Dezenas de empresas de tecnologia, incluindo Apple, Amazon, Facebook e Google, se uniram para condenar a discriminação contra transexuais em face das ações da atual administração federal dos Estados Unidos sobre o direito de reconhecimento dessas pessoas no país, conforme publicado pelo The New York Times.
A nova definição essencialmente erradicaria o reconhecimento federal de cerca de 1,4 milhão de americanos que optaram por se reconhecer — cirurgicamente ou não — pelo gênero diferente daquele em que nasceram.
As empresas enviaram uma carta que, apesar de endereçada para a administração de Trump, não cita o nome do presidente dos EUA. As companhias escreveram que “se opõem a quaisquer esforços administrativos e legislativos para apagar a proteção de pessoas transexuais através da reinterpretação de leis e regulamentos existentes”.
A carta, assinada também por Microsoft, Intel e Nike, acrescenta ainda que “as pessoas transexuais são nossos queridos familiares e amigos, e nossos valiosos membros de equipe. O que prejudica as pessoas trans também prejudica nossas empresas”.
A discussão tomou corpo após a notícia do NYT, divulgada em outubro passado, quando o jornal veiculou que a administração de Trump estava considerando definir o sexo como “imutável” e determinado pelas genitálias de uma pessoa ao nascer. Tal questão deixaria os transexuais fora da existência legal e removeria suas proteções sob o Título IX, que proíbe a discriminação sexual.
Confira a seguir uma tradução livre da carta assinada pelas empresas de tecnologia.
Nós, as empresas abaixo assinadas, defendemos as milhões de pessoas na América que se identificam como transgênero, gênero não-binário ou intersexual, e pedimos que todas essas pessoas sejam tratadas com o respeito e a dignidade que todos merecem.
Opomo-nos a quaisquer esforços administrativos e legislativos para eliminar as proteções de transgêneros através da reinterpretação das leis e regulamentos existentes. Também nos opomos fundamentalmente a qualquer política ou regulamento que viole os direitos de privacidade daqueles que se identificam como transgênero, gênero não-binário ou intersexo.
Nas duas últimas décadas, dezenas de tribunais federais afirmaram os direitos e identidades das pessoas trans. Cientes do crescente consenso médico e científico, os tribunais reconheceram que as políticas que obrigam as pessoas a uma definição binária de gênero, determinada pela anatomia do nascimento, não refletem as complexas realidades da identidade de gênero e da biologia humana.
Reconhecendo que a diversidade e a inclusão são boas para os negócios e que a discriminação impõe enormes custos de produtividade (e exerce encargos indevidos), centenas de empresas, incluindo as abaixo assinadas, continuarão a expandir a inclusão de pessoas transexuais em toda a América corporativa.
Atualmente, mais de 80% das empresas da Fortune 500 têm proteções claras de identidade de gênero; dois terços têm cobertura de saúde inclusiva transgênero; centenas têm grupos de recursos de negócios LGBTQ+, conselhos de diversidade e grupos de recursos de negócios.
Pessoas transexuais são nossos queridos familiares e amigos e nossos valiosos membros da equipe. O que prejudica as pessoas transexuais prejudica nossas empresas.
Nós clamamos por respeito e transparência na formulação de políticas e pela igualdade perante a lei para pessoas transgêneras.
Paralelamente a essa manifestação, mais de 1.600 cientistas assinaram uma carta aberta na qual afirmaram questões semelhantes, dizendo que “essa proposta [do governo americano] é fundamentalmente inconsistente não apenas com a ciência, mas também com as práticas éticas, com os direitos humanos e com a dignidade básica”.
via Axios