É hoje: depois de um anúncio para lá de um controverso, de um pedido de desculpas que provou ser apenas um adiamento e das atualizações para pior de dois dos principais clientes da rede, as polêmicas mudanças na API do Twitter finalmente começam a entrar em vigor. Com isso, o passarinho basicamente mata a funcionalidade de aplicativos célebres como o Tweetbot e o Twitterrific, o que, obviamente, está causando revolta em uma parcela dos seus usuários.
Para (tentar) arrefecer os ânimos da comunidade, o Twitter postou um texto em seu blog oficial, assinado pelo diretor sênior de soluções em dados empresariais Rob Johnson, falando com um pouco mais de franqueza sobre o assunto. O problema é que… bom, eles não vão mudar de ideia, aparentemente.
Johnson explica que a ideia é “oferecer a melhor experiência do Twitter” em seus apps oficiais e no website:
Nós sentimos que a melhor experiência do Twitter que podemos oferecer hoje está nos nossos aplicativos para iOS e Android, bem como no
twitter.com
no desktop e nos dispositivos móveis. Nós acreditamos nisso há muito tempo — estivemos focados em entregar a melhor experiência para nossos apps e websites por anos. Novos recursos e melhorias de configuração (muitos dos quais só são possíveis em aplicativos próprios do Twitter) incluem:
- Melhor organização de tweets para mitigar comportamento de trolls;
- Controle mais agressivo das nossas diretrizes durante transmissões ao vivo;
- Formas mais rápidas de encontrar tweets e vídeos relevantes;
- Navegação consistente e contagem de engajamento em tweets em tempo real;
- Controle sobre seus dados;
- Suporte melhorado a acessibilidade;
- Controles sobre notificações e DMs.
O executivo então explica que, para focar nessas melhorias, foi necessário tomar a decisão de tirar da tomada o suporte a ferramentas para desenvolvedores que permitiam o funcionamento dos clientes de terceiros. Ele acrescenta que a rede é grata pelos desenvolvedores que construíram esses aplicativos ao longo dos anos e que os usuários ainda poderão utilizar esses apps com “alterações mínimas” (eu não diria que a perda de notificações e acesso às DMs é uma “alteração mínima”, mas quem sou eu para falar).
Johnson afirma ainda que, para profissionais ou usuários avançados que precisem de ferramentas especializadas na administração e uso do Twitter, a rede continuará investindo no TweetDeck, o cliente apenas para desktops com vários dos recursos que os demais apps acabaram de perder — mas que não existe para mobile e não agrada uma parte dos usuários.
O conteúdo do texto postado abertamente no blog do Twitter se resume a isso, mas em uma carta interna para os empregados da rede obtida pelo TechCrunch, Johnson se prolonga um pouco mais sobre as razões para as mudanças, citando a instabilidade econômica da empresa e um esforço que não valeria a pena continuar implementando. Como afirma o executivo:
Agora é a hora de tomar a difícil decisão de retirar o suporte a essas APIs antigas — sabendo que alguns aspectos desses apps [de terceiros] se degradariam como consequência. Hoje, nós estamos encarando limitações técnicas e da ordem dos negócios que não podemos ignorar. As APIs de User Streams e Site Streams que permitiram o funcionamento de recursos desses clientes estiveram em beta por mais de nove anos, e foram construídas por cima de tecnologias que nós não mais suportamos. Nós não estamos mudando as regras, ou decidindo “matar” os clientes de terceiros, mas estamos matando, por conta de uma necessidade operacional, algumas das APIs antigas que possibilitam o funcionamento de alguns recursos desses clientes. E não é uma opção realista para nós hoje investir na construção de um novo serviço para substituir essas APIs, que são usadas por menos de 1% dos desenvolvedores do Twitter.
Ele cita ainda que, desde o início da rede do passarinho, o incentivo geral sempre foi que desenvolvedores construíssem soluções que não imitassem a experiência central do Twitter, e sim se baseassem em expansões e enriquecimentos dessa experiência — ou seja, basicamente um “nós avisamos”. Johnson afirma ainda que a empresa está monitorando constantemente a hashtag #BreakingMyTwitter
, utilizada por usuários revoltados com a mudança, para entender a insatisfação das pessoas e oferecer as melhores alternativas possíveis para elas.
Em todo esse palavrório, Johnson e o Twitter não citam uma das razões fundamentais para a mudança da API, que é o dinheiro gerado pela publicidade exibida nos canais oficiais da rede. Como bem se sabe, clientes de terceiros não exibem propagandas ou tweets promovidos e permanecem com a estrutura em ordem estritamente cronológica que tornou a rede do passarinho tão famosa, o que não é mais um modelo sustentável para uma empresa que vai tão mal das pernas financeiramente falando — seria bom, então, que ao menos eles fossem honestos em relação a isso.
O desenvolvedor Dave Verwer falou algo interessante sobre isso no próprio Twitter, em resposta ao cofundador da Panic, Cabel Sasser:
Even better, extend the API to include promoted tweets and enforce policies around their display. I know the display of promoted tweets is much more complex in terms of when, where and to whom they get displayed which is probably why they don’t.
— Dave Verwer (@daveverwer) 16 de agosto de 2018
Cabel: Pergunta séria. Isso é obviamente a razão de o Twitter não querer clientes de terceiros… e é justo! Mas por que eles simplesmente não dizem? “Nós precisamos ganhar dinheiro” é tão simples mas eles fazem de tudo para não dizer isso. Certamente a frase não incomodaria os investidores, e (alguns) usuários (talvez) se simpatizassem, certo?
Verwer: Ainda melhor, eles poderiam estender a API para incluir tweets promovidos e instituir políticas sobre suas exibições. Eu sei que a exibição de tweets promovidos é muito mais complexa em termos de quando, onde e para quem eles são mostrados, o que explica o fato de eles não terem feito isso.
Por enquanto, as coisas continuam como foram anunciadas. É triste, pois — pessoalmente falando — o Twitter é a minha rede social favorita e não gosto de imaginar um mundo em que ela seja largada às traças, como o Orkut, por conta de decisões erradas. Vamos ver onde tudo isso vai dar…