Há cerca de 12 anos, Steve Jobs subiu ao palco nos gramados da Universidade de Stanford para dar o mais conhecido (e citado) dos seus discursos fora das keynotes da Apple. Seu sucessor, Tim Cook, não goza das mesmas habilidades sobre-humanas de comunicação em público, mas, de qualquer forma, ainda é um orador respeitável — e com a vantagem de ter opiniões ainda mais fortes em uma série de assuntos não-tecnológicos.
Quer um exemplo? Basta ver este belo discurso proferido pelo CEO da Apple na cerimônia de formatura da turma de 2017 do MIT (Massachussets Institute of Technology). Cook resolveu focar a sua fala na relação da humanidade com a tecnologia — inegavelmente um assunto de fundamental importância numa era em que a nossa dependência está cada vez mais crítica aos aparelhos eletrônicos — e, como esperado, mandou muito bem.
For the second time in a week I'm waiting for @tim_cook to hit the stage! Today at #MIT2017 — congratulations graduates! pic.twitter.com/fbdvTCInf9
— Eddy Cue (@cue) June 9, 2017
Pela segunda vez em uma semana estou esperando Tim Cook subir ao palco! Hoje na #MIT2017 — parabéns aos graduandos!
Antes de qualquer reflexão profunda sobre a humanidade, entretanto, Cook não perdeu a oportunidade de mandar uma indireta ao presidente americano Donald Trump, figura com a qual o CEO já se envolveu em alguns embates públicos por discordâncias fundamentais.
Eu nunca entenderei como os estudantes do MIT conseguiram colocar aquele rover no Kresge Oval ou colocar um chapéu de hélice naquela grande cúpula, ou como vocês obviamente invadiram a conta do presidente no Twitter. Eu sei que são estudantes que estão por trás disso porque a maioria dos tweets saem às 3 da manhã.
Obviamente, uma parte do discurso girou em torno de Jobs:
Depois de incontáveis voltas e mais voltas, finalmente, 20 anos atrás, minha busca [“o que eu quero ser quando crescer?”] me levou à Apple. Naquela época, a empresa estava lutando para sobreviver. Steve Jobs tinha acabado de voltar, e estava lançando a campanha “Think Different”. Ele queria empoderar os loucos — os desajustados, os rebeldes e os encrenqueiros, as peças redondas nos buracos quadrados — a fazerem o melhor trabalho. Se nós pudéssemos fazer somente aquilo, Steve sabia que nós poderíamos realmente mudar o mundo. Antes daquele momento, eu nunca tinha encontrado um líder com tamanha paixão ou uma companhia com uma missão tão clara e atraente: servir à humanidade.
So impressed by @MIT students & faculty who are finding new ways to tackle the world’s biggest challenges. Thanks for sharing your work! pic.twitter.com/6Fx5t7ePr4
— Tim Cook (@tim_cook) June 8, 2017
O tom do discurso, então, mudou para algo um tanto mais ponderado e cauteloso — bastante condizente com os tempos de incerteza que vivemos hoje.
A tecnologia é capaz de fazer coisas incríveis, mas não quer que façamos coisas incríveis. Ela não quer nada. Essa parte é conosco. […] Eu não estou preocupado com o prospecto da inteligência artificial dar aos computadores a habilidade de pensar como humanos. Estou mais preocupado em ver pessoas pensando como computadores, sem valores ou compaixão, sem pensar nas consequências. E nós precisamos de vocês para nos protegermos disso — porque se a ciência é uma busca no escuro, então as humanidades são as velas que nos mostram por onde passamos e os perigos à frente.
O vídeo completo do discurso de Cook, em inglês, pode ser visto abaixo — sua fala, especificamente, começa aos 7’10”.
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Além do discurso, o executivo ainda teve tempo de conceder uma breve entrevista ao MIT Technology Review, publicação da própria universidade. Em um trecho particularmente interessante, Cook fala sobre a ideia geral de que a Apple está atrasada no seu desenvolvimento de inteligência artificial — o que, segundo ele, é uma impressão errada causada pelo fato de que a empresa só anuncia produtos e serviços quando eles estão prontos para chegarem às mãos dos consumidores.
Nós não vamos falar de coisas que nós vamos fazer em 2019, 20, 21. Não porque nós não sabemos o que será — mas porque nós não queremos falar sobre isso.
Apesar disso — e do fato de que, como coloca o próprio, a IA já está ajudando os consumidores da Apple em uma série de aspectos práticos, como reconhecimento de fotos, recomendações musicais no Apple Music e prolongamento da bateria do iPhone —, Cook acredita que há um limite: a partir do momento em que o ser humano fica fora da equação, uma barreira deve ser colocada. Como diz o executivo: “Quando o avanço tecnológico cresce exponencialmente como ocorre hoje, eu penso que há o risco de esquecermo-nos do fato de que a tecnologia deve servir à humanidade, e não o contrário.”
Belas palavras, Tim.