Ah, a Cellebrite. A empresa israelense causou terremotos no mundo tecnológico com suas técnicas para desbloquear iPhones ou smartphones Android — levantando, com isso, diversas discussões sobre os limites da privacidade e o poder que órgãos governamentais/policiais teriam para invadir aparelhos de indivíduos suspeitos em investigações de crimes.
A notícia mais recente da firma veio em junho deste ano, quando a Cellebrite anunciou um novo produto, chamado UFED Premium — um dispositivo que permitiria a extração de dados de iPhones e de outros aparelhos. Com ele, as agências governamentais poderiam invadir os smartphones por conta própria, sem sequer enviá-los para a empresa; bastaria conectar os dispositivos ao UFED para transpassar seus métodos de proteção, mais ou menos como funcionava a famigerada GrayKey.
O que nós não sabíamos é que, muito antes desse anúncio, o tal do UFED Premium não só já existia como já estava em pleno uso. Foi o que revelou uma reportagem, publicada hoje no OneZero, que fala sobre as práticas de invasão de dispositivos na Polícia de Nova York e nas agências governamentais da cidade.
De acordo com as informações apuradas pela matéria, o Escritório do Promotor Distrital de Nova York tem usado um dos dispositivos da Cellebrite desde janeiro de 2018, um ano e meio antes do anúncio da firma israelense, para desbloquear smartphones iOS e Android. O órgão teria concordado em pagar, ao longo de três anos, cerca de US$200.000 na licença, instalação e treinamento relacionados ao UFED Premium — o contrato ainda faz referência a outro US$1 milhão em “investimentos adicionais”, mas não se sabe se o Escritório de fato pagou por esses serviços extras.
O defensor público Jerome Greco, que teve o aparelho de um dos seus clientes interceptado pela polícia de Nova York e desbloqueado pelo Escritório para investigações, classificou o caso como preocupante: “Como alguém atento em relação ao estado de vigilância cada vez maior, eu penso que é preocupante que as agências legais tenham acesso a esse tipo de poder.”
A Cellebrite recusou-se a comentar o caso, e o Escritório do Promotor Distrital de Nova York afirmou que não discute as técnicas investigativas do órgão. Ainda não está claro, também, se o dispositivo UFED Premium foi de alguma forma atualizado para desbloquear iPhones rodando o iOS 13 — até a última notícia sobre isso, o aparelho era capaz de acessar até a versão 12.3.x do sistema.
via Cult of Mac