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De acordo com Scott Forstall, desenvolvimento do iPhone começou “porque Steve Jobs odiava um executivo da Microsoft”

Scott Forstall em entrevista, 2017

Scott Forstall é uma figura divisiva. Durante os áureos tempos mais recentes da Apple, entre 2004 e 2010, ele foi uma espécie de terceira força na empresa, atrás apenas de Steve Jobs e Tim Cook. Foi basicamente ele que ditou, junto ao então CEO, todas as tendências da gênese do sistema operacional que viria a ser o mais importante da Maçã, o iOS. Depois, em 2012 — pouco após a morte de Jobs, é bom notar —, Forstall basicamente foi obrigado a deixar a empresa pela porta dos fundos e sumiu do cenário tecnológico.

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As razões para tal derrocada, oficialmente, são um mistério. Há quem diga que foi por causa da bomba horrorosa que era o Apple Maps, projeto liderado por Forstall, à época do seu lançamento. Outros afirmam que Forstall era um protegido de Jobs — dois homens unidos pelo amor ao cada vez menos popular esqueumorfismo — e basicamente odiado por todo o resto da empresa (Tony Fadell que o diga) e, com o CEO morto, nada mais o segurava em Cupertino. Talvez todas as opções estejam certas.

O fato é: após anos em silêncio e trabalhando como produtor de peças da Broadway, Forstall finalmente veio a público compartilhar um pouco da sua experiência na Apple, focando-se no desenvolvimento do produto mais importante da empresa (e que todos estão falando ainda mais nos últimos tempos graças ao seu aniversário de dez anos): o iPhone.

Como anunciado, a entrevista de Forstall — a qual foi mediada pelo jornalista John Markoff — fez parte de um evento realizado pelo Computer History Museum em celebração aos dez anos da gênese do smartphone da Apple. Além dele, três engenheiros da Maçã que trabalharam diretamente com o desenvolvimento do iPhone — Hugo Fiennes, Nitin Ganatra e Scott Herz — também foram entrevistados por Markoff. O vídeo completo do evento está disponível na página do CMH no Facebook (ou pode ser visto logo abaixo — o segmento com Forstall começa no ponto 1:07:16 e merece muito ser visto); a seguir, destacaremos alguns pontos mais interessantes do bate-papo.

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Após um breve histórico da sua vida, Forstall contou como Steve Jobs levou boa parte do pessoal da NeXT, incluindo o próprio engenheiro, para a Apple à época da aquisição da empresa. E não foram necessários muitos anos depois disso para o início do “Project Purple”, o projeto que, no fim das contas, geraria o iPhone. É fato sabido que a ideia inicial da Apple era projetar um tablet, e não um smartphone — mas o que (quase) ninguém tinha conhecimento era de um dos principais catalisadores da ideia.

De acordo com Forstall, o início do “Project Purple” se deu quando Jobs passou a odiar um executivo não-nomeado da Microsoft (que o próprio Scott apressa-se em dizer que “não é Bill Gates”) o qual afirmou, no início da década passada, estar desenvolvendo um tablet que revolucionaria o mundo da computação. Aparentemente, o CEO achou a declaração uma piada e começou a listar todos os motivos pelos quais a aposta da Microsoft (que acabou nunca se concretizando — ao menos até alguns anos atrás) não daria certo. Foi aí que Jobs e seus empregados chegaram à conclusão de que poderiam fazer algo melhor.

Steve Jobs e Scott Forstall na WWDC 2011

A primeira versão do projeto era, no maior estilo “não-tecnológico” de Jobs, uma mesa num cômodo na sede da Apple em Cupertino — uma mesa na qual era possível mover uma foto impressa com os dedos. Este era o objetivo final: criar uma interface tangível, fácil e familiar até para os não-iniciados no mundo da informática. E assim foi: a Maçã foi construindo protótipos em cima de protótipos, em tamanhos cada vez menores, e aperfeiçoando o sistema adaptado do Mac OS X que anos depois conheceríamos como iOS.

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Ao mesmo tempo, a Apple mudava: de uma empresa de computadores, passava a ser uma companhia de eletrônicos com o iPod como carro-chefe. A partir disso, Jobs, Forstall e a equipe passaram a discutir qual seria a “próxima grande coisa”, o produto que engoliria o iPod e tomaria o mundo, e a resposta estava bem clara: o telefone celular. Mas os smartphones nos bolsos daqueles executivos e engenheiros eram péssimos e ofereciam uma experiência de uso terrível.

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Então, relembrou Forstall, veio o clique na cabeça do gênio: talvez fosse possível pegar aquele projeto de tablet e diminuí-lo até que ele coubesse num bolso. O resto é história.

A entrevista do engenheiro, de resto, joga luz em algumas histórias divertidas ou curiosas da época de desenvolvimento do iPhone. Por exemplo, em uma certa ocasião, Jobs e Forstall foram a Las Vegas apresentar um protótipo do iPhone a Stan Sigman, então CEO da Cingular Wireless (operadora que tinha a exclusividade do aparelho à época do seu lançamento e logo em seguida foi fagocitada pela AT&T) no lendário hotel Four Seasons. Forstall estava preocupado que o sinal de celular falhasse, então preferiu usar o Wi-Fi do hotel para a demonstração — mas aí veio o problema: o acesso era pago e havia a possibilidade do sistema de cadastro não funcionar no dispositivo. O engenheiro, então, ligou para o hotel disfarçado de executivo da Cingular e, tendo em vista que era impossível liberar a conexão somente para aquele aparelho (sobre o qual ele não podia dizer nenhuma informação, naturalmente), convenceu a administração a tornar o Wi-Fi gratuito para todos os usuários.

Comparação entre iOS 6 e iOS 7
À esquerda, o iOS 6, o último liderado por Forstall; à direita, o iOS 7, o primeiro com design guiado por Jony Ive

Em um breve ponto da entrevista, Forstall ainda falou sobre o esqueumorfismo, paradigma de interface defendido por ele e Jobs — e totalmente renegado pela Apple após a saída do primeiro e morte do segundo. Aparentemente, o engenheiro não fazia ideia do que a palavra significava e a ouviu pela primeira vez na própria entrevista (!), mas as razões para o seu emprego no início do iOS são compreensíveis: de acordo com ele, a interface do iPhone tinha que ser “fotoilustrativa, metafórica, empática”. Forstall “não amava”, segundo palavras suas, toda parte do sistema, mas o design funcionou, segundo ele (e, quanto a isso, acho que nenhum de nós pode negar).

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No geral, Forstall pareceu falar dos seus anos na Apple com muita simpatia e, inegavelmente, as suas palavras soam como as de alguém que sabia muito bem o que estava fazendo (ainda que nem todos concordassem com as suas ideias). Dito isso, é impossível não perceber uma pergunta pairando no ar: o que será que haveria de diferente na Maçã, hoje, se ele tivesse permanecido por lá?

Certamente, de um ponto de vista visual, muita coisa. Mas num aspecto mais amplo, de atitude e linhas de produto, arrisco dizer que as coisas também seriam deveras distintas — se para melhor ou pior, nunca se sabe.

Uma coisa é certa: Forstall garantiu não estar trabalhando em nada relacionado à tecnologia no momento, mas em nenhuma parte da entrevista afirmou estar aposentado do ramo. Então… será que algum dia as gigantescas portas da “espaçonave” do Apple Park estariam abertas para ele?

via AppleInsider

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