este tipo de atividade, me parece razoável que ao menos eu liste os concorrentes que oferecem suporte ao acessório.
O Notas, por razões óbvias, é o quintessencial exemplo de integração com o Apple Pencil e foi o aplicativo escolhido pela Apple para mostrar em primeira mão as capacidades do acessório. O Evernote também traz suporte ao lápis, bem como o OneNote e o Notability. Google Keep e Simplenote são os únicos do grupo que não trabalham em conjunto ao Pencil.
Multi-plataforma
Todos os concorrentes apresentam, de uma forma ou de outra, presença na grande maioria das grandes plataformas de hoje em dia. O Simplenote é o que ganha em termos gerais por oferecer aplicativos para iOS, Mac, Windows, Android, Kindle Fire, Linux e ainda um web app para acesso às notas em qualquer lugar. O OneNote traz suporte a todas as plataformas acima — exceto Kindle Fire e Linux — semelhante ao Evernote, que inclui no bolo ainda um aplicativo para o iMessage, integrando-se ao mensageiro nativo da Apple.
O Google Keep oferece aplicativos oficiais apenas para as plataformas móveis (iOS e Android), sendo necessário recorrer ao navegador caso você queira acessar suas notas via computador. O Notas apresenta uma situação parecida, porém excluindo-se o suporte a Android, enquanto o Notability, perdedor do quesito, traz apenas aplicativos para iOS e Mac, sem ao menos oferecer uma versão do serviço na web.
De todos os concorrentes, apenas Evernote e OneNote trazem versões de seus aplicativos para Apple Watch — ambos, entretanto, possuem implementações bem básicas, permitindo apenas visualização e criação de notas básicas de áudio ou por meio de ditado.
Preço
Notas, Google Keep e Simplenote são totalmente gratuitos. O OneNote também pode ser utilizado gratuitamente e utiliza o armazenamento gratuito do OneDrive para armazenar suas notas; a experiência, entretanto, melhora se o usuário for assinante do Office 365 (R$30/mês) — além do enorme 1TB de armazenamento, o aplicativo integra-se perfeitamente com outros softwares da suíte, como o Word e o PowerPoint. O Notability pede US$10 por seu aplicativo para Mac e US$5 pelo app para iOS, sendo estes valores únicos a serem desembolsados para utilizar a ferramenta.
O Evernote, por sua vez, mudou a sua política de preços há algum tempo, num movimento deveras polêmico e que causou uma revolta (e debandada em massa) por parte dos seus usuários. Hoje, existe um plano gratuito do serviço, mas este traz recursos básicos e sincronia em no máximo dois dispositivos simultaneamente. O plano Plus (R$40/ano) adiciona sincronização ilimitada, acesso offline e suporte por email, enquanto o Premium (R$80/ano) traz ainda suporte por chat, anotação e pesquisa em PDFs e documentos Office, digitalização de cartões de visita, pesquisa de histórico e outros recursos.
Veredito
No fim das contas, a decisão sobre o melhor aplicativo de notas decai muito sobre as suas expectativas e desejos em relação ao que você quer desse aplicativo. Se você tem os pés fincados na plataforma da Apple e não pretende elaborar muito nas suas anotações, o Notas, da própria Maçã, certamente é a opção mais simples e, o melhor de tudo, já está lá em todos os seus dispositivos pronta para usar.
Para uma opção mais elaborada e ainda gratuita, coloco o OneNote como um honrado vencedor. A solução da Microsoft tem uma interface agradável, recursos bastante elaborados que satisfarão basicamente todo mundo e não custa nada — a assinatura do Office 365 apenas melhora a experiência, mas mesmo sem pagar um centavo o usuário tem à disposição todos os recursos da ferramenta.
Os outros quatro concorrentes, embora apresentem suas vantagens, possuem falhas mais acentuadas: o Google Keep peca pela inflexibilidade, o Simplenote pelo espartanismo exagerado, o Notability pela falta de uma versão web e o Evernote pelo valor elevado e pela interface confusa.
E você, tem algum aplicativo de notas preferido entre os seis acima, ou algum outro não citado no comparativo? Discutamos nos comentários. 🙂