Nós já lemos e assistimos a uma infinidade de coisas relacionadas ao Apple Park. Nós já sabemos que ele está muito perto de ser concluído e muito em breve os empregados da Maçã iniciarão a mudança para o novo e espetacular campus em formato de espaçonave. Nós sentimos que já sabemos tudo sobre esta impressionante obra da arquitetura. Até que chega a WIRED e publica uma reportagem tão fascinante sobre detalhes do projeto e da obra que percebemos: não, ainda existem muitos detalhes a serem descobertos!
A matéria é fruto de uma visita ao Apple Park feita pelo jornalista Steven Levy e pelo fotógrafo Dan Winters, e guiada por ninguém menos que Jonathan Ive — que, no alto do seu mais elegante sotaque britânico, dá alguns detalhes pessoais sobre a concepção do campus e os desafios enfrentados pela equipe na transposição das ideias mais mirabolantes de Steve Jobs e sua turma em realidade. A peça como um todo merece muito ser lida, mas aqui vão alguns destaques — e fotos inéditas — que merecem atenção.
A espinha dorsal da reportagem é algo que nós já tínhamos em mente, mas talvez não na proporção relatada: o Apple Park é, além do maior “produto” da história da Apple, o último grande projeto de Jobs. O lendário cofundador da Maçã passou boa parte dos seus últimos dois anos de vida entre audiências públicas com o conselho municipal de Cupertino, para conseguir aprovação para a obra, e reuniões intermináveis com Norman Foster e a sua enorme equipe de arquitetos — que descrevem Jobs como um pensador nato da arquitetura, entendendo de minúcias e opinando em fatores extremamente específicos, como a época em que a madeira que serviria de divisória para os escritórios deveria ser cortada para ter o mínimo de açúcar e seiva na sua formação (se alguém está interessado, a resposta é janeiro).
De acordo com Norman Foster, a ideia de fazer o prédio principal em formato de anel veio naturalmente, com o ideal de Jobs em criar um espaço onde todos os empregados pudessem trabalhar em conjunto e se encontrar nas caminhadas pelo prédio. Uma das principais ideias do cofundador da Apple tinha a ver com o espaço de trabalho em si, que, segundo ele, teria o formato de “casulos” — espaços modulares repetidos e distribuídos democraticamente (no sentido de que nem o CEO ganha um espaço maior) que potencializariam a confluência de ideias e pessoas.
Esta concepção está viva, firme e forte nos espaços de trabalho do Apple Park, assim como a ideia de ter apenas um restaurante para todos os 12.000 empregados do campus — um restaurante gigantesco e que, da mesma forma, permita que empregados das mais diversas áreas troquem ideias e possam colaborar em projetos com perspectivas variadas. Aliás, aqui, cabe uma nota deveras curiosa: a Apple patenteou, com a ajuda do chef do Caffé Macs (restaurante principal do atual campus da Apple, em Infinite Loop) e do futuro restaurante do Apple Park Francesco Longoni, uma caixa de pizza especial que permite que a iguaria permaneça crocante e fresquinha mesmo encapsulada, o que é particularmente benéfico aos empregados atarefados que precisem levar o almoço para os seus escritórios.
Também é reservado um espaço bastante aprofundado na reportagem aos detalhes estruturais do prédio principal do novo campus, como por exemplo as enormes portas de vidro com quatro andares de altura que compõem uma das entradas da “espaçonave”. Aparentemente, nenhuma fábrica no mundo tinha a capacidade de produzir peças de vidro tão grandes — e, ainda por cima, curvas; a Apple, então, convenceu a Seele Group (empresa alemã parceira da Maçã que já tinha feito, por exemplo, os painéis de vidro da Apple Fifth Avenue) a criar uma nova máquina capaz de forjar as peças. As monumentais portas são abertas e fechadas por meio de um mecanismo posicionado abaixo do solo, o que proporciona total silêncio na sua operação — o que é importante, considerando que elas estão posicionadas justamente no restaurante do campus.
As marquises do prédio (os elementos horizontais que transcendem os vidros da fachada e fazem a divisão visual de níveis) também foram alvo de polêmicas antes da concepção final. Originalmente, Jobs era contra a existência delas, preferindo uma construção totalmente composta de painéis de vidro ininterruptos; os elementos, entretanto, precisaram ser empregados para conter elementos naturais como incidência solar e chuva. O problema é que as marquises são também feitas de vidro, e a solução visual não estava refletindo o verde do entorno; foi Jony Ive, então, que solucionou o problema ao propor pintar a parte inferior das peças de branco para refletir o verde da forma certa e, colateralmente, ainda dar a impressão de os elementos brilharem na luz do sol. Impressionante, não?
Falando em verde, aliás, nós já sabemos que o Apple Park terá, quando 100% concluído, mais de 9.000 árvores no seu terreno — já detalhamos este processo aqui neste artigo. Foi uma ideia — adivinha! — do próprio Jobs cobrir o seu campus com vegetação para transformá-lo basicamente num parque nacional; as plantas foram selecionadas a dedo para resistir a terremotos e secas/enchentes, assim como os prédios em si — como sabemos, a Califórnia é uma área particularmente propensa a intempéries do clima e desastres naturais.
Jobs ainda foi um dos proponentes originais do sistema de ventilação natural do prédio: o CEO odiava ar-condicionado e também não queria que os empregados perdessem tempo abrindo ou fechando janelas, então propôs um prédio que respirasse como as pessoas dentro dele. Vários sensores ao redor da construção detectam a direção do vento e posicionam as entradas de ar de forma que sempre haja ventilação percorrendo o interior do prédio — e, considerando que existe praticamente uma floresta ao redor dele, é bem provável que a temperatura esteja sempre amena (florestas, afinal, são o melhor regulador de temperatura do mundo). Apenas em dias particularmente frios ou quentes um sistema de climatização artificial entrará em ação — é como afirma a chefe de meio-ambiente da Apple Lisa Jackson:
Não é como se nós estejamos pedindo às pessoas para que fiquem desconfortáveis no trabalho. Estamos pedindo a elas que reconheçam que parte de estar conectado ao lado de fora é saber que temperatura está fazendo. Nós não queremos que você se sinta num cassino. Nós queremos que você saiba em que hora do dia você está, qual a temperatura lá fora, se o vento está soprando. Esta era a intenção original de Steve, de borrar a linha entre o interior e o exterior. Isto meio que acorda seus sentidos.
A matéria ainda endereça, no fim, algumas críticas que arquitetos e especialistas da área fizeram ao projeto do Apple Park. Alguns acusam a Apple de monumentalismo e argumentam que a concepção da “espaçonave” é demasiadamente fixa, ou seja, não permitirá possíveis expansões para futuras incursões da Maçã em outros terrenos — ao contrário da tendência das grandes empresas de tecnologia, como o Google e a Amazon, que constroem espaços modulares de trabalho onde seus empregados integram-se à cidade. Quanto a isto, Norman Foster rebate as críticas:
Este prédio nasceu da paixão de Steve Jobs. A ideia de que um belo objeto desceu nesta verdejante e exuberante paisagem e que ele será habitado por 12.000 pessoas: esta é uma verdadeira visão utópica. Então parte do meu trabalho é confrontar estas críticas e dizer: “Você deve estar louco.”
Por fim, quem dá as caras é o atual chefão de tudo. Tim Cook explica que, à época em que o campus ainda não tinha um nome, os executivos da Maçã cogitaram batizar o espaço inteiro com o nome de Steve Jobs. Esta homenagem, entretanto, não parecia certa — ainda que a presença de Jobs possa ser sentida em todos os aspectos do Apple Park, dos painéis de vidro curvados até o balanço das árvores, Jobs era, acima de tudo, discreto. Então foi tomada a decisão de dar o seu nome somente ao auditório para 1.000 pessoas que faz parte do campus e abrigará os futuros lançamentos da Maçã. O Steve Jobs Theater fica na área mais alta do terreno, como afirma Cook:
É numa colina, em um dos pontos mais altos do campus. Parece com ele.
via AppleInsider