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Executivo da Apple fala sobre P&D, novo campus e mais; reportagem expõe as dificuldades da empresa em fazer aquisições

Luca Maestri certamente não é o alto executivo mais conhecido ou popular da Apple — e não é para menos, considerando que, ao contrário de figurinhas batidas como Eddy Cue ou Phil Schiller, ele é o homem dos números e do dinheiro. Isto não significa, entretanto, que ele não tenha também coisas a dizer: anteontem, 14 de fevereiro, o CFO (diretor financeiro) da Maçã concedeu uma entrevista na Conferência de Tecnologia e Internet do Goldman Sachs, tocando em alguns pontos importantes referentes às operações atuais da gigante de Cupertino.

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O áudio completo da entrevista, em inglês, pode ser escutado diretamente pelo site da Apple, mas nós destacamos a seguir algumas das partes mais relevantes.

Luca Maestri, novo controlador corporativo da Apple

Sobre os gastos crescentes da Apple com pesquisa e desenvolvimento, Maestri afirmou que, com o crescimento do portfólio de produtos da Maçã, é naturalmente necessário que gaste-se mais com a criação de novas tecnologias que suportem o avanço destes produtos. Além disso, a Apple prefere, hoje, desenvolver estas tecnologias internamente do que adquiri-las de outras empresas, permitindo desta forma que controlem-se melhor os gastos, o timing e a qualidade do resultado final. “É um ótimo investimento estratégico”, classifica o executivo.

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Ele falou também sobre o foco cada vez maior da Apple em serviços — em detrimento, diriam alguns, do desenvolvimento de hardware que sempre foi o forte da Apple. Segundo Maestri, apenas a divisão de serviços da Apple hoje é do tamanho de uma empresa da Fortune 100 e a Maçã pretende dobrar o seu tamanho pelos próximos quatro anos. Os maiores focos de atuação são a App Store e o Apple Music; sobre este último, o executivo destaca que a Apple ainda é a maior empresa do mundo de longe em termos de música digital e a aquisição da Beats foi um passo importante nesta jornada.

Falando sobre o crescimento geral da Apple, o CFO reiterou um ponto que a empresa já deixou claro diversas vezes em outras ocasiões: os mercados emergentes (o que presumivelmente inclui nossa querida república) representam a maior oportunidade hoje para a Apple crescer ainda mais. Em muitos destes países, a Maçã detém ainda uma fatia de mercado de apenas um dígito; ou seja, há a oportunidade ainda de um grande crescimento.

Acerca do iPhone, o carro-chefe da empresa hoje, Maestri afirmou que o smartphone voltou a crescer principalmente por conta do interesse pelo modelo Plus — que, segundo ele, teve um aumento de demanda “acima do esperado” por conta de recursos exclusivos como a câmera dupla. Já no segmento de vestíveis (e o executivo coloca no mesmo bolo o Apple Watch, os AirPods e os produtos da Beats), o CFO disse estar confiante neles e afirmou que a Apple colocará ainda mais esforço nos seus desenvolvimentos daqui em diante: “Nós podíamos ter vendido ainda mais, para ser honesto. Pensamos que é uma ótima plataforma para inovar. Ainda estamos nos passos iniciais, mas estamos gostando muito do ímpeto.”

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Maestri falou também do prospecto das políticas econômicas protecionistas de Donald Trump. O executivo afirmou que um aumento das taxas de importação para empresas locais não seria uma boa medida para a economia, pois traria reveses para o consumidor.

Por fim, a entrevista abordou o vindouro Apple Campus 2, em vias de ser inaugurado. Maestri acredita que a nova sede da Maçã atrairá uma grande quantidade de visitantes simplesmente por ser um novo ponto turístico nacional — alô, MM Tour VI! Segundo o executivo, a Apple precisa descobrir como lidar com isso, pois não tem nenhuma experiência no ramo de administrar um lugar de visitação e trabalho — coisa que, ele faz questão de lembrar, é uma visão de Steve Jobs.

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Pela entrevista de Maestri, pode parecer que tudo na Apple flui na mais perfeita harmonia a todo instante, mas lembremo-nos que, mesmo não sendo um cara especializado em marketing, ele ainda é um homem forte da empresa e precisa zelar pela imagem dela. Uma reportagem da Bloomberg, entretanto, mostra que dentro do reino encantado de Cupertino ao menos um aspecto não é lidado com tanta destreza assim: a aquisição de outras empresas.

A reportagem, que oferece um olhar aprofundado sobre as compras e as fusões da Apple nos últimos anos (e é uma ótima leitura, se você manjar bem do inglês), afirma que muitas vezes a face “arrogante” e “avessa a riscos” da Maçã pôs a perder negociações que seriam positivas para a empresa.

Beats adquirida pela Apple

A falta de experiência de Cupertino neste tipo de operação também é um fator impeditivo: nos 41 anos de existência da Apple, a maior compra de outra empresa já realizada foi a da Beats, por US$3 bilhões; a segunda maior foi a da NeXT de Jobs, em 1996, por US$400 milhões. Colocando em perspectiva, o Facebook, em 13 anos de existência, já realizou três aquisições superiores a US$1 bilhão, enquanto a Microsoft já fez, no mínimo, dez em toda a sua história.

Gráfico de aquisições de empresas de tecnologia

Isso bate com a declaração de Maestri de que a empresa prefere desenvolver suas tecnologias internamente a comprar outras empresas. Entretanto, alguns analistas opinam que este paradigma terá que ser quebrado se a Apple quiser suceder em um campo onde mostra ter bem interesse: o de streaming de conteúdos em vídeo. Apesar de a empresa estar aparentemente indo bem na produção de conteúdo próprio, analistas que falaram com a Bloomberg opinaram que, se a Maçã quiser ter pretensões sérias no segmento, terá que tirar o escorpião do bolso para comprar algum grande jogador do ramo — algo nos moldes da Netflix ou da Amazon Prime Video.

Para assegurar os absurdos US$50 bilhões de receita total em serviços, previstos para 2021, a Apple teria que fazer ainda outras aquisições colossais — e podem arranjar um lugar para sentar agora, porque a reportagem cita como possíveis exemplos a Tesla ou mesmo a Walt Disney Company, um dos maiores conglomerados de mídia do mundo.

Para isso, entretanto, a Apple terá que superar suas limitações na hora de negociar. Aparentemente, Tim Cook e sua turma recusam-se a trabalhar com bancos de investimento e negociam diretamente com a empresa a ser adquirida; a equipe responsável por avançar as negociações na Apple é composta por no máximo 12 pessoas. Este comportamento é visto no meio tecnológico como “arrogante” e “difícil”, e pode ser uma pedra no sapato de Cupertino na sua jornada rumo a voos ainda mais altos. Talvez seja o caso de baixar um pouco a bola para poder ascender ainda mais?

[via 9to5Mac, AppleInsider]

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