Os detalhes do já histórico acordo entre a Apple e a Qualcomm são, até o momento, desconhecidos: não sabemos sequer qual das duas empresas saiu “por cima” no acordo. Tudo indica, entretanto, que foi a gigante de microchips que ficou com a vantagem — basta ver essa estimativa do analista Timothy Arcuri, da UBS.
De acordo com uma nota de Arcuri obtida pela CNBC, a Apple teria pago entre US$5 e US$6 bilhões à Qualcomm para encerrar todas as disputas entre as duas empresas — um sinal claro de que a Maçã sentiu que sua narrativa no imbróglio estava erodindo e que a balança provavelmente penderia para o lado da rival nas decisões judiciais.
As estimativas do analista são baseadas na atualização das previsões da Qualcomm para os seus próximos resultados financeiros: a empresa anunciou que espera, agora, um aumento de US$2 por ação no fechamento do trimestre.
Na previsão de Arcuri, o acordo também trouxe um benefício extra para a gigante dos microchips: daqui pra frente, a Apple pagará entre US$8 e US$9 à Qualcomm por cada iPhone vendido — um aumento significativo em relação aos US$7,50 estabelecidos anteriormente e um bom aumento em relação aos US$5 por aparelho que eram previstos para esse acordo.
Apple volta ao jogo
Os parágrafos acima podem dar a entender que a Apple saiu perdendo com força na conciliação — e, de um ponto de vista puramente financeiro, a Maçã realmente deve ter sofrido um abalo considerável no cofrinho. Um relato publicado recentemente pela Bloomberg, entretanto, traz uma outra perspectiva à história toda.
Segundo a reportagem, a Apple estaria ao menos cinco anos atrás da Qualcomm no desenvolvimento de modems 5G — isto é, considerando a saída da Intel do mercado e a improbabilidade da Maçã de firmar acordos com outras fornecedoras, a gigante de Cupertino poderia passar meia década quebrando a cabeça tentando construir um chip próprio, enquanto toda a concorrência já estaria colocando smartphones 5G no mercado.
A questão é que o modem, como informa a matéria, é uma das peças mais complexas de se desenvolver dentro de um smartphone: é necessário levar em conta uma infinitude de frequências e padrões de comunicação de centenas de países, trazer suporte a padrões de comunicação anteriores (como o 3G e o 4G) e, por cima de tudo, construir soluções que não exijam demasiadamente da bateria dos aparelhos ou dos seus processadores. Não é bolinho.
A Qualcomm leva uma vantagem extrema nisso porque já tem a expertise necessária e as instalações requeridas para os testes relacionados; a empresa também está adiantada porque já está trabalhando no desenvolvimento da tecnologia 5G há anos — ao contrário da Apple, que ainda está engatinhando nesse mundo.
Com o acordo entre as rivais, portanto, a Apple volta ao jogo e fica numa posição mais confortável: Tim Cook e sua turma podem ter gastado uma nota para apaziguar os ânimos da Qualcomm, mas a quantia poderá ser facilmente recuperada pondo iPhones 5G no mercado antes do esperado e atraindo consumidores que, de outra forma, poderiam migrar para o lado do Android. Era uma jogada necessária, no fim das contas.