No computador de Marcelo Santana, também conhecido como o digníssimo senhor meu pai, há um arquivo denominado Despesas.xls
. A planilha de Excel, criada em 17 de outubro de 2006, registra minuciosamente cada gasto realizado por ele desde essa data – e eu realmente não estou brincando, como prova o item “Esmola – R$0,50”, registrado em 4 de maio de 2017.
Não permitam que esse pequeno pedaço de informação, entretanto, vos deixe induzir ao pensamento de que Marcelo (oi, pai!) é a epítome da avareza — de fato, muito pelo contrário. Ele simplesmente usa essa extensiva coleção de dados para ter uma boa ideia do seu padrão de gastos e, com isso, administrar seu dinheiro com maior controle para que ele renda mais e seja aproveitado da melhor forma possível. E isso, no mundo em que vivemos, certamente é uma atitude saudável do ponto de vista financeiro para qualquer um.
O problema é que, imagino eu, falta à maioria de nós a disposição para alimentar uma planilha de Excel (ou Numbers, como queiram) fiel e manualmente, todos os dias, por toda a vida. Pois eu tenho o júbilo de dizer que tal inglória tarefa não mais se faz necessária para aqueles que queiram controlar seus gastos: vários aplicativos já tratam de fazer esse serviço com grau maior ou menor de automação; alguns conectam-se à sua conta bancária e cartão de crédito e atuam quase como “gerentes virtuais” que separam e catalogam suas despesas, oferecendo uma vista privilegiada do seu padrão de gastos. Outros requerem um registro manual de gastos e recebimentos, mas ainda atuam com um certo grau de inteligência na separação desses dados para os usuários menos escolados.
Mas quem se sobressai neste universo apinhado de opções?
Bom — é exatamente para isso que estamos aqui. O MacMagazine selecionou sete dos mais populares aplicativos de controle financeiro disponíveis para o mundo iOS e, nos últimos meses, destrinchou todos os aspectos deles para oferecer uma visão clara e ampla sobre os pontos positivos e negativos de cada um. No fim, só um emergirá como o campeão deste embate histórico, aquele que eu recomendarei para vocês — e para meu pai, muito embora eu acredite que ele já tenha se apegado demais à sua preciosa planilha. ¯\_(ツ)_/¯
Antes de começarmos, uma nota: quando o aplicativo em questão traz conexão com os bancos, meus testes são baseados em uma conta do Banco do Brasil com cartão de crédito emitido pela mesma instituição, mas pedi que parentes e amigos meus testassem rapidamente os aplicativos com suas contas, em bancos como Itaú, Bradesco e CAIXA; como os feedbacks refletiram muito a minha própria experiência, penso ser seguro dizer que a integração dos aplicativos não sofre alterações de acordo com a instituição em questão — portanto, minha avaliação aqui, sob todos os aspectos, vale para seja qual for o seu banco.
Vamos lá?
GuiaBolso
O GuiaBolso é, possivelmente, a opção mais conhecida entre as presentes aqui — os desenvolvedores do aplicativo investiram bastante em publicidade e presença digital, portanto, não seria difícil vê-lo como uma primeira opção por parte dos usuários. A boa notícia é que, aqui, a popularidade não é inversamente proporcional à qualidade: o app é certamente um dos mais completos do segmento, contando com uma ótima interface e funcionamento simples, mas que não deixa de lado recursos bastante especializados que não são vistos em nenhum dos concorrentes.
Dos apps aqui testados, o GuiaBolso é um dos dois únicos a contar com a opção de conectar-se à sua conta bancária e cartão de crédito e aqui, felizmente, tudo funciona às mil maravilhas. A configuração inicial é muito simples, exigindo somente a criação de uma conta e os dados bancários, junto ao CPF do usuário. A partir dai, o GuiaBolso captura automaticamente todos os dados da sua conta, oferecendo um resumo bastante esclarecedor das suas transações recentes e tipos de gasto no mês — sim, ele até detecta automaticamente a categoria de uma compra específica; se você gastou um valor no cinema, esta transação vai direto para a categoria “Lazer”. Não é um sistema infalível (um gasto no restaurante Madero caiu na categoria “Viagem”, sendo que eu estava a 1km de casa), mas já ajuda bastante.
Mais que isso: o aplicativo oferece uma “calculadora” de saúde financeira, atribuindo pontos ao usuário de acordo com seu padrão de gastos para que ele saiba se está no caminho certo ou deve ajustar algumas coisas na sua vida cotidiana. A metodologia para atribuição destes pontos não está muito clara — e certamente não deve ser tomada com um grau de precisão científico —, mas ainda assim é um incentivo divertido a tratar melhor do seu dinheiro.
Quer mais? Porque tem muito mais: é possível traçar uma meta (por exemplo, uma viagem à Disney) com valor especificado, data de início e conclusão para que o GuiaBolso calcule quanto você deve economizar por mês para cumpri-la. Você pode planejar gastos e recebimentos recorrentes para ajustar o seu orçamento. Você pode consultar o seu CPF para checar quaisquer irregularidades com o SPC/Serasa. Você pode simular um empréstimo com o valor e o prazo para pagamento desejados e o app oferecerá algumas opções de prestadoras deste serviço para comparação, com opção de contratar o empréstimo e acompanhá-lo dentro do próprio ambiente do GuiaBolso. Sim, é bastante coisa.
Mesmo com esta pletora de recursos, o GuiaBolso é totalmente gratuito. Ele oferece, além do aplicativo para iOS (que não conta com otimização para iPad), um app para Android e uma versão web tão completa como seus softwares dedicados, sendo possível acessar sua conta de qualquer navegador.
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Mobills
O Mobills traz como principal chamariz uma série de recursos inteligentes, sendo capaz de realizar algumas tarefas — como gráficos e relatórios personalizados — de forma totalmente automatizada. A startup responsável pelo aplicativo gosta de dizer que ele é o mais bem-avaliado entre todos os seus semelhantes nas App Stores nacionais — o que certamente quer dizer alguma coisa num mundo onde aquela estrelinha solitária está a um toque de distância de qualquer avaliador particularmente mal-humorado.
A primeira coisa a se notar é que, aqui, temos dois planos: o gratuito conta com lançamentos ilimitados, sincronização na nuvem, gerenciamento de contas, despesas e receitas. O plano Premium adiciona a essa lista o recurso de gerenciamento de cartão de crédito e extratos detalhados, bem como uma série de opções de personalização e importação (é possível, por exemplo, importar dados do Excel) e definição de metas e orçamentos. Ele custa R$14,90/mês ou R$79,90/ano.
É bom notar que o Mobills, ao contrário do GuiaBolso, não conecta-se à conta do seu banco — todos os gastos e despesas são registrados manualmente, em cada uma das contas ou cartões de crédito (no plano Premium) criadas pelo usuário. A partir daí é que o aplicativo conta com seus recursos inteligentes para realizar os cálculos, previsões e dicas. Se por um lado a falta de uma conexão com os bancos joga uma parcela do trabalho para o usuário, por outro, tal aspecto permite uma maior granularidade e controle sobre aquilo que é registrado — além de contar pontos para aqueles usuários receosos com sistemas de terceiros acessando seus dados bancários.
O Mobills apresenta também uma interface agradável, fácil de navegar e sem grandes complicações, o que faz dele uma recomendação boa para quem procura por uma alternativa “manual” de controlar os gastos. Ele está disponível em aplicativos para iOS — com um app para Apple Watch, é bom notar — Windows e Android (este último, por sinal, mostra anúncios caso você não assine o plano Premium), além de uma versão web.
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Minhas Economias
O Minhas Economias apresenta-se como um gerenciador financeiro primariamente online, ou seja, é de se esperar que seus aplicativos sejam menos refinados que os dos rivais. E, neste caso, a previsão prova-se verdadeira: o app, apesar de não chegar a ser datado ou apresentar mau funcionamento, está um degrau abaixo dos concorrentes nos quesitos de apuro visual e recursos.
Assim como o Mobills, ele não se conecta à sua conta bancária, permitindo somente que você crie contas “espelho” na interface do aplicativo e alimente-as manualmente com as transações realizadas. Os recursos não vão muito além daqueles apresentados nos demais aplicativos, ou seja, é possível ter uma visão clara dos seus recebimentos e gastos, com gráficos separados por categoria, criar controle de orçamento em muitas áreas e obter relatórios razoavelmente inteligentes sem muitas complicações.
Assim como o GuiaBolso oferece o recurso de metas, aqui temos a ferramenta “Sonhos”, onde você especifica um valor a ser obtido num período de tempo e o serviço passa a lhe dar dicas e calcula o valor necessário a ser economizado por mês para que se chegue lá. No geral, o Minhas Economias é uma alternativa razoável para controle de gastos, porém limitado pelo fato de ser uma ferramenta que já mostra a sua idade e também não contar com recursos que o diferenciem perante a maioria. A plataforma faz-se presente na web, bem como em aplicativos para iOS e Android, sempre totalmente gratuito.
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Moni
Se você está procurando por simplicidade, chegou ao lugar certo. O Moni — o primeiro dos aplicativos aqui testados que não é produção nacional — traz uma interface muito simples, que não parece fora de lugar com os aplicativos nativos do iOS como, por exemplo, a calculadora.
Essa simplicidade estende-se também aos seus recursos — tanto que ele vangloria-se de ser totalmente manual, 100% seguro e pessoal, sem conectar-se a nenhum serviço externo para obter dados ou sincronizar informações. Aqui, você pode configurar suas contas/cartões de crédito e registrar suas transações, além de visualizar gráficos e relatórios de progresso (ou regresso) de acordo com o tempo.
Um recurso interessante que não é comum nos seus semelhantes é a possibilidade de compartilhar transações com outros usuários, criando quase uma rede de gastos entre pessoas; é muito útil, por exemplo, se você quer visualizar e controlar melhor o dinheiro da família como um todo. O maior ponto fraco do Moni é que ele está disponível apenas no iOS, e é um aplicativo gratuito — exigindo apenas a criação de uma conta, também grátis, para sincronia de dados na nuvem e compartilhamento familiar.
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Organizze
De cara, a impressão que se tem com o app do Organizze para iPhone é o quão ele parece um aplicativo para Android simplesmente portado para o lado frutífero da força. Todos os paradigmas de interface do Google, como o menu lateral, as informações separadas em cartões e o botão de ação no canto inferior direito estão lá. E, talvez como uma evidência de que a gigante de Mountain View tem feito seu trabalho muito bem na área da experiência de usuário, o Organizze é um dos aplicativos mais bonitos, refinados e fáceis de usar deste comparativo.
O funcionamento dele é muito parecido com o dos rivais: o usuário cria sua conta ou contas bancárias, informando o saldo disponível, bem como seus cartões de crédito vinculados a estas contas, informando o limite, data de fechamento e vencimento; a partir daí, o próprio usuário deve manualmente informar as entradas e as saídas em cada uma destas contas e cartões.
O Organizze, entretanto, tem uma carta na manga interessante: caso o usuário permita, ele lê as mensagens de texto recebidas pelo telefone e detecta automaticamente as dos bancos — caso você não tenha, o serviço de SMS oferecido pela maioria dos bancos brasileiros é uma boa forma de monitorar suas contas e previnir-se de golpes. O recurso funciona bem: após realizar uma compra e receber a mensagem do banco avisando do débito no cartão naquele valor e estabelecimento, o Organizze já me enviou uma notificação perguntando que eu queria registrar aquele gasto de valor “X” com a legenda já configurada para o nome da loja em questão.
Você pode também configurar contas recorrentes a serem pagas, como água, luz, internet e a escola das crianças; o Organizze, então, alertará automaticamente quando a data de vencimento destas faturas estiver se aproximando. Aqui há também um recurso de “Metas”, mas ele é diferente daqueles oferecidos por GuiaBolso e Minhas Economias: no Organizze, você simplesmente define um valor que deverá ser aquele gasto no mês em cada categoria (alimentação, moradia, lazer, etc.) e ele vai acompanhando estes gastos ao longo do período, orientando-lhe caso o padrão de gastos esteja mais alto que o estipulado.
O Organizze é gratuito no plano composto de recursos mais básicos, mas também cobra por aqueles mais especializados: por R$8/mês, você ganha a habilidade de administrar cartões de crédito, definir metas e receber alertas de contas a vencer. Ele está disponível em aplicativos gratuitos para iOS e Android, bem como numa versão web bem completa.
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Spendee
Assim como o Moni, o Spendee também é uma produção estrangeira. As semelhanças, entretanto, param por aí: enquanto o primeiro prima pela simplicidade que chega a ser quase espartana, o segundo é um dos aplicativos mais completos desse comparativo. Além do GuiaBolso, ele é o único que oferece a funcionalidade de conectar-se diretamente à sua conta bancária — por aqui, as instituições suportadas no momento são Banco do Brasil, Bradesco, Citibank, Itaú, Nubank e Santander, um número bem inferior ao do seu concorrente.
O funcionamento do Spendee na conexão com o banco é muito satisfatório e não apresentou falhas durante o meu período de testes, registrando com precisão todas as entradas e saídas da conta instantaneamente e gerando relatos de gastos e receitas na mesma hora.
A interface do aplicativo é muito refinada e de bom gosto, embora uma pequena crítica deva ser direcionada às pequenas instruções que aparecem no primeiro uso, ainda não localizadas para o português — de resto, todo o app já está devidamente traduzido e não será nenhum problema operá-lo, nem para os mais receosos.
O Spendee, ao contrário do GuiaBolso, cobra para este recurso de conexão com os bancos. Sua versão gratuita permite apenas a criação de uma conta virtual, com administração manual do usuário. Um plano pago mais simples, custando US$2/mês, permite a criação de várias contas virtuais, além de adicionar a possibilidade de carteiras compartilhadas com membros da família. Já o plano completo, de US$3/mês, é que vem com o recurso de conectar-se à sua conta bancária (além de todos os supracitados, claro). O serviço está disponível em aplicativos para iOS (com app para Apple Watch) e Android, e promete para breve uma versão na web para acesso remoto.
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Money Pro
Esqueça todos os designs clean com predominância do branco e animações fofinhas. O Money Pro é o aplicativo financeiro raiz, lembrando mais o site do Yahoo Finanças de 2009 do que um aplicativo nativo do iOS em 2017. Gosto, claro, é algo bem pessoal, mas particularmente não acho a interface do aplicativo agradável — tudo é muito carregado, escuro, denso, além de mais lento que os rivais. Felizmente, o Money Pro oferece a possibilidade de o usuário mudar a aparência do aplicativo por meio de temas, mas nada que promova uma mudança da cabeça aos pés.
O Money Pro é, ainda mais que seus concorrentes, focado no paradigma do dia atual: sua tela inicial mostra um resumo do seu dia, mostrando todas as receitas e os gastos programados para ele, e lembrando de eventuais contas a serem pagas (você pode registrar estes gastos recorrentes). Como nos demais, é possível criar contas virtuais e registrar manualmente toda a movimentação — não há, aqui, conexão direta com sua conta bancária. No mais, ele não foge dos recursos usuais já explorados nos seus concorrentes, contando com gráficos e relatórios para análise de gastos, possibilidade da configuração de metas e orçamentos e importação de extratos bancários.
Como o foco da iBearSoft, desenvolvedora do Money Pro, é basicamente no universo Apple, o serviço é o único da lista que conta com um aplicativo para Mac, disponível na App Store por (salgadíssimos) US$30. Para iOS, existe uma versão gratuita com apenas os recursos mais básicos, e o aplicativo completo, que custa US$5 e traz o cardápio completo de funções — ambos os apps, gratuito ou pago, oferecem uma versão para Apple Watch. Também há um recurso de compartilhamento familiar, que é pago por meio de uma assinatura — um mês sai por US$2, enquanto o ano inteiro custa US$12.
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No fim das contas (sem trocadilhos, por favor, ou meu cérebro vai derreter), não há muito para onde correr. O GuiaBolso foi o serviço que apresentou o melhor equilíbrio de recursos, interface agradável e fácil de usar, e preço bom — ou, no caso, inexistente, o que é melhor ainda. Mesmo que o Spendee, seu concorrente principal, apresente um design mais refinado, uma vantagem tão ligeira não justificaria o pagamento da assinatura deste segundo.
Esta avaliação, entretanto, vale caso você esteja procurando um aplicativo completo, que cuide de todos os aspectos da sua vida financeira de forma semi-automatizada. Caso você esteja procurando por algo mais simples, apenas para registrar pontual e manualmente algumas despesas e receitas na sua conta, o plano gratuito do Organizze já deve satisfazer suas necessidades sem nenhuma complicação.
Vocês têm alguma outra sugestão? Ou ainda estão na era do Excel e pretendem testar algumas das opções acima? Deixem suas dicas e depoimentos logo abaixo, e nós voltaremos em breve com mais um épico e glorioso comparativo de aplicativos. Esperamos ter ajudado! 😀