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Tim Cook defende remoção de app usado nos protestos de Hong Kong e é contestado

Usuários veem incongruências e informações incorretas na justificativa do CEO
Anthony Kwan/Getty Images
Protestos em Hong Kong

De alguns dias para cá, a Apple se viu envolvida numa enorme polêmica do outro lado do mundo, quando baniu, restaurou e depois baniu novamente um aplicativo da App Store chinesa que, segundo o governo do país, estava sendo utilizado por protestantes em Hong Kong para monitorar a ação policial no território. Os primeiros passos dessa história estão registrados nesse artigo, mas agora a controvérsia chegou até mesmo ao chefão da Maçã.

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A Bloomberg obteve um memorando de Tim Cook, distribuído a todos os empregados da Apple, no qual o CEO defendeu a decisão da empresa de retirar o HKmap.live da App Store. No texto, que já tinha sido parcialmente divulgado ontem à noite, Cook afirma que essas escolhas “nunca são fáceis”, mas que informações confiáveis indicaram que o app estava sendo usado para facilitar atos direcionados de violência a policiais — o que levou a empresa a tirá-lo da loja.

Traduzimos, abaixo, a íntegra do memorando:

Equipe,

Vocês certamente viram a notícia de que nós tomamos a decisão de remover da App Store um app chamado HKmap.live. Essas escolhas nunca são fáceis, e é mais difícil ainda discutir esses assuntos durante momentos de debates públicos furiosos. Pelo grande respeito que eu tenho ao trabalho que vocês fazem todos os dias, eu quero compartilhar os passos que seguimos para tomar essa decisão.

Não é nenhuma novidade que a tecnologia pode ser usada para o bem e para o mal — e nesse caso não é diferente. O app em questão permitia que pessoas compartilhassem informações de presença policial, localização de protestos e outros dados. Por si só, essas informações são benignas. Ao longo dos últimos dias, entretanto, nós recebemos informações confiáveis do Departamento de Cibersegurança e Crimes Tecnológicos de Hong Kong e de usuários locais, afirmando que o aplicativo estava sendo usado maliciosamente para agredir policiais individualmente e vitimizar pessoas e propriedades em locais onde a polícia não estava presente. Com isso, o app estava em desacordo com a lei de Hong Kong. Da mesma forma, esse abuso claramente viola nossas diretrizes da App Store que impedem o uso dos apps para violência pessoal.

Nós construímos a App Store para ser um lugar seguro e confiável para todos os usuários. É uma responsabilidade que levamos muito a sério, e algo que trabalhamos para preservar. Debates nacionais e internacionais se prolongarão para muito além das nossas vidas e, ainda que importantes, não ditam os fatos. Nesse caso, nós analisamos cuidadosamente a situação, e acreditamos que nossa decisão protege os usuários da melhor forma.

A atitude da Apple, como era de se esperar, foi elogiada por Pequim. O porta-voz do Ministério de Relações Exteriores da China, Geng Shuang, afirmou que os eventos recentes em Hong Kong são “atos extremos de violência, que desafiam as regras de lei e ordem e ameaçam a segurança dos cidadãos locais”, adicionando que todos deveriam se opôr a tal violência em vez de apoiá-la.

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As reações ao memorando de Cook, entretanto, foram compreensivelmente mistas — e acompanhadas de várias expressões de contestação. Uma das mais contundentes veio de um usuário anônimo do HKmap.live, que apontou incongruências e informações incorretas no texto do CEO. Você pode ler a thread inteira (em inglês), publicada pelo Pinboard, aqui; abaixo, destacamos alguns dos pontos principais.

A primeira afirmação é de que “o app estava sendo usado maliciosamente para agredir policiais individualmente”. Isso não faz sentido algum. O app não mostra a localização de policiais individuais. Ele mostra as concentrações gerais de unidades policiais, com um atraso significativo.
A segunda afirmação, relacionada à primeira, é que o app ajudava a “vitimizar pessoas e propriedades em locais onde a polícia não estava presente”. De novo, o Sr. Cook tem alguma evidência para declarar isso? O app não mostra a ausência da polícia; ele mostra concentrações policiais, gás lacrimogênio, bandeiras de protesto, etc.
O Sr. Cook diz que o aplicativo está violando as leis de Hong Kong, mas nem ele nem ninguém na Apple especificou que leis são essas. Em uma coletiva, hoje, as autoridades de Hong Kong também não conseguiram fazê-lo, e redirecionaram todas as perguntas sobre o assunto para a Apple.

Outros usuários do Twitter fizeram coro aos questionamentos anônimos, citando uma incongruência entre as posições progressistas de Cook e sua instância nesse caso específico. Os desenvolvedores do próprio HKmap.live também se manifestaram, afirmando que o app nunca promoveu ou encorajou atividades criminosas.

A discussão, como citado pelo próprio CEO, vai longe — o inegável é que a Apple se meteu numa sinuca de bico e terá de ter muito jogo de cintura para sair da situação sem uma imagem arranhada. Acompanhemos, portanto, as cenas dos próximos capítulos.

via 9to5Mac

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