De uns anos para cá, várias fabricantes têm adotado, em seus produtos e sistemas operacionais, filtros de luz azul — a Apple foi uma das pioneiras nesse sentido, implementando o Night Shift no iOS 9.3 (e, posteriormente, no macOS Sierra).
A ideia do recurso é simples: ele faz com que a tela dos dispositivos reduza a emissão de luz com tonalidade azulada à noite (ou num horário configurado pelo usuário), deixando os painéis mais amarelados e com tons mais quentes. Segundo estudos, isso tem um impacto positivo sobre as funções cerebrais, especialmente o sono, já que — teoricamente — a luz azul é mais associada ao dia e, portanto, deixa o corpo mais “desperto”.
Um novo estudo da Universidade de Manchester, entretanto, chegou para questionar esse “quase-consenso” e colocar um ponto de interrogação na efetividade do Night Shift e de outros recursos semelhantes. As informações são do The Guardian.
O estudo, conduzido pelo Dr. Tim Brown e publicado na revista científica Current Biology, foi realizado em ratos e trouxe alguns achados interessantes. De acordo com Brown, a influência da luz de telas no ritmo circadiano e no sono está mais relacionada ao nível de brilho do que de fato a cores e tonalidades de luz emitidas por elas; de qualquer forma, considerando telas no mesmo nível de brilho, a luz azul seria mais benéfica ao sono do que a amarela.
Brown explica que, por décadas, a comunidade científica acreditou nos benefícios da luz amarela por conta da melanopsina, uma proteína sensível à luz encontrada nos olhos de certos animais (como os seres humanos) que ajuda na regulação do relógio biológico. A melanopsina detecta fótons de ondas curtas (como o azul) com mais efetividade; por isso, esses tons teriam mais influência no ritmo circadiano e nos padrões de sono. Segundo Brown, entretanto, a melanopsina não é o único elemento com influência nisso: os cones da retina também agem na regulação do relógio biológico — e com uma influência muito maior da luz amarela.
O cientista afirma que há uma correlação entre esses achados e as cores naturais dos diferentes períodos do dia: o pôr do sol, por exemplo, tem tons predominantemente azulados e arroxeados, o que colocaria o corpo num estado naturalmente predisposto ao sono. É por isso, por exemplo, que as companhias aéreas iluminam as aeronaves com uma fraca luz azul (e não amarela) durante a noite — para estimular o sono dos passageiros.
Obviamente, estamos falando apenas de um estudo realizado com ratos contra décadas de pesquisas e achados científicos. Ainda assim, a descoberta de Brown abre caminho para outros estudos no ramo e serve para questionarmos suposições que julgávamos ser verdadeiras — que é a função da ciência, no fim das contas.
De qualquer forma, um consenso se mantém: a melhor forma de melhorar o seu sono e não afetar seu ritmo circadiano é evitar completamente o uso de telas nas horas que antecedem o horário de dormir. Eu sei que é difícil nos dias atuais, mas vale a tentativa, não é mesmo?
via 9to5Mac