
Acharam que a semana especial de novidades da WWDC tinha acabado? Bom, oficialmente a conferência está terminando hoje, mas ainda temos muitos assuntos a tratar — como por exemplo esse bate-papo entre John Gruber, um dos jornalistas mais respeitados do mundo Apple, e duas figuras da Maçã: Craig Federighi, vice-presidente sênior de engenharia de software, e Greg Joswiak, vice-presidente de marketing de produtos da empresa.
Os executivos foram recebidos por Gruber no Talk Show Live at WWDC, um evento realizado anualmente pelo jornalista logo após a keynote de abertura da conferência. Em pauta, como não poderia deixar de ser, a avalanche de novidades apresentadas na última segunda-feira.
Mac Pro e Pro Display XDR
Naturalmente, o grosso da discussão girou em torno do único (e impressionante) hardware apresentado na keynote: o novo Mac Pro e o Pro Display XDR. Falando sobre o design único das perfurações na frente e na traseira do computador (e na traseira do monitor), Joswiak afirmou que a equipe de design da Apple “tinha que criar algo especial”, mas sem especificar detalhes.
Sobre as rodinhas opcionais para o Mac Pro, mencionadas brevemente na keynote, Federighi não revelou quanto elas custarão ou como será seu funcionamento; o executivo só fez piada que o preço variará de acordo com o número de rodas e a Apple oferecerá parcelamentos especiais para o adicional. (Talvez no Brasil não seja uma má ideia, Craig.)
Os executivos falaram também sobre a tecnologia embarcada no modelo Nano-Texture do Pro Display XDR — que, segundo eles, tem uma técnica para evitar reflexos nunca antes vista na indústria. Como afirmou Joswiak:
Os painéis foscos comuns refletem uma espécie de brilho. Esse [a nano-textura] é um processo diferente de tudo o que a indústria já fez, é um processo incrível que inventamos. O Pro Display XDR padrão tem uma camada anti-reflexiva de ponta.
O melhor que temos hoje no mercado custa US$43.000. O que é impressionante é que esse monitor de referência só mantém o brilho máximo por um período de tempo muito curto. Em segundos, ele fica com a tela âmbar e diz que você não pode mais confiar na imagem. Nós superamos isso por pouco mais que um décimo do preço.
iOS/iPadOS 13
Os executivos falaram também sobre as novidades nos novos sistemas operacionais móveis da Maçã. Sobre a decisão de “separar” o iOS com uma versão específica para o iPad, Federighi notou que a diferença de nomenclatura é primeiramente uma questão de marketing — mas a equipe de engenharia concorda plenamente com a mudança.
Apesar de ser uma coisa da equipe de marketing, o pessoal da engenharia concordou muito com a criação do iPadOS. Nós estamos nessa trajetória com o iPad desde o início, codesenvolvendo com esse hardware incrível. O que você quer fazer com um dispositivo que tem essas características? Coisas como a Split View ou o Slide Over e o Apple Pencil. E aí você começa a ver a Apple e os desenvolvedores avançarem sobre essa experiência. […] Nós sentimos que tínhamos cruzado um ponto onde era simplesmente bobo dizer que o sistema do iPad não era uma coisa separada.
O executivo falou também sobre os novos gestos adicionados ao iPadOS, afirmando que as ações cobertas por eles (como selecionar texto, copiar, colar e desfazer) eram alguns dos aspectos que ainda eram mais fáceis no Mac. Com as novidades, usuários podem realizá-los tão facilmente no tablet quanto no computador — bastando ter uma breve curva de aprendizagem para se acostumar.
Projeto Catalyst e SwiftUI
Sobre a plataforma unificada para criação de aplicativos para macOS e iOS/iPadOS, Federighi enfatizou que o projeto é feito para simplificar o trabalho dos desenvolvedores, mas não necessariamente transformará os apps do Mac em uma versão dos apps para iPad sem nenhuma mudança.
É um framework completamente nativo e nós temos uma série de controles para que você construa uma experiência própria. Se você só marcar opção “Mac” [no Xcode], você terá um grau de “Mac-ificação”. Você não precisa reescrever o código inteiro para fazer isso — é possível ter um só código-base e uma só equipe de desenvolvimento. […] Quando nós lançamos os primeiros apps usando o Catalyst, algumas pessoas ficaram preocupadas com o foco que estávamos dando na tecnologia, mas aquelas foram decisões de design que tomamos. Eram decisões de diferentes equipes expandindo fronteiras do que é o futuro do design focado em mídia. Acho que nós estamos encontrando um equilíbrio nesse sentido, voltando atrás em algumas áreas. E a tecnologia por debaixo de tudo foi melhorada.
Sobre o novo framework de desenvolvimento SwiftUI, Federighi declarou que “a maneira como as pessoas se expressam em linguagem de programação deve ser tão bem-pensada quanto as formas como você interage com algo”, notando que o desenvolvimento da plataforma só é possível por conta da criação da Swift — as vantagens de ter sua própria linguagem, não é mesmo?
Privacidade
Joswiak falou sobre o botão “Sign in with Apple”, mas desviou da pergunta quando questionado sobre a obrigatoriedade que os desenvolvedores terão de incluí-lo quando quiserem adicionar botões de login rápido em seus aplicativos. O executivo preferiu defender a camada extra de segurança e a privacidade trazida pelo recurso:
Você quer transparência e controle. Na situação atual desses botões, não há transparência. As pessoas não têm ideia das informações que estão fluindo por aquele toque. Nós queríamos oferecer essa transparência e esse controle. […] Na ocasião de um app incluir essas formas de login, nós devemos oferecer esse método mais seguro de se autenticar.
O executivo lembrou ainda que a Apple já era uma grande defensora da privacidade “antes de isso ser popular”, afirmando que a questão está no cerne da filosofia da empresa — ao contrário de outras companhias, que adotaram essa defesa recentemente só para construir uma imagem positiva.
Keynotes
Por fim, um detalhe que não tem a ver especificamente sobre as novidades anunciadas na WWDC19, mas é interessante da mesma forma: os executivos conversaram um pouco sobre a forma como as keynotes da Apple são planejadas.
Segundo Joswiak, o projeto inicial das apresentações é muito maior do que a duração que se vê no palco, e a empresa vai “editando” a coisa toda até chegar ao formato mais sucinto sem deixar de ser revelador e completo. Federighi, particularmente, é um exímio apresentador de keynotes, com um ritmo muito próprio. Como afirmou Jos:
Quando a gente começa a planejar essas keynotes, elas têm três horas. Nós tentamos manter tudo abaixo das 2h15. Temos que planejar quantos slides criamos e nós mapeamos todos os apresentadores para estimar quantos slides eles apresentam por minuto. O mais rápido, de longe, é Craig. No ápice dele, ele fazia nove slides por minuto. Agora, que ele está ficando velho, ele faz uns sete.
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O bate-papo completo de John Gruber com os executivos da Maçã pode ser assistido — em inglês — aqui.